Estudo aponta que violência contra mulheres na internet está aumentando
Uma nova pesquisa da ONG holandesa Rutgers constatou que 38% das mulheres em âmbito mundial reportaram experiências pessoais com violência virtual
Uma em cada três mulheres – ou 736 milhões de pessoa – já sofreu algum tipo de violência em todo o mundo, tenha sido ela cometida por um parceiro íntimo, por um agressor sexual ou por ambos. Acontece que boa parte dessa violência no mundo off-line está ligada a hábitos virtuais, de acordo com um novo relatório da ONG holandesa Rutgers.
O estudo destaca até que ponto os agressores estão utilizando as novas tecnologias para perpetuar seu controle e a violência contra mulheres e meninas. A pesquisa foi realizada em colaboração com vários serviços de apoio que ajudam mulheres em países como Indonésia, Jordânia, Líbano, Marrocos, Ruanda, África do Sul e Uganda.
No entanto, alertam os autores do relatório, a "violência de gênero facilitada pela tecnologia" geralmente não é vista como uma forma séria de violência de gênero. Essa falta de reconhecimento da gravidade do abuso possibilitado pela tecnologia pode resultar em poucas de denúncias e proteção legal inadequada para as vítimas.
Em Uganda, por exemplo, 49% das mulheres relataram ter sofrido assédio online, mas os mecanismos de conscientização e denúncia continuam inadequados, o que significa que apenas 53% sabiam que podiam fazer uma denúncia às autoridades.
"Isso é algo que temos observado de perto na última década, com a evolução da tecnologia e à medida que começamos a ver mais e mais pessoas se conectando a plataformas como Facebook, Instagram e WhatsApp", constate Kinda Majari, coordenadora de programas da ABAAD no Líbano, organização sem fins lucrativos voltada para o gênero, que trabalhou com a Rutgers no relatório.
A violência contra mulheres e meninas sempre foi um problema, diz Majari, mas tem "crescido muito" nos últimos anos. Mesmo assim, muitas pessoas ainda não acreditam que esse seja um problema sério, diz ela – o que significa que as reclamações, quando surgem, não são tratadas com seriedade.
sabemos que a tecnologia não respeita fronteiras. E esse tipo de violência também ultrapassa qualquer fronteira.
Um dos fatores que motivaram a publicação do relatório foi, de fato, a conscientização sobre o problema, diz Loes Loning, pesquisadora da Rutgers. Ela diz não ter se surpreendido com a prevalência desse tipo de violência baseada em gênero, nem com o fato de que os abusos virtuais e não virtuais muitas vezes se misturam ou passam de uma esfera para outra. Essa é simplesmente a natureza do abuso em um mundo digital, diz ela.
Mas Loning ficou surpresa com o fato de haver tantos pontos em comum na forma como o abuso foi encontrado nos sete países estudados. "Alguns padrões que surgiram se aplicam a todos os países. É claro que sabemos que a tecnologia não respeita fronteiras. E esse tipo de violência também, eu acho, ultrapassa qualquer fronteira."