2023 foi o ano mais quente registrado até agora. 2024 pode ser ainda pior

Temperaturas mais elevadas também resultaram em numerosos desastres, incluindo incêndios florestais, inundações e chuvas intensas

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Adele Peters 3 minutos de leitura

Em novembro, quando o índice de calor no Rio de Janeiro atingiu 50ºC, uma jovem de 23 anos morreu durante um show de Taylor Swift depois de esperar do lado de fora e enfrentar um calor infernal também dentro do estádio.

Centenas de pessoas na multidão desmaiaram. Por toda a cidade, milhões tiveram que suportar o calor sem ar-condicionado. O verão nem tinha começado, mas já era a oitava onda de calor do ano.

Isso foi apenas um dos muitos eventos extremos de calor pelo mundo em 2023. No Arizona (EUA), onde a temperatura ultrapassou os 40ºC por 31 dias consecutivos neste verão, pelo menos 579 mortes na cidade de Phoenix foram relacionadas ao calor.

Na China, onde uma vila atingiu a temperatura recorde de 52ºC em julho, os líderes alertaram que o calor poderia ameaçar a segurança alimentar do país. Na Índia, o calor extremo fechou algumas escolas por mais de uma semana.

Na Grécia, as altas temperaturas foram seguidas por centenas de incêndios florestais. No Brasil, a Amazônia enfrenta uma seca histórica, enchentes castigam a região Sul e o fogo, após  uma breve trégua, voltou a ameaçar o Pantanal.

Crédito: Edmar Barros/ AP Photo

Entre janeiro e novembro, as temperaturas médias globais foram 1,46ºC mais altas do que a média do final do século 19, de acordo com o Serviço de Mudanças Climáticas da União Europeia, Copernicus. Setembro foi 1,75ºC mais quente.

Os novos recordes foram impulsionados pelas mudanças climáticas, mas tornaram-se mais extremos devido ao fenômeno El Niño, um padrão climático que torna o clima ainda mais quente.

O EFEITO EL NIÑO

Temperaturas médias mais altas também contribuíram para numerosos outros desastres. No Canadá, as mudanças climáticas mais que dobraram a probabilidade dos incêndios florestais que queimaram 185 mil quilômetros quadrados – uma área maior que todo o estado da Flórida –, afetando a qualidade do ar em grandes áreas dos Estados Unidos.

Na Líbia, onde represas desmoronaram e mataram milhares em setembro, as mudanças climáticas tornaram as chuvas torrenciais 50 vezes mais prováveis e 50 vezes mais intensas. No sul da Flórida, onde partes do oceano ficaram tão quentes quanto uma banheira de hidromassagem, os recifes de coral morreram em massa.

No ano que vem, o mundo pode estar ainda mais quente. "Acho que há uma boa chance de que 2024 seja ainda mais quente do que este ano, em parte porque o El Niño pode ser mais influente por mais tempo, mas também porque a tendência de aquecimento de longo prazo continua", diz o cientista climático Daniel Swain.

Crédito: Harry Lee/ Coral Vita

É possível que 2024 ultrapasse o limiar de 1,5ºC de aquecimento global. O serviço meteorológico nacional do Reino Unido prevê que as temperaturas médias globais estarão entre 1,34ºC e 1,58ºC acima da média da era anterior ao uso generalizado de combustíveis fósseis.

Isso não significa que vamos ultrapassar de uma hora para outra o objetivo mais ambicioso do Acordo de Paris sobre o clima – limitar o aquecimento global a 1,5ºC – porque os cientistas climáticos observam a temperatura média ao longo de vários anos, não apenas em um único ano.

Os novos recordes foram impulsionados pelas mudanças climáticas, mas tornaram-se mais extremos devido ao El Niño

O limiar de 1,5ºC não é um número mágico: 1,2ºC ou 1,3ºC de aquecimento global, onde estamos agora, já é obviamente ruim. Mas cada fração de grau de aquecimento nos aproxima de pontos críticos catastróficos, como o colapso de calotas de gelo e o derretimento do permafrost, tornando mais prováveis eventos como calor extremo e inundações.

À medida que o mundo trabalha para reduzir as emissões, também teremos que andar mais depressa para nos adaptar – desde ajudar os agricultores a lidar com a seca até projetar casas resistentes a furacões – para enfrentar a realidade das mudanças climáticas que já estão aqui.


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais