Arquitetura vai manter a Vila Olímpica fresca no escaldante verão europeu

Ainda assim, os atletas estão levando seus próprios aparelhos de ar-condicionado portáteis

Crédito: KOZ

Adele Peters 3 minutos de leitura

Paris pode ser muito quente em julho. Há quatro anos, a cidade registrou um recorde de 42,6º C. Com as mudanças climáticas, existe o risco de uma nova onda de calor neste verão do hemisfério norte. Mas a vila onde os atletas ficarão hospedados para os Jogos Olímpicos foi projetada para se manter fresca, sem o uso de ar-condicionado.

Usando métodos alternativos de resfriamento, o design dos edifícios economiza energia e também ajuda a manter o bairro ao redor mais fresco. “O ar-condicionado emite ar quente, o que pode aumentar o efeito de ‘ilha de calor urbana’”, explica Nicolas Ziesel, sócio fundador da KOZ, um dos escritórios de arquitetura que trabalharam no projeto da vila.

Os prédios, que depois vão virar um bairro residencial sustentável, receberão milhares de atletas olímpicos de julho a setembro. Para manter os apartamentos frescos sem sistemas de ar-condicionado convencionais, o primeiro passo foi escolher a localização.

O empreendimento, próximo ao rio Sena, foi planejado para que, quando o vento sopra sobre o rio, o ar fresco flua entre as unidades. A maioria dos quartos tem ventilação cruzada.

Os prédios também contam com isolamento espesso para impedir a entrada de calor. Telhados verdes auxiliam no isolamento e servem de habitat para aves migratórias.

Crédito: KOZ

Persianas nas janelas bloqueiam o sol durante o dia e podem ser abertas à noite. Varandas contínuas criam sombra sobre os apartamentos abaixo delas. Além disso, uma minifloresta com 200 árvores ajudará a resfriar a área.

Dentro dos apartamentos, um sistema geotérmico bombeia água fria através de canos embutidos nos pisos de concreto. O concreto atua como um tampão, armazenando calor durante o dia – que a água fria pode dissipar à noite.

Devido à “inércia térmica” dos pisos, a temperatura sobe muito lentamente. A água, vinda de mais de 60 metros de profundidade, ajuda a manter uma temperatura constante. No inverno, o mesmo sistema pode funcionar ao contrário para aquecer os cômodos.

Crédito: KOZ

Em simulações, os engenheiros descobriram que, mesmo se estivesse 41º C do lado de fora, as temperaturas internas ficariam entre 22º C e 28º C. Os organizadores da Olimpíada afirmam que os apartamentos não devem ultrapassar 26º C à noite.

Os arquitetos projetaram a vila como um exemplo de sustentabilidade. Mas a maioria dos países diz que planeja levar aparelhos de ar-condicionado portáteis, argumentando que um quarto a 26º C poderia afetar o desempenho dos atletas.

A exceção pode ser alguns países de baixa renda que não podem pagar por esses aparelhos, o que levanta novas questões sobre equidade. As mudanças climáticas já estão alterando a forma como muitos atletas treinam – alguns chegam a praticar dentro de câmaras de calor para tentar se preparar.

Crédito: KOZ

Mas, quando os residentes não-olímpicos começarem a chegar, no ano que vem, é mais provável que confiem no design original dos prédios. Poucos parisienses têm ar-condicionado atualmente, e eles podem estar mais dispostos a aceitar a ideia de que, se está quente do lado de fora, não precisa estar frio dentro.

Espera-se que os novos apartamentos sejam pelo menos 6º C mais frescos do que a temperatura externa, e isso pode ser suficiente. “Eles vão perceber que é bastante confortável e tem um baixo custo operacional”, diz Ziesel.

Com o planeta cada vez mais quente, o projeto pode ser um modelo para soluções específicas para manter ambientes frescos e reduzir o consumo de energia, mesmo em prédios que usam ar-condicionado convencional.

“Usar ar-condicionado sem estratégias de design passivo é um absurdo”, argumenta Ziesel. “Ter unidades funcionando a todo vapor só piora as coisas, pois emite ar quente para fora e aumenta a conta de luz e as emissões indiretas de CO2."


SOBRE A AUTORA

Adele Peters é redatora da Fast Company. Ela se concentra em fazer reportagens para solucionar alguns dos maiores problemas do mundo, ... saiba mais