Este é o primeiro prédio de Nova York a funcionar com eletricidade “limpa”
Os arquitetos que planejaram o edifício explicam como desenvolveram o projeto
Quando for inaugurado, no segundo semestre de 2024, este prédio de 44 andares no bairro do Brooklyn, em Nova York, dará uma visão de como serão os edifícios do futuro. Ele vai funcionar exclusivamente com eletricidade, sem queima de combustíveis fósseis no local.
Será o primeiro prédio na cidade a funcionar de forma totalmente “limpa”. Em um mundo onde fogões e sistemas de aquecimento a gás ainda são muito comuns (principalmente no hemisfério norte), essa abordagem consciente parece estar anos à frente do seu tempo.
Mas, de acordo com a desenvolvedora do projeto, tirá-lo do papel não foi tão difícil quanto se poderia imaginar. Foi apenas uma questão de reduzir a demanda de eletricidade do prédio e depois encontrar os equipamentos certos para fornecer energia de maneira consistente, sem depender de nada além da rede elétrica.
O projeto foi concebido pela Alloy Development, uma empresa de desenvolvimento imobiliário composta principalmente por arquitetos. Com foco voltado para a sustentabilidade, ela busca alcançar a neutralidade de carbono em seus empreendimentos.
A torre faz parte de um projeto de desenvolvimento no qual a Alloy vem trabalhando há oito anos. Desde o início, eles decidiram que as 440 unidades do edifício seriam alimentadas apenas por eletricidade, mesmo que o caminho para alcançar isso não estivesse totalmente claro na época.
Eles perceberam que a produção de energia renovável no local, a eficiência energética e os eletrodomésticos nas unidades eram todos esforços de sustentabilidade interligados.
Reduzir o consumo geral de energia por meio desses caminhos interconectados permitiria que o prédio fosse alimentado exclusivamente por eletricidade. Uma vez estabelecida a solução, só precisavam descobrir como implementá-la.
“O principal desafio de engenharia era fornecer água quente”, explica Jared Della Valle, CEO da Alloy Development. A quantidade de água quente necessária para 440 unidades não é insignificante e os equipamentos para aquecê-la são geralmente enormes – e dependem da queima de gás.
Para utilizar equipamentos alternativos movidos a eletricidade, os arquitetos tiveram que reduzir a demanda de água quente do prédio, o que se mostrou uma solução mais direta.
“A melhor maneira de alcançar resultados sustentáveis ou eficiência [energética] é por meio de envelopes de construção de alto desempenho”, diz Della Valle. Paredes externas mais bem isoladas e janelas com vidro triplo se mostraram uma forma eficaz de diminuir as demandas energéticas do prédio.
“Quanto menos se precisa de ar-condicionado e aquecimento, menos energia se gasta como um todo. Dessa forma, conseguimos reduzir o tamanho dos nossos sistemas e fornecer água quente e energia suficientes para satisfazer essas demandas”, afirma Della Valle.
Desde a concepção inicial do edifício, muita coisa mudou. Novas leis e regulamentações estão afastando a indústria da construção das práticas convencionais e levando-as a investir em designs e tecnologias que reduzem ou eliminam as emissões de carbono.
Mas há mudanças também no comportamento do consumidor. A tendência de cozinhar com eletricidade em vez de gás contribuiu para a redução da energia necessária para o prédio.
Isso permitiu à Alloy criar apartamentos com eletrodomésticos altamente eficientes que não dependem de gás. “O mercado está caminhando para a preferência pelo cozimento por indução”, observa ele. Cada unidade conta com um cooktop elétrico.
Quando o prédio foi idealizado, Della Valle acreditava que era possível, mesmo que não fosse fácil. Cerca de cinco anos depois, as condições de mercado, regulamentações e ferramentas para tornar isso realidade estão se tornando cada vez mais acessíveis.
Mas ele argumenta que isso vai além de meras circunstâncias favoráveis. Dada a longa vida útil dos edifícios, arquitetos e desenvolvedores precisam planejar seus projetos considerando as condições do futuro.
“Estamos construindo um prédio para durar pelo menos 100 anos. Não podemos tomar decisões com base no contexto de agora. Precisamos considerar o contexto futuro.”