Jogo perigoso: como os sites de apostas estão influenciando os esportes

Escândalos recentes escancaram o problema das apostas esportivas

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Jay Willis 4 minutos de leitura

Em diversos países, as apostas se tornaram uma parte tão integral da experiência dos torcedores que é difícil lembrar como era antes. Programas esportivos contam com comentaristas debatendo as previsões uns dos outros, enquanto atualizações sobre as probabilidades dos resultados são exibidas ao vivo.

É praticamente impossível assistir a uma partida sem ser exposto a um anúncio com uma celebridade e um atleta aposentado explicando como baixar um aplicativo de apostas.

Em termos numéricos, o impacto dessa indústria tem sido surpreendente. O montante total apostado está se aproximando de US$ 100 bilhões por ano, e até 2026, alguns analistas acreditam que poderia chegar a US$ 20 bilhões por mês.

Dado o volume de dinheiro que as apostas geram a todos, exceto para os próprios jogadores, talvez fosse inevitável que um escândalo envolvendo um atleta surgisse.

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Nos Estados Unidos, Jontay Porter, pivô reserva do time de basquete Toronto Raptors, está sendo investigado pela NBA por atividades suspeitas relacionadas a apostas esportivas – apostas de que ele ultrapassaria ou ficaria abaixo de um certo número de pontos, rebotes ou outra categoria estatística em um determinado jogo.

Em duas ocasiões, Porter deixou a quadra, supostamente por motivos de saúde. Como jogou por apenas quatro e três minutos, respectivamente, nessas partidas, apostas envolvendo um baixo rendimento do atleta venceram por margens confortáveis. Em ambos os casos, elas estavam entre as apostas mais lucrativas.

O montante total apostado é de quase US$ 100 bilhões por ano e até 2026 pode chegar a US$ 20 bilhões por mês.

Apostar uma grande quantidade de dinheiro na habilidade de arremesso de um jogador que tem uma média de cerca de quatro pontos por jogo é o tipo de coisa que você faz apenas se tiver um bom motivo para acreditar que o resultado é quase certo. Todas as evidências indicam que alguém, de alguma forma, sabia antecipadamente o que aconteceria.

No Brasil, o que não faltam são polêmicas envolvendo os sites de apostas esportivas, que, em poucos anos, se tornaram um fenômeno de engajamento e de influência, inclusive patrocinando muitos times das séries A e B do campeonato brasileiro de futebol.

Tanto que, no ano passado, foi aprovada a toque de caixa a lei 14.790, que estabelece regras, determina a necessidade de taxação dessa atividade e até a destinação dos recursos, que, segundo o Ministério da Fazenda podem chegar a R$ 2 bilhões em 2024.

DINHEIRO FÁCIL (SÓ PARA ALGUNS)

Escândalos envolvendo esquemas de apostas são apenas uma questão de tempo. Não é preciso ser um especialista para entender os incentivos: há muitos jogadores, treinadores, médicos, gerentes etc., que estão vendo todo esse dinheiro mudar de mãos como resultado de seu trabalho.

Não vai demorar até alguém queira reivindicar sua parte, se é que já não o fizeram. No caso do jogador norte-americano, ele só está sendo investigado porque alguém estava apostando quantias incomuns no seu desempenho, o que sugere que outros poderiam estar lucrando com informações privilegiadas sem serem detectados.

Em algum momento, haverá escândalos, soluções temporárias e vidas arruinadas o suficiente para que seja necessário dar um passo para trás e dizer: “olha, talvez isso tenha sido um erro terrível”. Mas, mesmo assim, não há muito incentivo para parar essa indústria tão lucrativa.

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Nos Estados Unidos, o Congresso continua paralisado por uma maioria conservadora, cuja cruzada contra a regulamentação continua inabalável. Os estados com dificuldades financeiras que se acostumaram com essa receita tributária – que chegou a US$ 500 milhões no terceiro trimestre de 2023 –, não têm motivos para abrir mão de sua fatia.

As casas de apostas têm US$ 11 bilhões em receita anual cumulativa para defender e exércitos de lobistas prontos para serem acionados ao primeiro sinal de problemas.

Enquanto isso, no próximo ano, a NBA planeja incorporar apostas ao vivo em sua plataforma League Pass, eliminando por completo a barreira entre o esporte profissional e as apostas. 

haverá escândalos, soluções temporárias e vidas arruinadas, mas, mesmo assim, não há muito incentivo para parar essa indústria tão lucrativa.

Quando a investigação for concluída, caso Porter seja julgado culpado de ter feito as apostas ou participado de um esquema, o esperado é que ele seja banido da NBA e enfrente acusações criminais.

Se fosse um treinador ou funcionário de clube agindo com base em informações não públicas, ele seria demitido e seu ex-empregador teria que pagar uma multa astronômica. Se fosse um funcionário de uma farmácia que vendeu um remédio para Porter na manhã do jogo, ele nunca mais poderia participar de apostas.

Por mais satisfatórias que essas punições possam parecer, especialmente para os executivos da liga e os agentes da lei, nenhuma conseguiria resolver o real problema: um sistema que distribui dinheiro fácil, do qual muitos interesses poderosos passaram a depender.

Quando esquemas como este dão errado, é mais fácil culpar uma única maçã podre do que reconhecer que, em um pomar tão grande e lucrativo, parte da colheita está fadada a apodrecer.

Com informações da Fast Company Brasil.


SOBRE O AUTOR

Jay Willis é advogado e colunista que cobre tribunais, política e democracia. saiba mais