A responsabilidade coletiva na redução do sofrimento

É possível ser bom para as pessoas, para as empresas e para a sociedade, mas é preciso passar por renúncias e mudanças

Créditos: Diego PH/ Unsplash/ LumiNola/ iStock

Renata Rivetti 3 minutos de leitura

O modelo atual é insustentável e não podemos continuar fechando os olhos para o que nos cerca. Seguimos destruindo o planeta, nossa saúde mental, vivendo como se nossas ações não tivessem consequência. Mas elas têm.

Acredito que agora não é hora de buscarmos culpados ou apontarmos os dedos, todos somos co-responsáveis pelo que está acontecendo. Agora o foco é enfrentar a calamidade e nos unir para salvar o máximo de vidas possíveis. 

Mas, passada a crise, precisamos falar de forma mais séria sobre regeneração. Passamos pela pandemia, nos unimos, colaboramos, fomos empáticos, a natureza voltou a se regenerar.

Poucos anos depois, voltamos a padrões antigos, no qual o poder segue reinando e as consequências abalam significativamente os mais fracos. E não é somente em um aspecto, mas vemos isso em notícias diárias:

Quando, diante da tragédia, não aceitam ficar sem um serviço.

Quando cometem infrações (ou crimes) e elas não têm consequência, pois o dinheiro ou contatos a salvam.

Quando um líder não se importa com o que seu time está passando.

Quando ainda fazem 'piadas ou brincadeiras' racistas e homofóbicas e acham que tudo hoje é radical e mimimi.

Quando um fornecedor grande não valoriza o pequeno e não paga corretamente.

Quando lidamos com a dor do outro como se não fosse nosso problema.

Crédito: iStock

O que falta para acordarmos e entender que não dá para viver em um mundo onde não há responsabilidade coletiva na redução do sofrimento humano? Não dá para seguir tratando a natureza como se seus recursos fossem infinitos.

Não podemos seguir abusando das pessoas, como se sua saúde fosse infinita. É preciso construir um novo modelo, um capitalismo mais consciente, um olhar mais sustentável e regenerativo.

Vejo muitas críticas em relação ao nosso piloto da semana de quatro dias. Frases nas redes sociais como “trabalhar duro é bom, vagabundo que não quer trabalhar etc”. Porém, o que estamos falando é que o modelo atual não serve mais, por diversos motivos. Precisamos testar novos modelos, mais saudáveis e também mais inteligentes.

Passamos pela pandemia, nos unimos, colaboramos, fomos empáticos. Poucos anos depois, voltamos a padrões antigos.

É possível ser bom para as pessoas, para as empresas e para a sociedade, mas é preciso passar por renúncias e mudanças. Dá medo, sim, mas se não sairmos da nossa zona de conforto, não conseguiremos construir o mundo que queremos.

Hoje, está claro que não está dando certo. As tragédias vieram para ficar, assim como os indicadores negativos em saúde mental. E em vez de olharmos para isso, nos anestesiamos em dopamina rápida, como redes sociais, consumo excessivo e uso de entorpecentes. 

Hoje, sofro com a dor da impotência. Mas, ao mesmo tempo, acende a esperança de que somos mesmo altruístas. Em todas as tragédias, vemos pessoas arriscando suas vidas para salvar seus semelhantes e animais. Estamos vendo, no Rio Grande do Sul, milhares saindo de suas casas para ajudar. Somos altruístas.

Crédito: Maurício Ionetto/ Secom

Matthieu Ricard, monge budista, em sua obra "A Revolução do Altruísmo", nos traz um convite à reflexão: ser altruísta nos faz bem, faz parte da nossa essência e é contagiante. Não podemos nos esquecer disso depois que voltarmos à nossa rotina.

Se não podemos transformar o mundo amanhã, tenho a certeza de que cada um pode fazer sua parte.

Podemos ser pessoas mais humanas e empáticas, usar o poder das empresas para construir novos caminhos, mais justos para todos os stakeholders, ser mais compassivos e menos competitivos, nos responsabilizar mais pelos nossos atos, atuar de forma mais sustentável, consumir menos, reciclar mais, cuidar mais da nossa saúde mental, ser mais inclusivos e humanos.

“A Revolução do Altruísmo começa dentro de cada um de nós.”

Matthieu Ricard


SOBRE A AUTORA

Renata Rivetti é fundadora da Reconnect Happiness At Work, empresa especializada em Felicidade Corporativa e Liderança Positiva, que t... saiba mais