Niterói usa mosquitos “modificados” para combater a propagação da dengue

Mosquitos são infectados com uma bactéria chamada Wolbachia, que consegue interromper a transmissão da doença

Crédito: Mailson Pignata/ iStock

Diarlei Rodrigues e Diane Jeantet 3 minutos de leitura

Desde que o Rio de Janeiro declarou estado de emergência em saúde pública após um surto de dengue no mês passado, a cidade ampliou a capacidade de testagem, abriu uma dúzia de centros de atendimento emergencial e treinou profissionais médicos para atender as crescentes necessidades da população.

Mas do outro lado da Baía de Guanabara, em Niterói, a situação é diferente. Com cerca de meio milhão de habitantes, a cidade teve apenas 403 casos suspeitos de dengue este ano e sua taxa de incidência per capita é uma das mais baixas do estado, com 69 casos confirmados a cada 100 mil pessoas. Em comparação, a cidade do Rio tem uma taxa de incidência de 700 por 100 mil pessoas, com mais de 42 mil casos.

O vírus da dengue é transmitido entre humanos por mosquitos infectados. Mas um tipo de bactéria chamada Wolbachia pode interromper a transmissão da doença. Um programa piloto lançado em Niterói em 2015, no qual cientistas criam mosquitos para transportar a bactéria Wolbachia, ajudou a cidade em sua luta contra a dengue.

A estratégia foi pioneira na última década, apoiada pelo programa sem fins lucrativos World Mosquito Program. Foi testada pela primeira vez na Austrália, em 2011, e o grupo desde então realizou ensaios em mais de uma dúzia de países, incluindo o Brasil.

A iniciativa oferece uma alternativa atraente em um momento no qual a agência de saúde da ONU alerta que os casos relatados de dengue aumentaram 10 vezes em 40 anos.

Agente de saúde da prefeitura de Niterói procura por criadouros do mosquito (Crédito: Bruna Prado/ AP)

Em Niterói, o prefeito Axel Grael disse que buscou ajuda após os surtos de dengue em 2012, quando houve milhares de notificações da doença e uma pessoa morreu.

A cidade firmou uma parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o World Mosquito Program e o Ministério da Saúde, e os casos vêm diminuindo desde então. "Foi um momento de grande preocupação no país e no Rio. Hoje, depois de aplicar a técnica da Wolbachia, temos resultados muito melhores”, afirma Grael.

De acordo com o pesquisador da Fiocruz Luciano Moreira, dezenas de municípios entraram em contato com autoridades municipais e nacionais, interessados em implementar o método Wolbachia.

Niterói teve apenas 403 casos suspeitos de dengue este ano e sua taxa de incidência per capita é uma das mais baixas do estado do Rio.

O Ministério da Saúde anunciou, no final do ano passado, planos para construir uma grande fábrica para criar mosquitos portadores de Wolbachia. Ao longo dos próximos 10 anos, a unidade será capaz de produzir 100 milhões de ovos por semana, 10 vezes a capacidade atual da Fiocruz.

A dengue é uma infecção viral transmitida aos humanos por mosquitos. Muitas das pessoas infectadas não desenvolvem sintomas, mas outras apresentam febre alta, dores de cabeça, dores no corpo, náuseas e manchas na pele.

Embora a maioria melhore após uma semana ou mais, alguns desenvolvem uma forma grave que requer hospitalização e pode ser fatal. As chuvas frequentes e as altas temperaturas, que aceleram a eclosão dos ovos de mosquito e o desenvolvimento de larvas, tornam o Rio especialmente suscetível à doença.

Apesar do baixo número de casos, a cidade de Niterói, bem como suas vizinhas, continua investindo pesado na prevenção.

Todos os dias, centenas de profissionais de saúde são enviados para inspecionar casas, ruas, telhados, áreas arborizadas, pequenos negócios e ferros-velhos para promover as melhores práticas, principalmente observando qualquer água parada onde os mosquitos poderiam depositar seus ovos.


SOBRE O AUTOR

Diarlei rodrigues e Diane Jeantet são repórteres da Associated Press. saiba mais