Aumento do nível do mar pode “afogar” os ecossistemas litorâneos

As taxas atuais de elevação do nível do mar significam que partes dos ecossistemas costeiros serão perdidas para o oceano nos próximos anos

Créditos: Silas Baisch/ Unsplash/ Chesapeake Bay Program/ Flickr

Randall W. Parkinson 4 minutos de leitura

Há milhares de anos, os ecossistemas litorâneos do mundo inteiro floresceram, desempenhando um papel valioso para os humanos e para a vida selvagem. Elas protegem a costa marítima de tempestades, impedem que a água do mar contamine o abastecimento de água potável e criam habitats para pássaros, peixes e espécies ameaçadas. Mas grande parte disso pode desaparecer em questão de décadas.

Com o aquecimento do planeta, o nível do mar está subindo em um ritmo cada vez mais rápido. Em geral, as áreas úmidas dos litorais acompanham esse ritmo, construindo em direção ao alto e avançando alguns metros por ano para o interior. No entanto, estradas pavimentadas, cidades, fazendas e o aumento das áreas aterradas podem deixar os ecossistemas litorâneos sem ter para onde ir.

As projeções de elevação do nível do mar para meados do século sugerem que a linha d'água vai se deslocar de 15 a 100 vezes mais rápido do que o registro da movimentação desses ecossistemas úmidos.

As taxas de elevação do nível do mar que estamos observando agora significam que partes das zonas úmidas costeiras atuais serão perdidas para o oceano nos próximos anos e décadas em um ritmo nunca visto antes.

NO PASSADO, ERA MAIS FÁCIL SE ADAPTAR

As plantas de áreas úmidas conseguiam se adaptar facilmente a pequenas mudanças no nível do mar porque essas mudanças eram, em geral, inferiores a 1 milímetro por ano.

As plantas criam ou prendem naturalmente os sedimentos, aumentando a elevação para acompanhar a elevação dos mares. Os ecossistemas litorâneos também são hábeis em migrar horizontalmente e, portanto, conseguiam colonizar áreas que eram inundadas lentamente ao longo do tempo.

No entanto, o clima do mundo começou a mudar há cerca de um século e meio, provocando o aumento das temperaturas globais. Isso também aqueceu a água do mar, fazendo com que ela se expandisse, e acelerou o derretimento das geleiras e das camadas de gelo.

Fonte: Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA)

A combinação da expansão térmica da água do mar e do derretimento do gelo terrestre aumentou o volume do oceano, fazendo com que o nível da água subisse a uma velocidade cada vez maior.

Os dados sobre o nível da água coletados nos EUA pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês), em medidores distribuídos ao longo da costa norte-americana, indicam que a taxa média atual de aumento do nível do mar é de cerca de 10 milímetros por ano. E a expectativa é de que ela continue acelerando. 

Durante a segunda metade do século 21, os cientistas esperam que o nível do mar aumente cerca de 30 milímetros por ano. Isso é 30 vezes mais rápido do que o aumento registrado antes da Revolução Industrial.

O NÍVEL DO MAR ESTÁ SUBINDO MAIS RÁPIDO

As taxas de aumento do nível do mar ao longo das costas do meio do Atlântico e do sudeste dos EUA são agora mais rápidas do que a maioria das comunidades de plantas de zonas úmidas costeiras consegue aumentar sua elevação.

Em algumas décadas, é muito provável que grande parte desses ecossistemas se afogue. As áreas antes ocupadas por um ecossistema exuberante, expansivo e contíguo de zonas úmidas costeiras ficarão repletas de lagoas pequenas e isoladas que se expandem, se interconectam e se transformam em água do mar.

Crédito: Ataraxy22/ Wiki Commons

Os modelos de inundação que os cientistas normalmente usam para emular a resiliência das zonas úmidas costeiras à elevação do mar pressupõem que elas vão migrar para o interior na mesma proporção que a linha do litoral.

Como resultado do trabalho que realizei recentemente, parece que esses modelos superestimaram a resistência das zonas úmidas costeiras e que as perdas dos ecossistemas litorâneos neste século serão maiores do que o previsto.

3 MANEIRAS DE PROTEGER ESSES ECOSSISTEMAS

Que medidas podem ser tomadas para minimizar a perda dessas áreas? Antes de mais nada, os proprietários de terra poderiam implementar programas para adquirir ou criar corredores de conservação em zonas adjacentes aos ecossistemas litorâneos já existentes.

Essas paisagens naturais oferecem um caminho pelo qual as zonas úmidas têm condições de se deslocar para o interior conforme o nível do mar aumenta.

Em segundo lugar, parece cada vez mais urgente remover as estruturas construídas pelo homem – estradas, barragens, represas – que impedem o avanço das zonas úmidas costeiras em direção ao interior.

Parte das zonas costeiras estão tomadas por ocupação humana (Crédito: USDA)

Por fim, nas áreas historicamente drenadas para agricultura e controle de enchentes, os projetos de gerenciamento de águas superficiais podem restaurar o fluxo de água doce para a zona costeira.

No sul da Flórida, por exemplo, a água da chuva nos Everglades impediu que a água salgada avançasse para o subsolo, até que extensos canais foram construídos para drenar a região para fins de desenvolvimento e agricultura.

Vários grandes projetos de manejo da água estão agora redirecionando a água da chuva de volta para os Everglades para retardar o avanço da massa de água salgada subterrânea, que pode ser letal para as comunidades de plantas de água doce em áreas úmidas e altas.

Este artigo foi republicado do The Conversation sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.


SOBRE O AUTOR

Randall W. Parkinson é pesquisador e professor associado de geologia litorânea na Universidade Internacional da Flórida. saiba mais