Por que cada vez mais empresas estão aderindo ao movimento “slow work”

O sucesso nem sempre se resume a fazer as coisas o mais rápido possível

Crédito: FarAway/ iStock

Rachel Karl 4 minutos de leitura

Vivemos em um mundo que valoriza a velocidade e que privilegia a quantidade em detrimento da profundidade. Mas uma revolução silenciosa está surgindo. É o chamado movimento slow work, ou movimento do trabalho lento. Ele está ganhando força no mundo dos negócios, especialmente entre as pessoas que buscam um caminho sustentável para o sucesso.

Com a evolução da nossa compreensão sobre a produtividade, mais e mais pessoas estão questionando a noção de que "quanto mais rápido, melhor". Essa mudança para um ritmo de trabalho mais lento e mais consciente não é apenas uma preferência pessoal, mas um movimento estratégico para muitas empresas inovadoras.

Esse movimento se alinha perfeitamente com a crescente ênfase na saúde mental e no bem-estar nos ambientes de trabalho e aponta para um futuro em que se valoriza mais a qualidade do trabalho – e da vida – do que a mera produtividade.

REAVALIANDO A IDEIA DE EFICIÊNCIA

Aquela velha ideia de que estar ocupado significa que você é produtivo vem dos tempos do capitalismo industrial, quando tudo o que importava era o quanto você conseguia produzir e ninguém se importava de verdade com o impacto que isso causava nas pessoas.

Mas, no ambiente corporativo de hoje, essa lógica nem sempre se traduz em sucesso. As empresas que lideram o movimento slow work estão descobrindo que, ao diminuir o ritmo, elas não estão apenas melhorando o bem-estar dos funcionários, mas também melhorando seus resultados.

Um exemplo disso é a Basecamp, uma empresa de software de gerenciamento de projetos e comunicação de equipes sediada em Chicago, conhecida por suas estratégias inovadoras em relação à cultura de trabalho.

Eles implementaram uma semana de trabalho de 32 horas durante os meses de verão em 2008, sem reduzir o salário, promovendo um ambiente que prioriza o descanso e a renovação.

SUSTENTABILIDADE COMO ESTRATÉGIA

O movimento slow work também está ligado à sustentabilidade. Não se trata apenas do impacto ambiental, mas também da criação de empresas que sejam sustentáveis a longo prazo do ponto de vista humano.

Empresas como a Patagônia há muito tempo defendem práticas sustentáveis, não apenas na forma como obtêm seus materiais, mas também na maneira como incentivam seus funcionários a trabalhar.

Essas empresas sabem que, para manter a inovação e a paixão, é necessário permitir que as pessoas administrem sua energia. Elas precisam criar ambientes que incentivem os funcionários a tirar um tempo para recarregar as energias, o que leva a uma maior produtividade e comprometimento geral.

QUALIDADE EM DETRIMENTO DA QUANTIDADE

O movimento slow também enfatiza a qualidade em detrimento da quantidade, um princípio que se aplica tanto ao setor industrial quanto ao de serviços. Na fabricação de produtos, isso pode significar produzir bens duráveis e reparáveis, em vez de descartáveis. No setor de serviços, se traduz no fornecimento de serviços atenciosos e personalizados, em vez de soluções padronizadas.

Observe, por exemplo, as empresas de consultoria que deixaram de medir o sucesso pelas horas faturadas e passaram a se concentrar nos resultados alcançados pelos clientes. Isso não só resulta em clientes mais satisfeitos, mas também em funcionários que encontram mais significado em seu trabalho, porque não precisam mais ter pressa.

Muitos empresários talvez tenham medo de que isso leve a uma redução nos lucros. Mas o podcast HR Locker relatou que o Grupo Wanderlust adotou a semana de trabalho de 32 horas desde julho de 2020. Eles também optaram por dar folga às segundas-feiras em vez da sexta-feira, que é o dia mais comum. A empresa dobrou sua receita desde que fez essa mudança – um exemplo do impacto positivo da semana de trabalho mais curta.

SLOW WORK E O FUTURO DO TRABALHO

Ao olharmos para o futuro, parece que os princípios do movimento slow work vão definir a próxima onda de cultura de trabalho. Em outras palavras, não se trata de trabalhar menos, mas sim de trabalhar melhor.

Trata-se de empresas que se preocupam com os recursos dos quais mais dependem – não apenas com sua propriedade intelectual ou capital corporativo, mas com seus funcionários.

Os líderes que entendem o valor desse movimento estão implementando os princípios do slow work ao reformular os processos de trabalho para serem mais conscientes, promovendo a sustentabilidade em todas as suas formas e reconhecendo que precisam considerar o bem-estar das pessoas para ter sucesso a longo prazo.

O futuro do trabalho pode muito bem depender de quem consegue trabalhar mais rápido, mas, ao mesmo tempo, depende de quem consegue trabalhar de forma mais inteligente. Adotar o movimento do trabalho lento pode ser a chave para abrir um caminho mais saudável, mais sustentável e mais enriquecedor para o sucesso.


SOBRE A AUTORA

Rachel Karl é escritora, empreendedora, coach de negócios e apresentadora do podcast Anti-Hustle. saiba mais