Afirmar valores é necessário para efetuar mudanças positivas

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Cada geração pensa que está passando pelos momentos mais desafiadores que o mundo já conheceu. Durante 2021, foi muito difícil não pensarmos assim sobre nós mesmos. Um vírus mortal procurando impiedosamente novas maneiras de nos matar, um aumento alarmante do autoritarismo político, as primeiras amostras reais de uma catástrofe climática há muito temida, as muitas dificuldades econômicas, a grande insatisfação social – tudo isso fez com que nos sentíssemos à mercê dos eventos externos e de forças que giravam muito além do nosso controle. 

Enquanto isso, a tecnologia avançou. As empresas que capturam e alavancam nossos dados têm se tornado maiores e mais potentes, e a inteligência artificial progride tão rapidamente que já não sabemos por que nossos algoritmos sabem as coisas que eles sabem. Quem confia que nossos empregos não serão eliminados pela tecnologia nos próximos 10 anos? Quem se sente seguro a respeito do futuro da privacidade e das liberdades individuais?

Indiscutivelmente, um dos livros mais influentes sobre tudo isso continua sendo o best-seller do New York Times escrito por Yuval Noah Harari, 21 Lições para o século 21 (Companhia das Letras). Nessa coleção de ensaios, Harari postula que a humanidade está diante de uma encruzilhada. Com desenvolvimentos tão rápidos em tecnologia de informação e em biotecnologia, nosso mundo está prestes a mudar para sempre, diz ele, e agora é o momento de fazer uma pausa para esclarecer que tipo de futuro escolhemos criar. “Os filósofos são pessoas muito pacientes”, escreve Harari, “mas os engenheiros têm muito menos paciência, e os investidores menos ainda. Se não sabemos o que fazer com a capacidade de criar vida, as forças do mercado não vão esperar mil anos até que nos ocorra a resposta (…). A menos que confiemos de bom grado o futuro da vida a relatórios de contas trimestrais, precisamos de ter uma ideia nítida sobre o que é a vida.” 

EM QUE TIPO DE MUNDO QUEREMOS VIVER?

Contudo, eu consigo enxergar montanhas de evidências de que nós não permitiremos passivamente que os eventos e as “forças fora de nosso controle” nos arrastem para a catástrofe. É claro que eu sei que a tecnologia continuará avançando em um ritmo alucinante – basta conversar com qualquer pessoa que tenha trabalhado os últimos anos com o mercado financeiro e eles lhe dirão como seu mundo está ficando de pernas para o ar. E não há por que não continuar, se considerarmos todos os benefícios que ela traz. Tampouco espero que haja uma parada total na economia enquanto vestimos nossas togas de juízes e participamos de simpósios sobre o futuro da humanidade. Mas, ainda assim, vejo que muitas respostas para a pergunta de Harari – “Em que tipo de mundo queremos viver?” – estão começando a sair da toca. 

Minha empresa, a 74&West, fornece inteligência sobre clientes para empresas em serviços financeiros tradicionais, em fintech e no segmento sem fins lucrativos. Isso nos dá uma visão única dos eventos. Também produzimos um podcast no qual reunimos formadores de opinião para debater questões em alta no momento. Em suma, fazemos muitas perguntas, mas na maioria das vezes apenas ouvimos. E há dois tópicos principais, dois temas, que temos visto surgir de novo e de novo. É como se fossem dois tipos de mudança que estão em andamento. A primeira é a tecnológica – uma mudança do centro de gravidade das finanças tradicionais para as fintech, para a ascensão da IA, a automação, o big data, as criptomoedas, o blockchain, o futuro do trabalho.

O segundo tipo de mudança é a humana. Para ser mais preciso, é uma reafirmação da nossa humanidade. Comece a percebê-la e você começará a vê-la em todos os lugares. Um banqueiro abre uma fintech para aumentar a inclusão financeira de imigrantes; um outro cria uma empresa de capital de risco para melhorar a sustentabilidade na indústria de vestuário; um terceiro abre um negócio projetado para reinjetar humanidade nas relações corporativas. Em outras partes da economia, os funcionários seguem o exemplo do personagem Bartleby, o escrivão, de Melville, dizendo: “Prefiro não fazer”, quando se trata de aceitar trabalhos que drenam suas almas. Ao mesmo tempo, o investimento em Governança Ambiental, Social e Corporativa (ESG, na sigla em inglês), tem evoluído de uma palavra-chave usada em uma bolha para um dos tópicos mais importantes da atualidade. O marketing, por sua vez, contrariando sua antiga reputação de setor mercenário, quer vestir a pele de “socialmente responsável”. Até mesmo os lobistas da Business Roundtable estão abandonando sua linguagem sobre maximização do lucro e focando nos acionistas. Tudo isso que está acontecendo era apenas com muito constrangimento, depois do expediente, que ousávamos falar.

NOSSA RESPOSTA À INCERTEZA
Esses dois tópicos, embora em grande parte entrem em desacordo, não são independentes. Um está claramente impulsionando o outro: o fio da humanidade é uma resposta à incerteza sobre para onde estamos indo. Coletivamente, sabemos que estamos em uma encruzilhada, coletivamente sabemos que é agora ou nunca, e coletivamente estamos afirmando nossos valores e mostrando – não apenas dizendo – que tipo de mundo exigimos para nós mesmos e para as próximas gerações.

Acredito que uma revolução da humanidade parece ainda estar em seus estágios iniciais. Como todos os movimentos amplos, ele saturará todas as facetas de nossa sociedade, especialmente quando atingir massa crítica, o que ainda não aconteceu. Nos próximos meses, espero ver e ouvir mais evidências de pessoas, em toda a economia, tomando atitudes que dizem: “Sim, as coisas sempre foram feitas de uma certa maneira, mas não precisam mais ser feitas assim, e agora é nossa chance de mudar.”

A incerteza não desaparecerá em 2022. Mas anote minhas palavras: 2022 será um ano decisivo.


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