Para a geração Z, música é uma rede social por si mesma
De listas do Spotify Wrapped a aplicativos que transformam seu gosto musical em recibos, a música agora é um novo tipo de moeda social
Compartilhar música costumava ser muito mais difícil – lembra da época em que gravávamos CDs? Mas na era do streaming, é tão fácil quanto enviar uma mensagem de texto. E isso é fundamental para a forma como a geração Z consome música.
Entramos em uma nova era, na qual serviços de streaming se associam a plataformas de mídia social para facilitar o compartilhamento e startups transformam estatísticas em resumos para o TikTok.
Tudo isso faz parte de uma grande mudança: ouvir sozinho deixou de ser a forma natural de consumir música. Agora nós as compartilhamos, um comportamento que imita as próprias redes sociais.
Embora o TikTok tenha se tornado o epicentro do compartilhamento de música – um estudo recente mostrou que 45% dos jovens entre 18 e 24 anos usam redes sociais para descobrir artistas e faixas –, uma rede de aplicativos e experiências surgiu para transformar esta mídia em conteúdo social.
O Spotify é, sem dúvida, a maior e mais influente plataforma de streaming a apostar nisso. Os usuários têm “seguidores”, como no Instagram, e podem ativar um recurso que mostra para quem os segue as músicas que costumam ouvir. Mas o serviço também gerou um mercado secundário de aplicativos que ajudam os ouvintes a compartilhar seu gosto musical com amigos.
Com o login do Spotify, outras plataformas podem acessar os dados da API do usuário e usá-los para transformar estatísticas do que ouvem em algo compartilhável. Michelle Liu criou o Receiptify, um serviço que produz uma lista semelhante a um recibo a partir dessas informações. Mas ela nunca esperou que se tornasse viral.
Nirmal Patel, do Obscurify, conta uma história similar. Sua plataforma, que permite ver o quão obscuro é seu gosto musical em comparação com o ouvinte médio, explodiu no TikTok.
Hoje, esses programas têm um fluxo constante de usuários, o suficiente para colocar anúncios na plataforma e monetizar o engajamento. A escuta social não é apenas um método de consumo, é um novo mercado.
Matt Daniels teve seu próprio analisador de API, o How Bad is Your Spotify?, que viralizou em 2020, com o tráfego atingindo cerca de sete milhões de visualizações. A plataforma, que usa um chatbot de IA para zombar do gosto musical dos usuários, ganhou força por seu tom sarcástico.
“Existe essa ideia de que as músicas que você ouve dizem muito sobre sua identidade e sua visão de mundo”, explica Daniels. “O Spotify Wrapped é basicamente uma maneira de ostentar seu gosto musical de forma humilde, mas também um pouco autodepreciativa. Nosso projeto era extremamente autodepreciativo.”
MÚSICA COMO IDENTIDADE
Natasa Soltic, diretora sênior de produtos do Spotify, diz que a plataforma não se considera uma rede social, mas reconhece que os recursos sociais desempenham um papel cada vez mais importante na experiência dos usuários. “Acreditamos que a música ajuda as pessoas a se conectarem com amigos e familiares”, diz ela.
Mas Soltic lembra que a escuta social é apenas um dos muitos usos do Spotify. “Uma das coisas maravilhosas da nossa plataforma é que não há uma experiência única”, ressalta ela.
“Queremos incentivar os ouvintes a expressarem sua individualidade. Compartilhar seu gosto musical em diferentes plataformas, como Instagram, Snapchat ou iMessage, é uma das maneiras pelas quais fazemos isso.”
O Spotify percebe que, hoje, os usuários não estão apenas compartilhando playlists, mas também estatísticas, pontuações e até autocríticas. São marcadores de identidade, articulados através da música.
Esse é o mercado que os compartilhadores de música estão capitalizando, seja por meio de plataformas consolidadas, como o Spotify, ou microempresas, como o Obscurify.
A geração Z quer cada vez mais compartilhar seus gostos. E a internet, ao que parece, é seu palco.