Xbox & Activision Blizzard: tudo sobre a maior aquisição na história dos games

Crédito: Fast Company Brasil

Jeancarlos Mota 6 minutos de leitura

Que o mercado de games é uma constante crescente você já deve ter ouvido falar. E bastante. Mas não é todo dia que vemos uma movimentação em aquisições entre concorrentes desse bilionário mercado de entretenimento e tecnologia na magnitude que tivemos na última semana. Ainda mais uma que superou todas as outras na história dos jogos. A Xbox, pertencente à Microsoft, surpreendeu a todos e iniciou o processo de compra da Activision Blizzard. Essas duas gigantes da indústria dos jogos agora farão parte do Xbox Game Studios e isso já está mudando todo o universo dos games.

Eis a maior aquisição na história dos videogames (Crédito: Microsoft / Activision Blizzard) 

Após a compra da Zenimax/Bethesda em 2020, que detinha o posto de maior aquisição da história, a Microsoft anuncia mais um grande conglomerado no mercado de games com a aquisição da Activision Blizzard, responsável por franquias como Overwatch, World of Warcraft, Diablo, Crash Bandicoot, Spyro, Call of Duty e Candy Crush. Phil Spencer, antigo chefe de Xbox e agora CEO de gaming da Microsoft, deu a seguinte declaração sobre a compra: “Como uma equipe, estamos em uma missão de estender a felicidade e comunidade de games a todos no planeta. Sabemos que o gaming é a forma mais vibrante e dinâmica do entretenimento mundial e vivenciamos o poder da conexão social e amizades que games possibilitam.”

Com essa movimentação, a Microsoft adquire 11 estúdios, a Blizzard Entertainment, Beenox, Digital Legends, High Moon Studios, Infinity Ward, King, Radical Entertainment, Raven Software, Sledgehammer Games, Toys for Bob, Treyarch, sem falar de toda equipe na Activision Blizzard – em 2021, quase 10 mil funcionários em 36 países trabalhavam na empresa — e da Major League Gaming (liga de esports), a Activision Publishing (distribuidora) e a Demonware (empresa de serviços digitais) por US$ 68,7 bilhões (aproximadamente R$ 379 bilhões, em conversão direta). Para se ter uma ideia do tamanho desse investimento, lembramos que a Bethesda/Zenimax custou US$ 7.5 bilhões à Microsoft, A Marvel US$ 4 bilhões para a Disney, assim como a Lucasfilm, Pixar por US$ 7.4 bilhões e a Fox pelo valor de US$ 71 bilhões. 

Mesmo com todas as polêmicas de assédio — que devem ser resolvidas logo, o que mostra que a Microsoft está preocupada com isso, graças à declaração de que o polêmico CEO, Bobby Kotick, deixará o cargo ao término da aquisição, no final do ano fiscal de 2023 –, hoje a Activision Blizzard  é uma das empresas mais saudáveis financeiramente, pois fecha seus anos com margem operacional de 40%, além de ter um dos jogos mais vendidos todos os anos, o Call of Duty. Se olharmos um pouco mais para trás, na década de 2010, fica bastante claro que Call of Duty é um gigante e que em breve fará com que a Microsoft ganhe ainda mais. Dos 10 jogos mais vendidos na década de 2010, Call of Duty foi responsável por sete — Black Ops, Black Ops 2, Modern Warfare 3, Black Ops 3, Ghosts, WW2 e Black Ops 4.

Call of Duty pode estar no topo da lista de jogos mais vendidos da NPD, mas Candy Crush e World of Warcraft também continuam sendo alguns dos maiores geradores de dinheiro para a empresa. De 2018 a 2020, Call of Duty, Candy Crush e World of Warcraft representaram 76%, 67% e 58% de sua receita líquida, respectivamente. Nenhuma outra franquia de propriedade da Activision Blizzard atingiu mais de 10%. De quebra, a Activision Blizzard gerou US$ 8,1 bilhões em receita líquida em 2020, aumento de 25% em relação a 2019, que registrou uma receita líquida de US$ 6,49 bilhões. Tanto que as ações da Activision Blizzard subiram logo após o anúncio da aquisição. Às 10h da terça-feira (18), as cotas da marca custavam cerca de R$ 357,34. Às 11h10, elas aumentaram para R$ 487,43 – mais de 30% em poucos minutos. Enquanto isso, os da sua principal concorrente, a Sony, caíram em 13% na bolsa de valores de Tóquio.

