Você toparia ser substituído por uma IA em suas próprias redes sociais?

Nova extensão para o Chrome promete facilitar a interação nas redes sociais terceirizando as respostas para a IA

Créditos: Alexander Sinn/ Unsplash/ Yuuji/ iStock

Joe Berkowitz 4 minutos de leitura

Interagir com todos que fazem parte das nossas vidas exige esforço. Especialmente agora que as redes sociais trouxeram um número descomunal de pessoas para o nosso convívio.

Um novo aplicativo terceiriza para a IA o trabalho de engajamento nas plataformas. Mas usá-lo pode fazer com que você se sinta mais desconectado do que nunca.

Na semana passada, Nilan Saha, CTO do app de bem-estar Juna, compartilhou um vídeo de demonstração de seu mais recente projeto: Magic Reply.

Trata-se de uma extensão para o Chrome que usa inteligência artificial para gerar respostas instantâneas a postagens no X/ Twitter e LinkedIn. Mas se realmente soam como se tivessem sido escritas por um humano, como sugere a página inicial, é uma outra questão.

Criei um monstro. Interagir nas redes nunca foi tão fácil.

Saha se refere à extensão como uma “ferramenta de crescimento”, sugerindo que responder facilmente a inúmeras postagens aumentará o número de seguidores.

Como todo guia padrão de redes sociais recomenda, uma forma eficaz de incentivar outros a interagirem com você é interagindo primeiro com eles. Mas muitos usuários do X/ Twitter que comentaram no tuíte do vídeo parecem céticos sobre se essa tarefa pode ou deve ser terceirizada para a IA.

Decidi testar o Magic Reply para tirar minhas próprias conclusões.

UM POUCO SEM NOÇÃO

A primeira resposta que gerei foi para a postagem de Saha. “Uau, isso parece legal”, fui incentivado a dizer. “Mal posso esperar para ver o que você criou!”. O aplicativo pareceu não perceber que a publicação continha um vídeo ou não teve como avaliar seu conteúdo.

Embora essas respostas me fizessem soar como alguém um pouco lento na compreensão, elas foram redigidas de forma vaga o suficiente para provavelmente não levantar suspeitas de que foi escrita por uma IA.

A maioria das outras sugestões seguiu uma tática semelhante – frases positivas e empolgadas. Em resposta a uma postagem destacando um aspecto específico da amizade entre os atores Larry David e Richard Lewis na série de TV “Curb Your Enthusiasm” (Segura a Onda), o Magic Reply sugeriu: “a dinâmica entre Larry e Richard é ouro, sempre me faz rir”.

Respostas como essas podem passar por humanas, mas não acrescentam nada à conversa e muitas vezes desviam do foco. A verdade é que muitas pessoas respondem dessa maneira.

Mas, às vezes, as sugestões soavam artificiais. Um amigo no X/ Twitter estava empolgado com um artigo que citava o filme “Armagedon”, de 1998, e destacou um trecho em que o diretor Michael Bay finalmente falou sobre os infames comentários de Ben Affleck sobre o roteiro. 

O aplicativo parecia não entender qual parte do tuíte era mais relevante ou por quê, muito menos como eu poderia me sentir a respeito: “parece interessante, Michael Bay falando sobre os comentários de Ben Affleck. Vou dar uma olhada”. Se tivesse usado essa resposta, meu amigo poderia ter pensado que minha conta foi hackeada.

TEM ALGUÉM AÍ?

A falta de conexão entre a postagem e a resposta (e entre mim e a ideia da IA sobre mim) ficou mais evidente no LinkedIn, onde o conteúdo tende a ter um tom mais confiante e influenciador.

“Dizer que um estagiário pode gerenciar seu marketing nas redes sociais é como olhar para uma obra de arte moderna e falar ‘meu filho poderia pintar isso’”, dizia uma postagem no meu feed. A forma como o Magic Reply respondeu sugere que ele não entende comparações.

“É verdade, estagiários carecem de experiência e nuance, não são bons para mídias sociais”, foi a resposta recomendada. Parecia com um extraterrestre que odeia estagiários, incapaz de compreender a ironia de estar descrevendo outra pessoa como desprovida de “experiência e nuance”.

O objetivo principal do engajamento é criar afinidade, mas as respostas do Magic Reply parecem capazes apenas de lembrar outros da nossa existência. Todas elas poderiam muito bem ser: “ei, não se esqueça de que eu existo”. 

Mesmo que consiga gerar respostas “autênticas” e adicionar algo à conversa em versões futuras, ainda assim seria uma interação perturbadora e desonesta.

As respostas foram redigidas de forma vaga o suficiente para não levantar suspeitas de que foram escritas por uma IA.

Ser capaz de se mostrar interessante no X/ Twitter a ponto de as pessoas quererem ouvir mais de você é uma habilidade valiosa. Despejar respostas criadas por IA nas redes sociais não é apenas um golpe barato, é uma afronta ao real significado do conceito de engajamento.

Estamos avançando ainda mais em um terreno muito parecido com “Black Mirror”, terceirizando aspectos inteiros da comunicação para a tecnologia.

Por que não simplesmente contratar um bot para substituir todas as atividades nas mídias sociais – deixar as interações para a IA e se desconectar completamente das redes? Nossos bots poderiam fazer comentários sobre os eventos do dia e desejar uns aos outros “boa sorte na apresentação!”.

As redes sociais seriam um lugar muito barulhento, mas sem ninguém lá para ouvir.


SOBRE O AUTOR

Joe Berkowitz é colunista de opinião da Fast Company. saiba mais