Bang & Olufsen lança um CD player de US$ 55 mil. É isso mesmo que você leu
Projetado pela primeira vez em 1996, o 9000c ainda é uma obra de arte
Parece que os amantes de música, atualmente, podem escolher entre dois extremos: o apreciado, porém trabalhoso, ritual de ouvir vinil, ou a conveniência das plataformas de streaming, em que a gratificação instantânea (e, muitas vezes, a qualidade de áudio inferior) está a apenas um clique de distância.
Por isso, se você for como eu, a coleção de CDs que agora está embaixo da sua cama se tornou um suporte de áudio obsoleto. Sendo assim, por que será que a inovadora empresa dinamarquesa de eletrônicos Bang & Olufsen está lançando um CD player de US$ 55 mil?
Em 2020, a Bang & Olufsen lançou um belo toca-discos, o Beogram 4000c. Ou melhor, 95 unidades dele, custando US$ 11 mil cada. Mads Kogsgaard Hansen, chefe de circularidade de produtos da Bang & Olufsen, conta que o lançamento gerou uma resposta incrível dos consumidores.
Só que as pessoas ficaram cheias de dúvidas. Os audiófilos sabiam que a famosa série 4000 havia sido lançada originalmente na década de 1970. Seria esse um novo produto? Uma reedição?
No fim das contas, era algo intermediário: a Bang & Olufsen localizou quase 100 toca-discos 4000 originais, reformou-os completamente, acrescentou algumas atualizações tecnológicas modernas e os deixou como novos.
A B&O decidiu que, em uma cultura de eletrônicos descartáveis, queria ser considerada líder em longevidade e circularidade
“O que realmente conseguimos fazer foi confundir nossos clientes da melhor maneira possível”, diz Hansen, com uma risada. “Tivemos que passar algum tempo explicando que se tratava, na verdade, de um toca-discos com 50 anos de idade. Acabamos de desen- volver um processo muito inovador para recriá-lo.”
E é isso que eles estão fazendo agora com um lançamento de 200 unidades do Beosystem 9000c. Quando foi lançado, em 1996, o equipamento era diferente de tudo o que havia no mercado. Em uma época na qual os discos ficavam escondidos nas profundezas de caixas pretas e volumosas, o 9000 mostrou o lado mais visual da música. Ele tinha uma torre de seis CDs voltados para os ouvintes, que podiam ser vistos em uma caixa de vidro e alumínio.
Além disso, os usuários podiam programar listas de reprodução entre os discos – uma tarefa que o 9000c assumiu com desenvoltura, mudando silenciosa e magicamente de uma música e de um álbum para o outro sem nenhum atraso perceptível.
“Na verdade, esse é um daqueles lançamentos que definiram um rumo para a B&O, e uma daquelas coisas super inovadoras e radicalmente diferentes que criam elementos históricos”, diz Hansen. “Ele ainda é considerado um dos nossos designs mais inovadores e icônicos.”
Por mais inovador que o 9000c fosse na época, ele não podia competir com o surgimento dos mp3s e do streaming digital. Em 2002, os CDs representavam 92% da receita de música nos EUA. Em 2022, eram apenas 3%.
No entanto, tem havido um lento, mas constante, ressurgimento do interesse pelo formato, em grande parte graças à geração Z, que está interessada em tudo o que é analógico.
Por volta de 2020, a B&O decidiu que, em uma cultura de eletrônicos descartáveis, ela queria ser considerada líder em longevidade e circularidade.
Um dos elementos do plano da empresa é obter a certificação Cradle to Cradle, criando produtos com componentes que podem ser substituídos e atualizados, prolongando sua vida útil.
O outro é investir na série Recreated Classics. Hansen diz que, na busca da B&O para entender o que torna um produto atemporal, eles encontraram muita sabedoria em produtos do passado, como o toca-discos 4000 e o CD player 9000. “Podemos mostrar que conseguimos conectar nosso passado com nosso presente e com a tecnologia mais avançada de hoje”, diz ele.
Isso tudo nos faz pensar: um CD player de US$ 55 mil é um produto que está sendo lançado ou é um conceito inteligente de marketing de conscientização? Hansen diz que é justo chamá-lo de ambos.
Algumas centenas de toca-discos e CD players reformados e atualizados não vão mudar o mundo, mas dão à B&O uma oportunidade de discutir suas ambições e representam, de fato, uma oferta de produto viável. “Queremos entrar cada vez mais no segmento de luxo do mercado. É aí que imaginamos nosso futuro”, diz ele.
“Às vezes, aplicamos uma filosofia de cultura lenta nas coisas que fazemos e celebramos alguns dos elementos mais analógicos em um mundo cada vez mais veloz. É provável que continuemos explorando mais o vinil e o CD, mas talvez até considerando outros formatos de música, para criar uma linha completa. Quem sabe?”