Médico desenha uniforme para tornar cirurgias um processo menos caótico
Se você já passou por alguma cirurgia, deve saber como uma sala de operações pode ser confusa. Os cirurgiões também acham esse ambiente caótico. Basta perguntar, por exemplo, a alguém como Joseph Dearani, que é diretor de cirurgia cardíaca congênita pediátrica e de adultos da Mayo Clinic.
"A cirurgia envolve muitos instrumentos, além de tubos e linhas, o que torna o ambiente cirúrgico – um espaço físico de apenas quatro ou cinco metros quadrados – muito tumultuado", ele explica. "É muito comum que os instrumentos sejam colocados no lugar errado, fiquem presos nas cortinas ou escondidos atrás de alguma coisa."
Nos últimos dois anos, Dearani tem trabalhado em um avental cirúrgico capaz de melhorar o andamento e a eficiência das cirurgias. Para isso, bastou um simples ajuste de design: acrescentar bolsos.
Ele criou um avental descartável com mangas longas e que cobre até as panturrilhas. Diferentemente dos uniformes cirúrgicos tradicionais, esse avental contém dois compartimentos grandes no peito, além de um bolso menor no meio, todos cuidadosamente desenhados para manter a esterilidade e guardar os instrumentos cirúrgicos usados com mais frequência.
Por vários motivos, Dearani foi a pessoa certa para inventar esse novo equipamento. Ele é um renomado cirurgião cardiovascular, além de ser pesquisador da área médica focado especialmente na melhoria da eficiência das cirurgias. "A etiqueta e a conduta da cirurgia têm um grande impacto sobre a eficiência da operação, bem como sobre os resultados", explica.
Mas ele também tem uma experiência que muitos outros cirurgiões não têm: Dearani já trabalhou como mecânico em uma oficina. Ele se lembra de como era prático vestir um macacão cheio de bolsos para guardar as ferramentas mais usadas, para não precisar voltar à caixa de ferramentas toda hora. E se perguntava: por que os cirurgiões não têm acesso a uniformes com bolsos?
O desenvolvimento de novos produtos nem sempre precisa se ater a dispositivos médicos sofisticados.
"Com o aprimoramento da ciência médica, agregamos mais tecnologia à cirurgia, mas isso significa que ficou mais difícil manter o controle sobre todas as ferramentas que usamos. Os bolsos foram uma solução óbvia."
Ele levou essa ideia à Mayo Clinic Ventures, o braço de desenvolvimento comercial da clínica. Ele trabalhou com a equipe para registrar patentes e, em seguida, levaram a ideia para a Cardinal Health, que trabalhou para garantir que o avental atendesse a todos os padrões necessários para se qualificar como um equipamento médico aprovado pela FDA.
O objetivo dos bolsos era poder armazenar as ferramentas usadas com mais frequência, que tendem a ser pequenas, incluindo itens como bisturis, fórceps (que se parecem com pinças) e tesouras. Nenhuma dessas ferramentas é afiada demais, portanto não rasgariam a roupa, contaminando-a. Mas a colocação dos bolsos precisou ser muito bem planejada.
Se ficassem muito altos na frente, os cirurgiões poderiam acidentalmente tocar o rosto ao retirar os instrumentos. Ou, se ficassem muito baixos, poderia ser difícil acessá-los durante a cirurgia.
SIMPLES E EFICIENTE
Além disso, havia a questão do tamanho. Se os bolsos fossem muito grandes, poderia ser difícil acessar facilmente a ferramenta, mas, se fossem muito pequenos, ela poderia não caber. Se fossem muito profundos, os cirurgiões teriam que remexer para encontrá-las, mas se fossem muito rasos, as ferramentas poderiam simplesmente cair.
Após muitos testes e protótipos, a equipe chegou a um projeto com dois bolsos em cada lado do peito. Eles são inclinados em um ângulo específico, de modo que, quando o cirurgião remove uma ferramenta, é pouco provável que ela encoste no seu rosto.
O objetivo dos bolsos era poder armazenar as ferramentas usadas com mais frequência, que tendem a ser pequenas.
Há também um terceiro bolso, mais fino e mais profundo, bem no meio, que é perfeito para ferramentas muito usadas, como tesouras ou fórceps. "Esse uniforme foi projetado para todas as especialidades cirúrgicas", diz Dearani.
Talvez o mais importante seja o fato de ser uma solução bem simples, mas que pode melhorar a eficiência e os resultados dos pacientes. "Quando pensamos na possibilidade de queda de instrumentos e nas chances de contaminação cruzada, essa é uma ótima solução, que mantém a esterilidade e protege os pacientes e os médicos de forma eficaz", comenta Kelley Moffett, vice-presidente sênior de produtos globais da Cardinal Health.
O desenvolvimento desse avental demonstra como soluções simples e de baixo custo podem, às vezes, ter um impacto enorme. "O desenvolvimento de novos produtos nem sempre precisa se ater a dispositivos médicos sofisticados", diz Moffett.
"Alguns dos produtos mais simples são essenciais para o atendimento. Não precisamos nos contentar com os equipamentos básicos que já existem; tudo pode ser aprimorado."