A bandeira da Antártica agora tem pontos coloridos – e por um motivo nada bom
Ela foi redesenhada para dar um alerta importante sobre o descarte de plástico
Provavelmente você imagina a Antártica como uma planície de gelo cristalino, coberta por neve pura e praticamente intocada pelo homem. É exatamente assim que sua bandeira – desenhada por Graham Bartram para um atlas no início dos anos 90 – retrata o continente: um mapa branco, intocado, sobre um fundo azul claro.
Mas, na realidade, dentro da neve da Antártica há minúsculas partículas de plástico – um sinal de que o flagelo da poluição plástica já chegou a uma das regiões mais remotas do mundo.
Agora, Bartram lançou um novo visual para a bandeira, como parte de um apelo à mobilização para exigir um Tratado Global sobre Plásticos que reduza o consumo desse material.
No novo desenho, a Antártica não é mais branquinha e intocada. Seu contorno é preenchido com pequenos pontos coloridos que representam os microplásticos que poluíram o mundo.
A bandeira redesenhada faz parte de uma campanha da Agenda Antarctica, uma organização não governamental que trabalha na preservação ambiental do continente e do oceano Antártico.
"A Antártica é o nosso último bastião de natureza selvagem intocada. Mesmo assim, enfrenta o problema generalizado da poluição plástica", afirma o site da campanha. "Os microplásticos se infiltraram na neve, nos peixes, nos pássaros e na água do mar nessa região intocada."
A Agenda Antarctica tem como objetivo obter assinaturas em uma petição exigindo um Tratado Global de Plásticos que limite a produção de plástico virgem, invista em infraestrutura de reciclagem, reduza as embalagens descartáveis e exija uma quantidade mínima de conteúdo reciclado em novos produtos.
Por meio das Nações Unidas, 175 países concordaram em desenvolver esse tratado e atualmente estão negociando seus termos. Espera-se que as negociações durem até 2024.
A nova bandeira é fundamental para transmitir essa mensagem. "As bandeiras são um tipo especial de símbolo", observa Bartram. No final das contas, as pessoas podem até dizer que são apenas um pedaço de pano, mas elas são capazes de representar uma nação inteira".
Como a Antártica não tem um órgão governamental, também não tem uma bandeira oficial. Bartram criou a sua para um programa de atlas digital publicado pela Electronic Arts. Depois disso, seu desenho ganhou popularidade – é usado, por exemplo, para o emoji da bandeira da Antártica.
O design repaginado foi baseado em pesquisas reais. Em um estudo de 2022, especialistas da Universidade de Canterbury, na Nova Zelândia, detalharam a primeira evidência de microplásticos na neve da Antártica.
Analisando a neve recém-caída na Ilha Ross, eles encontraram uma média de 29 partículas de microplástico por litro de neve derretida. Essa quantidade é maior do que a encontrada na água do Mar de Ross e no gelo marinho da Antártica em estudos anteriores.
Esses minúsculos pedaços de plástico, menores que um grão de arroz, eram em sua maioria PET, um tipo de plástico usado em garrafas de bebidas, embalagens de alimentos e roupas. Eles possivelmente viajaram milhares de quilômetros pelo ar ou foram deixados por seres humanos das bases de pesquisa no continente.
Outros estudos catalogaram a poluição dos microplásticos: eles foram encontrados em todo o oceano, no Ártico, em áreas selvagens protegidas e no topo do monte Everest. Estão nas garrafas de água, em vegetais, animais – incluindo os pinguins da Antártica – e pairando no ar. Carregam consigo toxinas prejudiciais ao meio ambiente e à saúde.
Mas, apesar de estarem por toda parte, os microplásticos são difíceis de visualizar por serem minúsculos – às vezes, invisíveis a olho nu. Uma imagem ampliada dos microplásticos precisa estar tão próxima que não conseguiria mostrar, ao mesmo tempo, a região onde esses fragmentos foram encontrados.
"A bandeira é uma forma muito mais simples e honesta de representar o problema, pois não se está tentando enganar ninguém dizendo que a Antártica é realmente assim", diz Bartram. "Você está apenas destacando a importância de um símbolo que antes era branquíssimo e que, agora, está sendo corrompido por esses plásticos coloridos."
Bartram espera que seu ativismo via design estimule discussões e atitudes em relação ao problema da poluição plástica. "Talvez consigamos fazer com que uma corrente de pessoas diga 'basta, precisamos fazer algo a respeito disso'", ele torce.
Essa também é a esperança da Agenda Antarctica. "A poluição plástica tem uma única origem: nossas práticas de consumo", diz o site da campanha. "A solução? Mudar nosso estilo de vida. Todos somos responsáveis por proteger nosso único planeta, para nós e para as gerações futuras. A pureza e o ecossistema único da Antártica contam com você."