Patagonia conseguiu finalmente tornar a roupa de mergulho “reciclável”

As roupas de mergulho são prejudiciais para o meio ambiente. Mas um processo de reciclagem inovador pode mudar isso

Crédito: Scott Soens/ Patagônia

Elizabeth Segran 4 minutos de leitura

Em geral, designers de produtos têm como missão criar produtos que seus clientes vão amar. É isso que os da Patagônia fazem, mas eles também têm uma tarefa muito mais difícil: descobrir como consertar esse produto e encontrar uma maneira de reciclá-lo. 

Muitas vezes, esse processo pode levar anos. Tomemos como exemplo as roupas de mergulho da marca, que foram lançadas pela primeira vez há cerca de duas décadas. Depois de anos aprimorando o conceito para torná-las o mais ecologicamente corretas possível, os designers da Patagonia se empenharam em encontrar uma maneira de reciclá-las.

Este ano, a empresa finalmente encontrou uma maneira de fazer isso com a ajuda da Bolder Industries, uma empresa focada no desenvolvimento de soluções circulares para produtos de borracha e plástico.

Juntas, as duas empresas descobriram uma maneira de extrair o negro de fumo (ou negro de carbono) – um material pouco conhecido que compõe 20% de todas as roupas de mergulho – e reutilizá-lo em futuras roupas de mergulho.

A DESCOBERTA DO MATERIAL

Como o próprio nome indica, o material é uma forma de carbono preto. Ele é amplamente utilizado como pigmento em todos os tipos de produtos plásticos, desde shorts de ginástica até dispositivos eletrônicos. O produto químico também compõe cerca de 20% de todos os trajes de mergulho porque, além de fornecer um pigmento preto, proporciona resistência estrutural à roupa.

A Bolder Industries desenvolveu uma maneira de vaporizar as roupas de mergulho, o que permite isolar o negro de fumo para que ele possa ser extraído. O material é coletado para que possa ser usado na produção da próxima coleção de roupas de mergulho da Patagônia.

Negro de fumo reciclado produzido a partir de pneus e roupas de mergulho antigas (Crédito: Ryan ‘Chachi’ Craig/ Patagonia)

Essa inovação coloca a Patagônia um passo à frente da concorrência. Em breve, todas as marcas serão forçadas a assumir a responsabilidade pelo que acontece com seus produtos no final de sua vida útil. 

Na União Europeia, bem como em Nova York e na Califórnia, já existem legislações em vigor com foco na Responsabilidade Estendida do Produtor, que obriga as empresas a tornarem seus produtos recicláveis e faz com que elas arquem com os custos da reciclagem.

O DESAFIO DE DECOMPOR O PRODUTO

Assim que a Patagônia descobriu uma maneira de fabricar uma roupa de mergulho mais sustentável, a equipe já começou a pensar em como reciclá-las para transformá-las em trajes novos.

Isso faz parte da filosofia mais ampla da empresa em relação ao design, que é garantir que seus produtos durem o máximo possível e encontrar uma maneira de reciclar adequadamente cada parte de uma peça no final de sua vida útil.

Crédito: Ryan Struck/ Patagonia

A Patagônia desenvolveu programas em toda a empresa para prolongar a vida útil dos produtos. Ela tem um serviço de reparos bastante amplo, que permite que os clientes visitem qualquer loja e consertem seus produtos gratuitamente.

Quando o cliente termina de usar o produto, a Patagônia procura mantê-lo em circulação pelo maior tempo possível. Os itens que tiveram pouco uso podem ser revendidos no site de segunda mão da marca, chamado Worn Wear

Crédito: Scott Soens/ Patagonia

A Patagônia também recolhe restos de tecido de suas fábricas e convida os clientes a doar roupas que não podem mais ser consertadas em pontos de coleta nas lojas, para que a empresa possa transformá-las em novos produtos, em um programa conhecido como ReCrafted.

Mas a última peça desse quebra-cabeça é encontrar uma maneira de reciclar de forma responsável os produtos totalmente inutilizáveis e que, caso contrário, seriam descartados em aterros sanitários. E, em última análise, a Patagônia quer criar produtos que sejam reciclados infinitamente e transformados em novos.

Crédito: Are Frapwell/ Patagonia

A perspectiva mais ampla é a de poder criar novos produtos a partir de produtos antigos, o que evita a necessidade de extrair matérias-primas para produzir bens de consumo. A possibilidade recém-descoberta de extrair negro de fumo de roupas de mergulho velhas e reutilizá-lo é mais um passo na concretização dessa ideia.

A Patagônia está tentando divulgar que suas roupas de mergulho agora são recicláveis. Ela entrou em contato com todos os seus clientes perguntando se eles possuem alguma roupa de mergulho que não tem mais como ser consertada (a Bolder Industries pode reciclar e extrair o negro de fumo de todos os trajes, inclusive os de neoprene). 

    A empresa também está comunicando aos clientes nas lojas que eles podem devolver suas roupas de mergulho quando elas chegarem ao fim de sua vida útil. "Esperamos que isso só aconteça daqui a décadas, porque nossa equipe é muito habilidosa no conserto desses trajes", diz Corey Simpson, gerente de comunicações da Patagônia.


    SOBRE A AUTORA

    Elizabeth Segran, Ph.D., é colunista na Fast Company. Ela mora em Cambridge, Massachusetts. saiba mais