Como Maria McManus conseguiu criar uma marca de luxo sem impactar o planeta
Seus casacos e suéteres podem até custar caro, mas vêm com uma garantia rara: uma cadeia de suprimentos totalmente sustentável e rastreável
Hoje em dia, todas as marcas – de H&M a Prada – fazem propaganda de suas práticas sustentáveis.
A estilista Maria McManus presenciou muitos desses esforços. Porém, durante duas décadas ocupando cargos de chefia na Ralph Lauren, Club Monaco e Rag & Bone, ficou frustrada com o fato de as marcas lançarem somente produtos individuais ou coleções-cápsula sustentáveis.
Esses projetos recebem muita atenção da imprensa, mas não geram o tipo de impacto que ela gostaria de alcançar. "Ninguém estava efetivamente integrando a sustentabilidade à estratégia geral nem implantando melhorias em seus procedimentos desde o início do cronograma de desenvolvimento dos produtos", lembra a empresária.
Há cinco anos, McManus decidiu começar a trabalhar por conta própria. Em 2020, lançou sua marca, com a qual teve a liberdade de priorizar, desde o primeiro dia, a sustentabilidade da cadeia de suprimentos.
A nova marca foi um sucesso, tornando-se queridinha entre formadores de opinião como Christy Turlington, Gwyneth Paltrow e Jennifer Lawrence.
Na Semana de Moda de Nova York, encerrada na quarta-feira (14 de fevereiro), McManus apresentou sua última coleção em um desfile de moda repleto de peças clássicas com um leve diferencial: trench coats com drapeados volumosos na parte de trás e vestidos simples com várias alças.
Ao criar sua empresa, a estilista aprendeu quanto esforço e tempo são necessários para fabricar produtos de forma ética na complexa cadeia de suprimentos global da moda.
Apesar das dificuldades, conseguiu criar uma coleção totalmente rastreável e feita com tecidos sustentáveis – tudo isso sem deixar de faturar. Agora, quer provar ao restante do setor que é possível criar um negócio bem-sucedido que priorize o planeta.
O QUE SIGNIFICA MODA SUSTENTÁVEL
Por ser uma veterana da indústria da moda, McManus entende por que é tão difícil para as grifes reformular suas cadeias de suprimentos para torná-las mais sustentáveis.
Criar peças de vestuário com uma pegada ambiental menor exige tempo, esforço e mais dinheiro. Seus casacos e suéteres podem até custar caro, mas vêm com uma garantia rara: uma cadeia de suprimentos totalmente sustentável e rastreável
McManus lançou sua própria marca justamente para não precisar lidar com as pressões relacionadas aos custos que sentia em outras empresas.
Ao mapear suas prioridades, ela incluiu a garantia de que todos os trabalhadores envolvidos na cadeia de suprimentos – até os agricultores – recebessem um salário justo. Também queria reduzir o desperdício por meio da fabricação em pequenas quantidades.
A parte mais complexa do processo foi encontrar tecidos menos poluentes, como algodão orgânico, cashmere reciclado e botões feitos de plástico biodegradável. Como logo percebeu, muitos fornecedores garantem a sustentabilidade de seus materiais, mas é difícil saber se estão dizendo a verdade.
McManus espera que todas as fábricas e tecelagens parceiras tenham certificações de terceiros a respeito de tudo, desde as condições de trabalho até a forma como os materiais são feitos. Mesmo assim, ela descobriu que, às vezes, essas certificações podem ser enganosas.
Há um ano, ela comprou tecido de lã de uma fábrica certificada de acordo com o Responsible Wool Standard (RWS), que garante que as ovelhas sejam criadas de forma humanitária. Mas depois descobriu que a certificação se aplicava apenas à fábrica, não à lã em si. Isso foi muito preocupante, principalmente porque várias outras grifes de bilhões de dólares estavam usando lã dessa fábrica e anunciando que ela era certificada pelo RWS.
Levou tempo para McManus detectar esse erro e se esforçar para corrigi-lo, de modo que os lotes futuros de lã fossem certificados até as fazendas. Para ela, isso demonstra que trabalhar em prol da sustentabilidade é um processo de melhoria contínua.
Agora, seu foco é fazer a transição para fibras cultivadas de forma regenerativa. No entanto, fazer isso corretamente levará tempo, em parte porque as certificações relacionadas à agricultura regenerativa ainda estão engatinhando.
"Leva muito tempo até mesmo para saber quais perguntas fazer", diz ela. "Depois você precisa verificar o que as tecelagens estão dizendo, porque algumas nem sempre são honestas."
A SUSTENTABILIDADE É UM LUXO
Maria McManus atua diretamente no mercado da moda de luxo. Um trench coat de sua última coleção custa cerca de US$ 2 mil; um vestido custa cerca de US$ 1 mil; e os suéteres custam US$ 500. Está claro que a marca tem como alvo um consumidor muito rico.
Os consumidores de luxo, que têm mais renda disponível, podem desempenhar um papel importante para ajudar a impulsionar o setor da moda em direção a um futuro mais sustentável, aponta Federica Marchionni, CEO da ONG Global Fashion Agenda, cujo foco é fazer da indústria da moda um agente para o bem da sociedade.
Ao optar por marcas que priorizam o meio ambiente, eles não estão apenas adquirindo uma peça de roupa mais sustentável, mas também investindo em uma cadeia de suprimentos mais ética e ajudando os fornecedores sustentáveis a crescer.
McManus sonha em ir além da bolha da moda de luxo e causar um impacto mais amplo. Ela espera um dia fazer parceria com alguma marca do mercado de massa, para levar seus produtos ecologicamente responsáveis a um público muito maior.