Por que a IA não vai conseguir tomar seu emprego tão cedo (se é que vai)

Diretor de dados explica por que a IA ainda está longe de conseguir competir com a criatividade e o julgamento humano

Crédito: Noussaiba Garti/ Pexels

Tom Barnett 3 minutos de leitura

Os avanços em IA reacenderam o debate sobre a capacidade dos computadores de nos ajudar ou nos substituir totalmente no longo prazo. Funções de computação altamente especializadas – projetadas para resolver problemas que exigem aprendizado e tomada de decisão, como jogar xadrez ou filtrar spam – são chamadas de inteligência artificial estreita.

Já modelos que podem se adaptar e responder a uma ampla gama de estímulos externos, mudando o foco da especialização, são chamados de inteligência artificial geral (IAG).

Alcançar a IAG se tornou um dos principais objetivos dos inovadores tecnológicos e vem atraindo enormes investimentos. Podemos pensar nisso como uma tentativa de criar um software à nossa imagem ou, pelo menos, de acordo com a nossa percepção de como nossas funções cognitivas funcionam.

No extremo do espectro utópico – ou distópico – está a super IA (ou inteligência artificial superinteligente), a forma mais avançada desta tecnologia. Teoricamente, ela teria habilidades superiores às dos humanos – o que potencialmente poderia nos levar a uma vida de lazer ou nos transformar em escravos da super IA.

O objetivo de grande parte da inovação em inteligência artificial é se afastar da hiperespecialização e se tornar mais generalizada. Um computador pode vencer o maior jogador de xadrez, mas será que pode funcionar no mundo real, mesmo que no nível de um cachorro ou gato?

Quanto do trabalho de um advogado poderia ser substituído por algum tipo de IA, seja ela estreita, geral ou super?

Provavelmente não, pelo menos por enquanto. Mas a direção é clara. Enquanto a sociedade está se especializando cada vez mais, a IA está indo na direção oposta, tentando replicar nossa maior vantagem evolutiva – a adaptabilidade.

O Fórum Econômico Mundial prevê que a inteligência artificial substituirá 85 milhões de empregos até 2025. Um estudo de 2023 da Resume Builder sugere que mais de um terço das empresas já está substituindo trabalhadores por IA.

O que isso significa para o futuro do trabalho em um mundo com IAG? Depende de como se vê o que realmente fazemos para viver. Vamos analisar uma profissão que alguns dizem estar super-representada: advogados.

TAREFAS GERAIS E ESPECÍFICAS

A American Bar Association (Associação de Advogados dos EUA) estima que havia cerca de 1,3 milhão de advogados nos Estados Unidos em 2023. No Brasil, são 1,4 milhão, segundo a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Quanto do trabalho de um advogado poderia ser substituído por algum tipo de IA, seja ela estreita, geral ou super? Esta é uma profissão que está além das capacidades dos transformadores generativos pré-treinados (comumente conhecidos como GPTs) mais avançados?

No livro “A Riqueza das Nações”, Adam Smith analisou os passos necessários para produzir um alfinete, concluindo que exigiria 18 tarefas especializadas diferentes. Um trabalhador poderia levar um dia inteiro ou mais para fabricar um único alfinete. Mas, dividindo o trabalho em tarefas individuais entre 10 pessoas, ele afirmou, poderiam ser produzidos mais de 48 mil por dia.

Crédito: Istock

Deixando de lado a questão de se fabricar alfinetes é intelectualmente mais estimulante do que revisar documentos jurídicos, as tarefas necessárias para a revisão de documentos parecem feitas sob medida para a IA estreita. Ferramentas analíticas podem identificar autores, partes de conversas, datas de transmissão e recebimento.

Este é o tipo de tarefa especializada em que os computadores são ótimos praticamente desde sua criação e na qual a inteligência artificial estreita se destaca. Mas a IA poderia assumir a maior parte do trabalho jurídico ou há um elemento de criatividade e julgamento que apenas uma super inteligência artificial especulativa poderia lidar?

O Fórum Econômico Mundial prevê que a IA substituirá 85 milhões de empregos até 2025.

Em outras palavras, onde traçamos a linha entre as tarefas gerais e específicas que realizamos? Quão boa é a IA em analisar os méritos de um caso ou determinar a utilidade de um documento específico e como ele se encaixa em um argumento legal plausível? Por enquanto, eu diria que estamos longe disso.

Seja considerando a revisão de documentos, a redação de contratos, a pesquisa jurídica, o monitoramento de conformidade ou a análise da viabilidade de litígios, atualmente vivemos em um mundo de IA estreita.

A advocacia, particularmente nas tarefas especializadas, pode ser altamente auxiliada pela tecnologia, mas, por enquanto, não será substituída pela inteligência artificial, seja qual for a sua classificação.

Com informações da redação da Fast Company Brasil.


SOBRE O AUTOR

Tom Barnett é sócio e chief data officer do escritório de advocacia Jackson Lewis. saiba mais