Em questão de horas, a fabricante do PlayStation perdeu US$ 20 bilhões de seu valor de mercado.

O reflexo da aquisição no mercado foi imediato (Crédito: Google / Reprodução)

Com essa movimentação a Microsoft mostra que leva muito a sério seu principal objetivo, aumentar ainda mais seu catálogo do Xbox Game Pass com títulos de peso e tradição de mercado para sua locadora digital de games. Para entender isso, basta olhar a Netflix. Ter um catálogo com acesso a conteúdos – mesmo que nem todos exclusivos – é um dos mais sólidos argumentos de venda. Seu serviço de assinaturas B2C ganha uma força ainda mais colossal com essa movimentação de mercado. Afinal, a empresa deixou claro que todos os seus jogos first-party (de empresas que pertencem a ela) estarão sempre no Game Pass desde o dia do lançamento, sem custo adicional para seus assinantes. E com a Activision Blizzard chegando, o catálogo de empresas do Xbox Game Studios se torna impressionante:

 Esses são todas as empresas integrantes do Xbox Game Studios após a chegada da Activision Blizzard (Crédito: @klobrille)

A grande discussão da vez gira em torno do fator exclusividade. Será que o Xbox faria com que todos os games das empresas dessa negociação fossem exclusivos? De acordo com o próprio Phil Spencer, não. A filosofia de Spencer aqui é muito semelhante ao que aconteceu com os jogos da Bethesda, onde os títulos que já tinham sido anunciados para outras plataformas ou que já existem em outras plataformas continuarão sendo disponibilizados para elas. Spencer anunciou isso logo após afirmação da Sony, que gostaria que Call of Duty continuasse sendo lançado para as plataformas PlayStation.

Em seu Twitter, o CEO de gaming da Microsoft confirmou essa teoria e deixou claras as intenções da Microsoft sobre os títulos multiplataformas. “Tive boas ligações esta semana com os líderes da Sony. Confirmei nossa intenção de honrar todos os acordos existentes após a aquisição da Activision Blizzard e nosso desejo de manter Call of Duty no PlayStation. A Sony é uma parte importante do nosso setor e valorizamos nosso relacionamento”. E seja lá quais jogos serão ou não multiplataforma uma única coisa é certa: o Xbox Game Pass ganha ainda mais força e terá todos os jogos da Activision Blizzard em seu catálogo em breve, sem falar que os novos jogos estarão disponíveis para assinantes desde seu lançamento, com direito a instalação prévia. O que isso dará força para o ecossistema Xbox é realmente fora da curva.

E tudo isso não apenas enriquece o número de títulos que a biblioteca do Xbox terá, como também o valor de mercado do Xbox Gaming Studios, principalmente se comparado a tantos outros gigantes da indústria. Em levantamento feio por Geoff Keighley, CEO do The Game Awards, esse seria o valor estimado das principais desenvolvedoras/publishers do mercado caso alguma outra gigante considerasse outra compra:

  • Electronic Arts: US$ 38 bilhões
  • Take Two: US$ 18 bilhões
  • Nexon: US$ 15 bilhões
  • Bandai Namco: US$ 15 bilhões
  • Embracer: US$ 10.8 bilhões
  • Netmarble US$ 7 bilhões
  • Ubisoft: US$ 7 bilhões
  • Konami: US$ 6 bilhões
  • Square Enix: US$ 5.6 bilhões
  • Capcom: US$ 4.9 bilhões
  • Sega: US$ 3.6 bilhões

Nenhuma delas chega próximo do valor que a Activision Blizzard tem no mercado. O que dizer do valor agregado ao Xbox? A resposta é simples: com essa novidade, a Microsoft torna-se a terceira maior empresa de games do mundo, posição anteriormente ocupada pela Nintendo, agora atrás apenas de Tencent e a líder de mercado, Sony, da mesma forma que o Xbox agora faz definitivamente parte do Top 3 de produtos mais valiosos da Microsoft, ao lado do Azure e Office.

E o futuro demonstra-se apenas ainda mais promissor. GGWP, Xbox.


SOBRE O AUTOR

Jeancarlos Mota é co-publisher de games da Fast Company Brasil, editor-chefe do IGN Brasil e apaixonado por games e esportes. saiba mais