Na noite do Oscar, a marca “Christopher Nolan” é a que mais deverá brilhar
Nolan se destaca em Hollywood como um diretor cuja marca supera suas produções
A temporada do Oscar sempre parece interminável, mas este ano parece ainda mais longa, especialmente quando a disputa pelo Melhor Filme está praticamente decidida desde julho. “Oppenheimer”, de Christopher Nolan, certamente levará para casa a estatueta na cerimônia que acontece neste domingo (dia 10 de março). O resto é apenas uma formalidade neste ponto.
Nos últimos meses, a impressionante cinebiografia sobre o conflituoso pai da bomba atômica, J. Robert Oppenheimer, tem derrotado concorrentes de peso em todas as premiações.
O longa de Nolan foi o grande vencedor do Globo de Ouro, Critics’ Choice Awards, National Board of Review Awards, Producers Guild of America Awards (PGA), Directors Guild of America Awards (DGA), American Film Institute Awards (AFI) e British Academy of Film and Television Arts Awards (BAFTA).
A questão, então, não é se “Oppenheimer” vai vencer, mas sim por que vai vencer. Como um filme de três horas sobre um físico teórico – no qual a diferença entre fusão e fissão é um ponto importante da trama – conseguiu arrecadar US$ 958 milhões em bilheteria global?
A resposta pode ser resumida em cinco palavras: “Um Filme de Christopher Nolan”.
Assim como Alfred Hitchcock nas décadas de 1950 e 1960, quando produziu clássicos como “Um Corpo que Cai”, “Intriga Internacional” e “Psicose”, Nolan se tornou não apenas um fenômeno de marca, mas um nome peculiar e duradouro com um apelo distinto entre os espectadores.
Embora Hitchcock fosse conhecido por preparar armadilhas de suspense e fazer participações rápidas e divertidas, também dirigiu filmes que foram extremamente populares e intelectualmente ricos.
A maioria dos diretores de Hollywood consegue fazer apenas uma dessas coisas. Mas Nolan, como Hitchcock, é bem-sucedido em ambas. Ele cria espetáculos grandiosos, sérios e inteligentes. Satisfaz sua preferência por estímulos visuais enquanto entrega ao público uma arte que permanece na memória.
Ao longo dos últimos 25 anos, Nolan não fez um único filme ruim. Na verdade, não fez um único filme que não fosse excelente – algo que, sendo honesto, não podemos dizer sobre Steven Spielberg, Martin Scorsese, Quentin Tarantino, Spike Lee ou Ridley Scott.
Esse impressionante histórico de acertos é o motivo pelo qual seus fãs lotam as salas de cinema no fim de semana de estreia de suas produções, seja sobre um físico teórico, uma equipe de ladrões adentrando os sonhos das pessoas ou um playboy justiceiro vestido de morcego.
Tenho certeza de que muitas pessoas ainda atribuem o sucesso de bilheteria de “Oppenheimer” à sorte – um filme lançado como alternativa à “Barbie” que se beneficiou do buzz gerado pela disputa.
Mas isso é um completo absurdo. O público foi ver o longa não por causa, ou apesar, de “Barbie”, mas porque era “Um Filme de Christopher Nolan” – que dirigiu “Dunkirk”, “Interestelar”, “A Origem”, “Batman: O Cavaleiro das Trevas” e “O Grande Truque”. O nome Nolan tem peso, e isso é raro.
Hoje, com a Netflix logo ali com um caminhão de dinheiro para investir em grandes produções, os estúdios de cinema precisam capitalizar qualquer vantagem de marketing que puderem. Esta é outra razão pela qual a marca Nolan tem tanto valor em 2024. E isso torna o lançamento de seu filme anterior, “Tenet”, de 2020, uma decisão ainda mais desconcertante.
A Warner Bros. foi o lar de Nolan desde “Amnésia”. Durante esse período, seus filmes arrecadaram mais de US$ 6 bilhões em bilheterias globais. Mas, durante a pandemia, o estúdio decidiu lançar “Tenet” em seu serviço de streaming, em vez de dar ao longa uma estreia exclusiva nos cinemas primeiro.
Não é segredo que Nolan faz filmes grandiosos que devem ser vistos em uma tela de cinema. O diretor ainda prefere filmar em celuloide real em vez de digitalmente. Como era de se esperar, ele não ficou feliz com a decisão.
Foi uma aposta estúpida da Warner, se não do ponto de vista financeiro imediato, pelo menos do ponto de vista da gestão de marca, que tem custos a longo prazo.
O público foi ver "Oppenheimer" não por causa (ou apesar) de “Barbie”, mas porque era “Um Filme de Christopher Nolan”.
O estúdio alienou o maior ativo em seu portfólio e, provavelmente, afastou muitos outros cineastas que poderiam estar considerando fazer seu próximo filme lá. Nolan, por outro lado, saiu de disso como um artista de princípios, com sua marca totalmente intacta.
Quando chegou a hora de encontrar um lar para “Oppenheimer”, ele optou por um estúdio rival, a Universal. E você pode ter certeza de que eles fizeram de tudo para manter Nolan feliz.
Mas esta não foi uma briga calculada que o diretor comprou para melhorar ainda mais a sua imagem. Suponho que ele preferiria que isso nunca tivesse se tornado público. Foi uma decisão genuína de alguém que se preocupa com sua profissão, sua arte. O que, claro, também contribuiu para o brilho de sua marca.