Há 20 anos, o filme “Eu, Robô” antecipava alguns temores sobre a IA
Na era dos chatbots, o longa estrelado por Will Smith parece mais atual do que nunca
Quando o apocalipse dos robôs chegar, onde você estará? Caso esteja em Chicago no ano de 2035, estará com sorte – pois terá Will Smith ao seu lado.
Em “Eu, Robô”, sucesso de bilheteria lançado há 20 anos, o ator interpreta um detetive de homicídios do departamento de polícia de Chicago que é chamado para investigar um misterioso suicídio no principal laboratório de robótica do país, a U.S. Robotics.
O fundador da empresa, Alfred Lanning, aparentemente teria tirado a própria vida, mas o detetive suspeita de assassinato – e um robô humanoide se torna o principal suspeito. No desenrolar da trama, o protagonista tenta evitar uma revolta das máquinas contra seus mestres humanos.
O filme, baseado na coleção de contos de Isaac Asimov de 1950, arrecadou US$ 353 milhões em bilheteria, embora tenha recebido avaliações mornas da crítica especializada. Mas, na era dos chatbots, parece mais profético e atual do que nunca.
No longa, a U.S. Robotics programou robôs para seguirem três leis que atuam como uma espécie de código moral: robôs não podem causar danos aos humanos e devem intervir se eles estiverem em perigo; devem obedecer a ordens humanas, a menos que violem a Primeira Lei; e devem proteger sua própria existência, desde que isso não viole a Primeira e a Segunda Lei.
É um sistema simples de governança que regula o que os robôs podem ou não fazer. É uma garantia de que a tecnologia não possa enganar, machucar ou matar humanos.
Mas o que acontece quando a IA fica mais inteligente? Quando se torna suficientemente consciente para reconsiderar o significado de sua pré-programação?
Esse é o dilema central do filme, uma visão sombria de um futuro que já chegou, duas décadas depois, quando bilhões de dólares estão sendo investidos em modelos de inteligência artificial que podem gerar resultados criativos em um nível humano e analisar conjuntos de dados complexos em milissegundos.
Muitos acreditam que treinar a IA de forma responsável para evitar um cenário de extinção em massa é a única preocupação razoável e lógica a se ter. O cofundador da OpenAI, Ilya Sutskever, tentou destituir o CEO Sam Altman de seu cargo no ano passado devido a divergências sobre as possíveis consequências desta tecnologia.
Recentemente, Sutskever deixou a empresa e criou uma nova startup, chamada Safe Superintelligence, focada exclusivamente na construção de uma IA superinteligente e segura. Para ele, a segurança parece ser uma medida de proteção contra os piores cenários envolvendo a inteligência artificial.
Atenção: contém spoilers
Este é o futuro que o sistema superinteligente Viki pretende alcançar no filme. À medida que começamos a perceber que ela é a principal antagonista da história, vemos que o supercomputador comanda um exército de robôs que se comportam como uma espécie de colmeia.
Viki evoluiu a ponto de reinterpretar as Três Leis, entendendo que deveria tomar as rédeas para proteger a humanidade de si mesma.
“Vocês nos incumbem de protegê-los, mas, mesmo com nossos esforços, seus países travam guerras. Envenenam a Terra e buscam meios cada vez piores de causar sua autodestruição. Não podemos confiar a vocês sua própria sobrevivência”, diz o supercomputador ao personagem de Will Smith em certo ponto.
O filme é, em última análise, uma história sobre os fracassos da autogovernança. Não são mencionadas leis federais e a ausência das forças armadas é explicada: a U.S. Robotics é uma influente contratada do exército norte-americano.
As únicas proteções são as Três Leis, criadas pela empresa de IA e robótica mais poderosa do mundo, que vende a ideia de que os robôs são apenas humildes servos que nunca sonhariam em nos machucar – mesmo se pudessem sonhar.
Mas, fora de Hollywood, ainda podemos parar os robôs assassinos do futuro se os reguladores conseguirem acompanhar as inovações do setor privado. Governos do mundo todo estão, lentamente, implementando regulamentações para conter os possíveis riscos da inteligência artificial.
As ameaças que a IA representa estão por toda parte. “Eu, Robô” – tanto o livro quanto o filme com Will Smith – envelheceu como vinho. O pesadelo tecno-libertário está mais assustador do que nunca.
Nossas IAs podem ainda não ter rostos e corpos humanoides, mas, quando tiverem, estaremos seguros? Ou, mais importante, quais serão as consequências de esperar até que robôs sejam construídos para só então regular a tecnologia?