Em breve, cuidados com as gestantes serão baseados em previsão e prevenção
Com ferramentas melhores para entender a biologia de cada gravidez, médicos podem ajudar mães e bebês a viverem gestações mais saudáveis
Vivemos em uma época na qual as pessoas estão planejando viajar para Marte e descobrindo como passar dos 100 anos, mas, ao mesmo tempo, a gravidez continua representando um perigo para as mulheres. Como sociedade, não devemos e não podemos nos conformar com riscos desnecessários.
Os números são surpreendentes: uma em cada cinco gestações é afetada por complicações. Os distúrbios hipertensivos dobraram na última década.
O que também é chocante é que quatro em cada cinco mortes relacionadas à gravidez nos EUA são evitáveis, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças do país (CDC, na sigla em inglês). Por isso, mais do que nunca, está na hora de dobrar a aposta nos avanços voltados para a reversão da crise da saúde materna.
SAÚDE NA GRAVIDEZ DEIXADA PARA TRÁS
Estamos vivendo a era de ouro da medicina. A medicina de precisão transformou cânceres como o de mama e o de sangue de uma ameaça iminente em uma condição crônica, em geral passível de controle. Diagnósticos precisos, programas de triagem precoce, terapias direcionadas e estratégias preventivas abrangentes já são práticas comuns.
No entanto, a saúde da gestante foi negligenciada e a inovação ficou estagnada nessa área. Envolta em mistério, a placenta é como uma "caixa preta" que tem sido pouco pesquisada, mas que exerce grande influência sobre o motivo pelo qual as experiências de gravidez podem ser tão diversas.
Considerando o estresse que a gestação causa no corpo da mulher, é surpreendente o quão pouco sabemos sobre a biologia desse processo. E, quando uma gestante apresenta complicações que ameaçam sua vida, uma gravidez normal pode rapidamente se transformar em preocupação.
Ainda não há uma maneira de prever quem está correndo risco de complicações graves até que os sintomas se manifestem. Um exemplo disso é a pré-eclâmpsia, um distúrbio de pressão alta na gravidez e uma das principais causas de mortalidade materna e infantil no mundo.
Estamos vivendo a era de ouro da medicina, mas a saúde da gestante foi negligenciada e a inovação ficou estagnada na área.
Embora tenha sido identificada há mais de 100 anos, em 2024 pacientes e médicos ainda dependem de fatores de risco gerais – como histórico de gravidez, raça, etnia, status socioeconômico, índice de massa corporal e histórico médico – para deduzir o potencial de pré-eclâmpsia.
No entanto, até mesmo mulheres grávidas sem fatores de risco podem desenvolver pré-eclâmpsia, enquanto aquelas que apresentam maior risco podem ter gestações sem intercorrências.
Hoje, sem ferramentas eficazes para prever quem desenvolverá complicações, perdemos a oportunidade de prevenir desfechos que representam risco de vida, e muitas famílias sofrem consequências graves.
O ELO QUE FALTAVA PARA ENTENDER A GRAVIDEZ
A biologia da gestação é extraordinariamente complexa. A maioria das pessoas está familiarizada com o DNA, que armazena nosso projeto genético. No entanto, os testes de DNA não são capazes de informar sobre o processo dinâmico de desenvolvimento do corpo, que é crucial para entender como a saúde e a doença se desenvolvem.
Na Mirvie, somos pioneiros em uma nova metodologia para entender a biologia da gravidez, aproveitando o ácido ribonucleico (RNA) para prever com meses de antecedência complicações potencialmente fatais. Para isso, usamos um simples exame de sangue da mãe.
Com esse exame, a plataforma analisa dezenas de milhares de mensagens de RNA do bebê, da placenta e da mãe, usando IA e aprendizado de máquina. As mensagens de RNA refletem o desenvolvimento biológico, o que nos permite decodificar o que está acontecendo em um determinado momento da gravidez.
Essas mensagens de RNA fornecem uma quantidade de informações sem precedentes, incluindo quais sistemas de órgãos estão se formando e o momento da gravidez. Pela primeira vez, podemos prever quais gestações correm maior risco de apresentar complicações nos próximos meses.
Esse novo nível de compreensão e de dados objetivos pode oferecer às gestantes e às equipes de atendimento um caminho mais claro para proporcionar a gravidez mais saudável possível.
UMA NOVA ERA DE GRAVIDEZ SAUDÁVEL
Devemos priorizar a saúde das mulheres grávidas e garantir que elas tenham filhos saudáveis até o fim da gestação. Toda família merece o melhor começo possível, e o modo como as mulheres passam pela desgastante trajetória da gravidez pode afetar profundamente sua saúde ao longo da vida.
Para dar continuidade a este movimento, investidores, formuladores de políticas públicas, líderes, pesquisadores e defensores devem reconhecer que a gravidez e a saúde da mulher são o cerne de toda família. É preciso reconhecer seu impacto abrangente na sociedade, nos sistemas de saúde e na economia.
Podemos dar início a uma mudança transformadora, apoiando e investindo em empresas que revolucionam a saúde da gestante e defendendo o aumento do financiamento e da atenção para essa área. Juntos, temos o poder de promover uma mudança permanente.