Cosmos à vista: todas as luzes dessa cidade foram apagadas por uma noite

Crédito: Fast Company Brasil

Mark Wilson 3 minutos de leitura

Astrônomos estimam que se você olhar para o céu em uma noite sem lua, conseguirá ver até 10 mil estrelas a olho nu. Ou, pelo menos, conseguiria, já que os arranha-céus e as luzes da rua ofuscam todo o espaço. Devido a esta poluição luminosa, em grande parte do mundo, conseguimos ver apenas 100 estrelas quando olhamos para o céu — a Via Láctea, nem pensar. Pela primeira vez nos 200 mil anos de história da humanidade, estamos nos distanciando do cosmos infinito.

Seeing Stars por Studio Roosegaarde (Crédito: Albert Dros e Merel Tuk/cortesia de Studio Roosegaarde)

Mas a solução para vermos um céu repleto de estrelas pode ser tão simples quanto… apagar as luzes. Em um projeto chamado Seeing Stars, criado pelo designer e artista Daan Roosegaarde em parceria com a UNESCO (o braço educacional, científico e cultural das Nações Unidas), uma cidade inteira coordenou esforços para apagar todas as suas luzes por uma noite. E o que eles conseguiram ver foi extraordinário.

Seeing Stars por Studio Roosegaarde (Crédito: Albert Dros e Merel Tuk/cortesia de Studio Roosegaarde)

“Queremos ajudar a devolver a luz das estrelas às pessoas”, explica Roosegaarde. “A Covid-19 tem nos isolado cada vez mais. E observar coletivamente as estrelas ajuda a criar o mais do que nunca necessário sentimento de conexão, admiração e pertencimento.”

O evento aconteceu em novembro, na cidade de Franeker, na Holanda. Roosegaarde teve a inspiração para o projeto em uma noite enquanto dirigia por uma estrada e apreciava as luzes cintilantes das estrelas e então percebeu que elas estavam cada vez menos visíveis. Assim, teve a ideia de apagar as luzes de uma cidade inteira, mas ainda precisava definir qual seria o lugar ideal para isso.

Seeing Stars por Studio Roosegaarde (Crédito: Albert Dros e Merel Tuk/cortesia de Studio Roosegaarde)

“Essa foi a parte fácil”, conta Roosegaarde. Ele sabia que na cidade de Franeker ficava o planetário em funcionamento mais antigo do mundo e que uma de suas fontes locais era dedicada a Jan Hendrik Oort, famoso astrônomo nascido ali. “Portanto, foi a primeira cidade que me veio à mente. Eu fui até lá para um encontro [com a prefeita] e ela topou imediatamente”.

Mas, mesmo em uma cidade de apenas 12 mil habitantes, organizar o evento não foi uma tarefa fácil. “Luzes apagadas, estrelas brilhando. O conceito era simples assim”, diz o artista. “No entanto, apagar todas as luzes não essenciais em uma cidade não é algo trivial. Havia muito o que coordenar e, sobretudo, era muito importante não colocar a segurança em risco. Todos no centro da cidade tiveram que cooperar: das autoridades locais aos lojistas e residentes. Isso requer muito [trabalho], mas também é o que o torna um projeto de conexão.”

Seeing Stars por Studio Roosegaarde (Crédito: Albert Dros e Merel Tuk/cortesia de Studio Roosegaarde)

Não sabe-se exatamente quantas luzes permaneceram acesas para garantir algum nível de visibilidade e segurança. Mas o artista garante que não houve acidentes. Muito pelo contrário, as pessoas saíram de suas casas e foram para as ruas para ver o céu. Elas estavam lá enquanto a Via Láctea reaparecia, estrelas cadentes riscavam o céu e satélites flutuavam. Roosegaarde compara a sensação com ir pela primeira vez à Disney.

Seeing Stars por Studio Roosegaarde (Crédito: Albert Dros e Merel Tuk/cortesia de Studio Roosegaarde)

Desde o evento em Franeker, várias outras cidades — inclusive cidades maiores – como Leiden, Sydney, Veneza, Estocolmo e Reykjavik mostraram interesse em receber o projeto. Mas, se você quiser levar esse evento para sua cidade, você não precisa necessariamente da ONU para fazê-lo.

“Compartilhe seu sonho com sua comunidade, o sonho de que todos tenham o direito de observar as estrelas”, aconselha Roosegaarde. “Isso despertará fascínio e uma sensação de conexão. Mas esteja preparado: ideias que parecem simples costumam ser as mais difíceis de executar”.


SOBRE O AUTOR

Mark Wilson é redator sênior da Fast Company. Escreve sobre design, tecnologia e cultura há quase 15 anos. saiba mais