Tencent vai reduzir investimento em grandes franquias “estrangeiras” de jogos

A realocação de recursos reflete as tendências que estão forçando uma mudança estratégica na empresa

Créditos: Maxim Hopman/ Unsplash/ Vectonauta/ Freepik/ DreamStar/ Tencent

Josh Ye 3 minutos de leitura

Em uma mudança radical na empresa chinesa Tencent, games fáceis de jogar com personagens fofos encarando pistas de obstáculos agora são uma prioridade, deixando de lado as grandes franquias estrangeiras.

Desde o final do ano passado, a maior empresa de games do mundo realocou centenas de membros da equipe que desenvolve o Assassin’s Creed Jade para celular – um projeto em parceria com a Ubisoft.

Eles agora estão trabalhando no recém-lançado DreamStar – a resposta da Tencent ao sucesso de Eggy Party, da NetEase, e a maior aposta da empresa até o momento no gênero de party games, que oferece jogabilidade simples, minijogos e incentiva os jogadores a se reunirem e interagirem.

Como resultado, o Assassin’s Creed Jade – um jogo de ação e aventura ambientado na China antiga que está em desenvolvimento para dispositivos móveis há pelo menos quatro anos – provavelmente será lançado em 2025, em vez deste ano, de acordo com três fontes familiarizadas com o assunto.

DreamStar (Crédito: Tencent)

Essa realocação de recursos reflete as tendências que estão forçando uma mudança estratégica na Tencent. O desenvolvimento de grandes franquias ocidentais para celulares tende a render margens de lucro estreitas.

Ao mesmo tempo, concorrentes têm obtido sucessos estrondosos com produtos de nicho que oferecem novas abordagens, como o Eggy Party, da NetEase, e o game de fantasia estilo anime Genshin Impact, da miHoYo. Além disso, estes títulos foram desenvolvidos internamente, então os lucros são todos deles.

Crédito: NetEase

Durante anos, a Tencent teve grande sucesso adaptando games como Call of Duty, da Activision Blizzard, e PUBG, da sul-coreana Krafton, para smartphones.

Mas esses jogos de franquia – também chamados de games de PI (propriedade intelectual) – são caros de produzir. Taxas de royalties de 15% a 20% das vendas são comuns. Além disso, a App Store, da Apple, cobra uma comissão de 30% e os gastos com marketing e aquisição de usuários podem custar outros 30% a 40%.

Após uma série de contratempos com games de PI, a Tencent planeja ser mais seletiva.

Crédito: miHoYo

“Estamos nos concentrando em menos títulos de maior orçamento. Normalmente, buscamos fazer as maiores apostas em jogos de PIs de sucesso, ou em games que reproduzem uma jogabilidade já comprovada dentro de um nicho, e os levamos para um mercado mais amplo”, afirma James Mitchell, diretor de estratégia da empresa.

A Tencent agora também está fazendo pressão para que as taxas de royalties caiam para menos de 10% das vendas em algumas negociações, de acordo com uma fonte. “Isso teria sido quase impensável há apenas alguns anos. A Tencent costumava ser muito mais generosa”, disse ela.

A empresa se recusou a comentar sobre os detalhes de sua mudança estratégica.

REVESES E NOVO PROJETO

Pony Ma, fundador e CEO da Tencent, foi direto ao afirmar que a divisão de jogos da empresa – que no ano passado gerou 180 bilhões de yuans (US$ 25 bilhões) em vendas, ou cerca de 30% da receita total – precisa se sair melhor.

Crédito: Tencent

Os concorrentes continuaram a lançar novos produtos, “nos deixando com a sensação de que não conseguimos nada”, ele teria dito a um estádio cheio de funcionários na cidade de Shenzhen, durante a reunião anual da empresa em janeiro, segundo uma outra fonte.

No mesmo mês, a Tencent lançou um novo projeto, com o objetivo de desenvolver games internos com jogabilidade inovadora e oferecer orçamentos de até 300 milhões de yuans (US$ 41,5 milhões) por jogo.

O valor é um terço do que a empresa costuma investir em grandes franquias, mas a iniciativa sinaliza que ela está disposta a correr mais riscos no desenvolvimento de games não convencionais.

Crédito: Activision Blizzard

Empresas ocidentais também estão começando a evitar a terceirização do desenvolvimento de jogos mobile para empresas chinesas. A Activision Blizzard (comprada pela Microsoft), por exemplo, acaba de lançar o Call of Duty Warzone Mobile, que competirá com o Call of Duty Mobile, da Tencent.

Para piorar a situação, os dois principais títulos da empresa tiveram uma queda na receita durante o feriado do Ano Novo Chinês, em fevereiro. Honor of Kings e PUBG Mobile, lançados há nove e sete anos, respectivamente, sofreram quedas de 7% e 30% em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo uma das fontes.


SOBRE O AUTOR

Josh Ye é repórter da agência Reuters. saiba mais