Abrir mão é também um sim
Eu tenho um bloco de Carnaval desde 2017 e isso diz muito sobre mim. O Bloco do Apego nasceu de uma vontade de fazer festa na rua, de poder discotecar em cima de um trio elétrico cercada de amigos.
Desde 2019, surgiu também o Baile do Apego, uma festa como de antigamente, todo mundo fantasiado, confete e serpentina, concurso de fantasia e tudo o que merecemos.
Sempre disse que fazer Carnaval resolvia meu problema de ego. Ser aplaudida por uma pequena multidão já me deixava feliz para o ano todo, nem precisava de mais nenhum afago.
Mas, em 2024, vou pular (literalmente) meu Carnaval. Por que? Porque não consigo pensar em fazer isso este ano. E decidir não fazer um projeto vitorioso é difícil demais.
Não é mentira que foram algumas centenas de mensagens de "Coooooomo assim?", mas eu preciso olhar para mim e isso é ainda mais complexo. O que eu quero? O que eu dou conta de fazer?
E dizer "este ano, eu não dou conta" foi a primeira lição de 2024. Lidar com a frustração dos outros é ruim, mas a minha própria é um inferno. Mas é o que temos para hoje.
E como faz para lidar com isso? Eu realmente não sei, nunca tinha acontecido. Eu sou da turma do "vamo? vamo!". É tudo novo, é como namoro novo, sabe? Você ainda não sabe se pode ligar de madrugada para dizer que ama. E eu não conheço essa Cristina que não faz tudo que tem vontade. Digo que sou uma sortuda, a vida sorri demais pra mim.
Mas o Carnaval sempre foi sobre alegria e afeto, ele foi feito assim por mim desde sempre. Mas eu tinha uma dupla para fazer isso que este ano não estará mais comigo e eu resolvi que, sozinha, não quero fazer.
Crie menos obrigações e mais comemorações. Celebre todo dia, toma aquele champanhe numa terça à noite, só porque sim.
Posso arranjar outras diversões carnavalescas, posso ir ao Camarote da Arara na Sapucaí (aliás, recomendo profundamente a experiência de ver o recuo da bateria na avenida), posso acordar às seis da manhã para ver um bloco oculto e tomar café com gliter, posso abraçar estranhos e pular dançando Tieta. Posso, inclusive, fazer nada e ir para o mato.
Mas isso demanda me olhar, e se olhar é das coisas mais tretas que conheço. Essa Cristina vai ficar feliz sem Apego? Talvez meu coração sinta muita falta quando eu olhar alguém em cima do primeiro trio que vir na rua. Mas talvez eu só fique feliz de poder ir embora a hora que me der vontade, sem ter que pensar.
Meu convite carnavalesco aqui é: pensa menos, se diverte mais em 2024. Cria menos obrigações e mais comemorações. Celebra todo dia, toma aquele champanhe numa terça à noite, absolutamente ordinária, só porque sim.
Tô falando com você, mas é também para mim. Vamos tentar?