Idade é nota de corte para empregadores. Só que eles estão errados

Algumas maneiras de você se proteger, só um pouquinho, contra o preconceito de idade e o sentimento de desvalorização

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Jinja Birkenbeuel 4 minutos de leitura

Há alguns anos, quando a minha empresa estava começando a se estabelecer, fui apresentar uma proposta para um novo contrato de criação. Levei comigo um consultor mais velho do que eu, com rugas, barriga de cerveja, calvo e com um portfólio que acumulava 30 anos de redação de discursos corporativos.

Eu queria que ele me acompanhasse porque estava tentando evitar o preconceito com relação à minha própria idade, por ser uma empresária insegura e envergonhada, com medo de entrar sozinha em uma sala de reuniões com painéis de madeira escura e achando que minha experiência não era proporcional ao meu talento.

Durante a reunião, o cliente em potencial me perguntou quantos anos eu tinha. Fiz uma pausa e pensei: "por que ele está me perguntando isso? E se eu disser a verdade?". Desde aquela época, já sabia que as pessoas achavam que eu era 20 anos mais jovem do que de fato era. Estava dividida entre dizer a verdade ou mentir.

Eu estava disposta a correr o risco de perder um contrato lucrativo para ter certeza de que o cliente em potencial não saberia a minha idade, mas acabei cedendo à decisão de dizer a verdade.

No fundo, eu sentia que tinha cometido um erro tático contra o preconceito de idade. Eu estava certa. O homem ficou de boca aberta. Ele olhou para mim, chocado, e disse: "eu não tinha ideia de que você era tão velha". 

E ele não é o único. Uma pesquisa do Transamerica Institute, uma organização sem fins lucrativos, descobriu que mais de um terço (35%) dos empregadores achava que alguém com 58 anos era “velho demais” para ser contratado.

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O envelhecimento é muito mais do que uma questão superficial. O problema não é a aparência, mas a maneira como a pessoa age. "Não solte gargalhadas, não seja bobo; sempre se comporte em público etc."

Sempre lutei contra essa forma de pensar. Mas não importa o quão jovial seja o seu comportamento (especialmente como mulher no mundo dos negócios), você acabará se deparando com o preconceito etário no trabalho, seja vindo de um gerente de contratação ou de um colega que vai procurar maneiras de descobrir sua idade.

Eles não precisam perguntar diretamente. Podem perguntar sobre a música que você ouve, os livros que leu ou seu primeiro show. Assim, eles conseguem formar uma imagem muito clara de sua idade, geração e, por fim, de suas capacidades.

Pesquisa apontou que 35% dos empregadores achava que alguém com 58 anos era “velho demais” para ser contratado.

Eu faço de tudo para esconder minha idade. Quando os clientes em potencial tentam descobrir quantos anos tenho, eu digo a eles: "você sabe que estou no ramo do entretenimento, sou uma palestrante profissional, portanto, preciso manter as aparências. Não falo sobre minha idade". 

Nossa cultura de trabalho depende não apenas de ser jovem, mas também de manter a juventude em níveis tóxicos, da música às dietas que aumentam a juventude, ao treinamento com pesos, ao jejum intermitente e àqueles filtros incômodos do TikTok e do Instagram. Tudo isso foi criado para evitar a aparência de envelhecimento. 

Quando se trata do local de trabalho corporativo, as mulheres mais velhas e experientes que estão procurando emprego têm sérios problemas para passar pela triagem dos currículos. E aquelas que tentam manter seus empregos atuais estão sendo substituídas por mulheres mais jovens e sem filhos.

Mas, deixando a aparência de lado, há maneiras de se proteger, só um pouquinho, contra o preconceito de idade e o sentimento de desvalorização. 

1. Monetize: estabeleça sua atividade secundária (ou, se quiser, pode chamá-la de trabalho relacionado à sua paixão) como um negócio autônomo. Quanto mais velho você fica, mais perto está de ficar velho no trabalho.

Ter uma atividade extra pode não apenas proporcionar uma liberação emocional do sentimento de inadequação, mas também ajudar a recuperar a confiança que vem com o conjunto de habilidades incríveis e que você tem e que foram desenvolvidas com muito esforço.

2. Faça contatos: participe de um grupo de mentores e converse com pessoas que pensam da mesma forma, de modo que você possa falar sobre seus sonhos e desafios. Esses grupos podem rejuvenescer sua mente e seu espírito. 

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3. Escreva: escreva textos sobre suas experiências de trabalho na vida real, seja otimista, com o máximo de conteúdo de valor agregado possível, e compartilhe-os no LinkedIn. Use o LinkedIn para conhecer outros profissionais do seu setor. Escrever, mesmo que você não seja muito bom nisso, pode ser catártico.

4. Compartilhe: ofereça seu conhecimento gratuitamente a jovens aspirantes a estudantes, estagiários ou pessoas que estejam procurando oportunidades de trabalho. Isso não apenas eleva sua marca profissional como também o mantém relevante e o ajuda a se sentir bem consigo mesmo.

5. Desapegue: A vantagem de ter pessoas muito jovens comandando a empresa é que elas podem não ter contexto histórico para nada. Fique na sua e os observe construindo e errando, depois construindo novamente e tendo sucesso. Deixe que eles o procurem para pedir conselhos e ideias. Talvez a narrativa de que nosso conhecimento é mais valioso do que a verdade de um jovem aprendiz seja falsa.

Se você deseja permanecer no mercado, seja como empresário ou funcionário com carteira assinada, acompanhar o futuro do trabalho aprendendo com os iniciantes talvez possa ajudar a todos nós a construir um mundo de trabalho novo e interessante, que possa realmente ser diferente.


SOBRE A AUTORA

JinJa Birkenbeuel é CEO da Birk Creative, apresentadora do podcas "The Honest Field Guide" e digital coach do Google. saiba mais