O melhor caminho para subir na carreira não é linear: é em zigue-zague

As melhores carreiras exigem assumir riscos e a busca por um sentido maior

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Judith Humphrey 4 minutos de leitura

Com certeza você não foi a única pessoa que começou o ano com a meta louvável de subir mais um degrau na carreira. Mas não se iluda, acreditando no mito de que uma trajetória de carreira bem-sucedida é sempre uma linha reta. 

Para muita gente, a ascensão exige movimentos ousados rumo a novas áreas. É preciso coragem para construir uma carreira assim, sem necessariamente saber aonde ela vai dar.

A minha foi toda construída me lançando em cenários que eu nunca poderia ter imaginado. O que estou sugerindo é que você talvez devesse fazer o mesmo.

INÍCIO DA CARREIRA

É sensato começar sua carreira com base na educação e no preparo que recebeu. A maioria de nós começa usando as habilidades que adquiriu na universidade ou em outro ambiente educacional. Esse é o seu ponto forte e, provavelmente, vai determinar seu primeiro emprego.

Me formei em literatura inglesa e assumi um cargo de professora na York University, em Toronto. No início, era estimulante, mas, depois de oito anos, me deparei com um impasse. Perdi o cargo de diretora de um programa de escrita que eu tinha desenvolvido e decidi me afastar do meio acadêmico.

Emily He, ex-vice-presidente de gerenciamento de capital humano da Oracle, afirma que essas mudanças de emprego são frequentes entre os jovens trabalhadores. "Os universitários de hoje terão passado por uma dúzia ou mais de empregos quando chegarem aos 30 anos", ela prevê.

ENCONTRAR UM AJUSTE MELHOR

O ideal é que, em algum momento, você encontre uma área que te entusiasme e inspire. Eu me voltei para o mundo dos negócios, sabendo pouco sobre o assunto, mas pensando que devia existir muita gente que precisava do tipo de treinamento em comunicação que eu ensinava na universidade.  

É preciso muita coragem para desapegar da trajetória de carreira que você imaginou no início. E é preciso coragem para começar a fazer networking para um emprego fora da esfera com a qual você está acostumado. Mas eu fiz isso porque vi oportunidades nesse novo contexto.

Os universitários de hoje terão passado por uma dúzia ou mais de empregos quando chegarem aos 30 anos.

Liguei para o chefe de RH de uma grande empresa de tecnologia no Canadá e, surpreendentemente, consegui falar com ele por telefone. Conversamos e ele marcou uma entrevista para mim com um vice-presidente da empresa.

Fazer networking em uma nova área é importante, e você não pode ser tímido se quiser entrar em um novo território. Consegui o emprego e passei a ganhar um salário cinco vezes maior do que o que recebia na universidade. Aprendi que o zigue-zague também pode ser lucrativo.

DESENVOLVER NOVAS HABILIDADES

Meus anos na área de negócios foram tão preciosos quanto meu tempo de graduação e pós-graduação. Eles proporcionaram novas perspectivas, que levaram a novas ideias sobre o que eu poderia fazer em seguida.

Eu tinha experiência em comunicação, e meu novo chefe me ensinou a preparar discursos. Ele se tornou um mentor muito importante. É bom lembrar que os líderes estão ávidos por "aprimorar as habilidades" das pessoas que eles acham que são candidatas adequadas para uma função.

Meu novo emprego consistia em escrever discursos para o CEO. Pelos oito anos seguintes, trabalhei como redatora de discursos em quatro empresas. Aprendi sobre a mentalidade da comunidade empresarial e sobre os desafios que os executivos enfrentavam.

Descobri que muitos altos executivos queriam minha ajuda com seus discursos. Nem todos eles podiam se dar ao luxo de ter um redator exclusivo. Vi nessa lacuna uma oportunidade de empreendedorismo.

Ao longo dos meus últimos três anos como funcionária, comecei a planejar a empresa que abriria. Quando estava com um plano pronto, zigue-zagueei em direção a essa oportunidade ainda maior: o empreendedorismo.

CONSTRUÇÃO DE UMA EMPRESA

Se você tem uma grande ideia e planejou direitinho, tudo o que resta a fazer é ir em frente. Depois de testar meu conceito dando alguns cursos, lancei o The Humphrey Group para oferecer treinamento em comunicação executiva para meus ex-colegas da C-Suite e outros líderes de nível C.

Nunca tinha me imaginado como uma empresária, mas é isso que o caminho em zigue-zague faz: proporciona novas perspectivas sobre nós mesmos. Ele permite que você construa uma carreira com a qual jamais poderia ter sonhado.

É preciso muita coragem para desapegar da trajetória de carreira que você imaginou no início.

Minha empresa foi bem-sucedida desde o início. Os executivos que eu conhecia do meu último emprego tornaram-se meus primeiros clientes. Eles contaram aos amigos sobre o treinamento, e esse foi o início do nosso sucesso.

Não se preocupe se em sua nova função tudo parecer estranho. Isso é o que acontece quando você zigue-zagueia para alcançar novos patamares. Liderei a companhia por quase 35 anos. Tínhamos um negócio global e lidávamos com diversas empresas da Fortune 500. Agora, meu filho dirige a empresa.

A beleza do zigue-zague é que é impossível planejar uma carreira que seja tão gratificante quanto a que a gente cria dessa forma não linear.


SOBRE A AUTORA

Judith Humphrey é fundadora do The Humphrey Group, empresa de comunicações de liderança com sede em Toronto. saiba mais