Brasil promove Salvador como capital afro em Austin

Painel dá visibilidade a turismo que valoriza a cultura negra como ferramenta para incentivar a economia e combater o racismo

Crédito: Divulgação

Redação Fast Company Brasil 2 minutos de leitura

Com mais de 80% da população autodeclarada afrodescendente, Salvador é a cidade mais negra fora da África. Tem no turismo a principal atividade econômica. Mas não é a população negra que se beneficia desses recursos.

Nesse contexto e para transformar esse cenário, Isabel Aquino, do Banco Interamericano de Desenvolvimento, e Antonio Pita, do hub de cultura negra Diaspora.Black, falaram durante painel no festival South by Southwest, em Austin. O painel Salvador Capital Afro and the Power of Diaspora Tourism divulgou projetos e iniciativas focados na promoção global da cidade. "É o momento de o mundo descobrir Salvador", disse Pita.

O jornalista e empreendedor mostrou como vem usando o turismo como ferramenta poderosa para promover a cultura e a economia da população negra.

Falou ainda da importância de conectar a cultura afrodescendente de pessoas de diferentes cidades para promover pertencimento e acolhimento. "Muitas vezes, não é simples para pessoas negras viajarem. Sentir aquela sensação de que você não deveria estar ali".

Isabel Aquino e Antonio Pita (Crédito: Mariana Castro)

Além de promover sensação de segurança, pertencimento e acolhimento, o objetivo é mudar a estrutura imposta por uma visão colonialista. Para isso, ele destaca a importância do engajamento de empresas e indústrias no sentido de inverter a lógica racista. "Queremos um futuro em que a imagem da pessoa negra seja diferente.'’

Viajantes negros norte-americanos gastaram cerca de US$ 130 bilhões em 2019, de acordo com dado apresentado no painel. Mas, dos quase nove milhões de turistas que passaram por Salvador em 2023, 96% eram brasileiros. Eles movimentaram cerca de R$ 13 bilhões no mesmo ano. Daí o objetivo de atrair turistas de outros países a Salvador.

O potencial do turismo que valoriza a cultura negra também está na sua oportunidade de transformar cidades, países e fomentar a economia criativa afrodescendente em diferentes segmentos.

AUTOESTIMA, TREINAMENTO E INVESTIMENTO

Para a especialista em pesquisa de tendências Isabel Aquino, são desafios para o setor o racismo, a falta de treinamento e a baixa autoestima, a invisibilidade e desarticulação na cadeia de produção e a falta de mapeamento e de divulgação de rotas turísticas que valorizam a ancestralidade.

Diante disso, a Afrobiz plataforma que conecta a indústria criativa de Salvador a consumidores e investidores do Brasil e do mundo, tenta buscar soluções por meio de diferentes projetos e iniciativas. Entre elas, o Rolê Afro – roteiros turísticos focados na cultura negra – ou o suporte para as baianas do acarajé.

Crédito: Iphan

Por muito tempo, as baianas que fazem acarajé, empreendedoras e símbolo de Salvador, ficaram fora do radar econômico, sem mapeamento e sem registro de sua atividade. "Com dinheiro, elas começaram a comprar sua liberdade e articular diferentes movimentos sociais", conta Isabel.

Já no programa Afroestima, o foco é a capacitação de jovens negros. Mais de mil estudantes já passaram pelo projeto.

Isabel está à frente do projeto Salvador Capital Afro, iniciativa que inclui um conjunto de políticas públicas para desenvolver o afroturismo. Nele, há cerca de 100 instituições e negócios afrocentrados.

O festival Salvador Capital Afro, em 2023, contou com mais de 17 mil participantes de 170 nações, 260 atividades culturais, 220 artistas, 100 mentores de negócios, além de promover a visibilidade de projetos locais. Isabel anunciou que serão investidos US$ 20 milhões na próxima edição do evento.

"Queremos uma imagem atualizada, moderna e vibrante da população negra", afirmou.


SOBRE O(A) AUTOR(A)

Conteúdo produzido pela Redação da Fast Company Brasil. saiba mais