Plot twist: na guerra do streaming, a vitória, afinal, é da Netflix

Sob pressão de Wall Street, plataformas como Max, Paramount+ e até mesmo Disney+ começaram a licenciar seu conteúdo para a Netflix

Crédito: Giordano Rossoni/ Unsplash

James Surowiecki 3 minutos de leitura

A guerra do streaming chegou ao fim, e a Netflix saiu vitoriosa. Isso fica evidente no último relatório de lucros da empresa, que mostrou que a plataforma ganhou 13 milhões de novos assinantes no último trimestre do ano passado, gerando mais de US$ 5 bilhões em receita em 2023.

Outro sinal, menos óbvio, mas igualmente revelador, do domínio da Netflix no mercado de streaming surgiu quando foi divulgado que o serviço incluirá em seu catálogo “Sex and the City”, uma das séries de maior sucesso da HBO, proprietária do Max – supostamente um de seus concorrentes de maior peso.

Este é o mais recente de uma série de acordos de licenciamento que deram à empresa acesso a algumas das propriedades mais populares de suas plataformas rivais. Agora, se você quiser assistir a filmes da DC como “Batman” ou “Aquaman”, ou séries da HBO como “Band of Brothers” e “Ballers”, não precisa mais assinar o HBO Max. Basta adicioná-los à sua lista na Netflix.

Isso representa uma enorme mudança no modelo de negócios que predominava há apenas alguns anos, quando serviços de streaming como HBO Max e Disney+ acreditavam que conteúdo exclusivo era uma das únicas maneiras de se destacar nesse mercado.

Bob Iger, CEO da Disney, afirmou em 2022 que licenciar seus principais produtos para um concorrente seria como “vender tecnologia de armas nucleares para um país do Terceiro Mundo” e depois vê-los usá-la contra você.

Crédito: HBO

Portanto, quem quisesse assistir ao conteúdo da HBO, “Duna” ou filmes da DC, precisava assinar o HBO Max, assim como para assistir a “Star Wars”, filmes da Pixar ou do Universo Cinematográfico da Marvel precisava pagar pelo Disney+.

Mas isso foi em uma época em que empresas como a HBO Max ainda sonhavam em tirar a Netflix do topo do mercado de streaming, e quando Wall Street dava mais liberdade financeira às plataformas.

As margens de lucro com licenciamento são altas, pois o conteúdo já foi produzido.

Nos últimos anos, as coisas mudaram radicalmente. Empresas de mídia agora enfrentam uma pressão muito maior para mostrar lucratividade (ou pelo menos que estão perdendo menos dinheiro). E a Netflix – o único serviço de streaming inegavelmente lucrativo – consolidou sua liderança no mercado.

Como resultado, muitos de seus concorrentes, incluindo HBO Max, Paramount (dona do Paramount+), NBC Universal (dona do Peacock) e, em alguns casos, a Disney, decidiram que a melhor estratégia agora seria licenciar seu conteúdo para o maior player da indústria.

Crédito: Marvel Studios

É compreensível. As margens de lucro com licenciamento são altas, pois o conteúdo já foi produzido. Assim, esses acordos aumentam consideravelmente os resultados financeiros. Além disso, aumenta também o número de pessoas que podem assistir às produções, o que é bom para os criadores, e, teoricamente, pode ajudar a impulsionar a demanda por produtos futuros.

O problema é que, apesar de garantir receitas e lucros a curto e médio prazo, dar à Netflix acesso ao seu conteúdo a torna mais atraente para os usuários, o que ajuda a expandir sua base de assinantes e reduzir a rotatividade. Além disso, faz com que o serviço de streaming dessas próprias empresas se torne menos exclusivo – provavelmente reduzindo seu valor a longo prazo.

Isso não significa que esses acordos sejam necessariamente um erro. Mas não deixa de ser uma admissão de derrota, um sinal de que plataformas como a HBO Max perderam as esperanças de vencer a Netflix. Portanto, a melhor estratégia é, de certa forma, se unir a ela.

Crédito: Netflix

Não é coincidência que os licenciamentos estejam caminhando em uma única direção: outros serviços de streaming vendem seu conteúdo para a Netflix, enquanto a própria Netflix não compartilha seu conteúdo com ninguém.

Mas não é como se os concorrentes estivessem licenciando todo o seu catálogo – as pessoas ainda precisam assinar o HBO Max para assistir a “Succession” ou “The White Lotus”. A Disney também mantém a exclusividade de suas propriedades mais valiosas.

Mas a principal mensagem que esses acordos passam é inegável: o mundo do streaming é da Netflix. Todos os outros apenas vivem nele.


SOBRE O AUTOR

James Surowiecki é jornalista e escritor, autor de "A Sabedoria das Multidões". saiba mais