A Whirlpool tem um plano ambicioso: reinventar o conceito de geladeira
Graças a uma nova tecnologia isolante, a empresa promete fabricar refrigeradores com portas mais finas e com mais espaço interno
O design, o tamanho e até mesmo a posição das geladeiras estão prestes a mudar para sempre. A Whirlpool Corp. (dona, no Brasil, das marcas Brastemp, Consul e KitchenAid) acaba de criar uma nova forma de isolamento térmico para refrigeradores que pode aumentar consideravelmente sua capacidade e reduzir o consumo de energia.
Isso abre oportunidades para que as geladeiras ganhem novos formatos e aparências e para que elas evoluam, deixando de ser uma espécie de caixa enorme atravancando sua cozinha.
A nova tecnologia é chamada SlimTech e substitui a espuma espessa de poliuretano e o plástico que formam as paredes e as portas de quase todas as geladeiras do mercado. Ela é composta por uma estrutura de isolamento a vácuo que contém uma fina camada de pó comprimido selado dentro de paredes de aço.
As portas que usam SlimTech podem ser até 60% mais finas do que as de refrigeradores comuns e devem aumentar a capacidade interna em 25%. Em outra versão, modelos SlimTech um pouco mais espessos poderiam melhorar tanto o controle da temperatura interna que o consumo de energia cairia pela metade.
O presidente e CEO da Whirlpool Corporation, Marc Bitzer, considera essa tecnologia como uma mudança radical na forma como os refrigeradores são projetados e fabricados. "Essa é uma das maiores inovações em refrigeração dos últimos 50 anos", declarou.
Depois de mais de seis anos de desenvolvimento, 180 patentes e dezenas de milhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento, os primeiros refrigeradores que utilizam a nova tecnologia começarão a ser produzidos no início de 2024, para a marca de luxo JennAir. A Whirlpool Corporation espera apresentar uma delas na Consumer Electronics Show, em janeiro.
Vale a pena dar o contexto histórico dessa nova tecnologia. Quase todos os refrigeradores construídos desde a década de 1960 dependiam de espuma e de plástico para isolar o interior e manter o gabinete frio, de acordo com o engenheiro da Whirlpool, Paul Allard. Ele vem trabalhando na SlimTech há anos e diz que a SlimTech revolucionará o conceito de geladeira. "É completamente diferente", afirma.
Os refrigeradores atuais têm paredes com cinco centímetros de espessura. A SlimTech reduz essa espessura para dois centímetros. E, como o isolamento é vedado em uma estrutura de aço, ele pode ter linhas mais retas e ângulos mais agudos do que o plástico moldado que forma o interior de um refrigerador comum, aumentando a capacidade de 5 metros cúbicos para mais de 6 metros cúbicos. "Será um grande avanço poder usar o espaço da sua cozinha de forma mais eficiente", prevê Allard.
Bitzer diz que essa nova forma de isolamento térmico é uma inovação tanto de produto quanto de fabricação. A Whirlpool Corporation passou anos tentando descobrir como produzir novos tipos de portas e compartimentos de refrigeradores em fábricas que desde sempre foram otimizadas para a maneira antiga e consagrada de fabricar refrigeradores.
"Não se trata apenas de criar uma tecnologia. É preciso mudar as fábricas", diz Bitzer. "É simplesmente uma metodologia de produção diferente."
Os refrigeradores atuais têm paredes com cinco centímetros de espessura. A SlimTech reduz essa espessura para dois centímetros.
Somente a mudança necessária no processo de fabricação custou US$ 16 milhões e está concentrada em uma das fábricas menores da Whirlpool, em Ohio, nos EUA. Bitzer equipara a mudança a uma "cirurgia de coração com o peito aberto" e diz que levará algum tempo até que tais mudanças sejam feitas em fábricas maiores e de maior volume.
A empresa sempre soube que a mudança para essa nova tecnologia seria um processo longo. Mas, nos últimos seis ou sete anos, houve momentos de dúvida sobre se todo esse esforço e despesa valiam a pena. "É muito dinheiro e o retorno do investimento é demorado", diz ele.
No início, a SlimTech pretende deixar as geladeiras mais espaçosas ou mais eficientes em termos de energia. No entanto, com o tempo, Bitzer diz que essa nova forma de isolamento pode alterar radicalmente a aparência dos refrigeradores e a maneira como os usamos.
Ele prevê que aparelhos menores serão usados por toda a casa, para resfriar itens como medicamentos ou cosméticos. "No futuro, acho que começaremos a pensar nas geladeiras como se fossem móveis", diz ele. "Ninguém mais usa aquelas portas e laterais grandes e desajeitadas na mobília. Poderíamos pensar em refrigeradores distribuídos por toda a casa."
O SlimTech terá uma estreia modesta na forma de um refrigerador convencional de 76 cm de largura em estilo de armário, com preço na mesma faixa de outros modelos similares.
Bitzer espera que a produção de equipamentos com essa tecnologia chegue a milhares. Em comparação, as diversas marcas da Whirlpool produzem entre 15 e 20 milhões de refrigeradores por ano. Há planos para integrar a tecnologia à marca de médio porte KitchenAid, mas ainda não há um cronograma definido.
Bitzer sabe que os primeiros refrigeradores que usam a SlimTech darão prejuízo, mas vê o projeto como uma forma de evitar a estagnação de uma empresa que existe há 112 anos. " Nós temos várias apostas. Algumas darão certo, outras não. Esta, estou convencido de que dará certo."