Olimpíadas de 2024 serão o teste definitivo da IA em transmissões

COI implementa "agenda" de uso de IA em eventos esportivos. No Brasil, Globo testa machine learning e realidade virtual em estúdio de transmissão

Crédito: Divulgação/ TV Globo

Camila de Lira 4 minutos de leitura

As Olimpíadas de Paris estão no começo, mas já tem uma grande medalhista de ouro: a inteligência artificial. A tecnologia estará em vários pontos da transmissão e dos locais onde acontecem as competições.

O Comitê Olímpico Internacional (COI) usará a tecnologia em diversas áreas, desde a proteção contra o abuso nas redes sociais até a criação de vídeos em vários formatos e idiomas. O destaque, no entanto, vai para os sistemas de análise biométrica de atletas e de reconhecimento gráfico nos estádios.

As câmeras da patrocinadora oficial da cronometragem, a Omega, farão mais do que indicar precisamente os milésimos de segundo que os atletas cravaram. Os aparelhos contam com uma visão computacional, capaz de reconhecer e analisar certos movimentos. Até debaixo d' água será possível calcular cada braçada e distância dos nadadores.

Com IA generativa, os dados captados viram gráficos de performance para o público. A tecnologia também vai ajudar a plateia – e as equipes de transmissão – a entender em tempo real o que está acontecendo em competições mais longas, como vela, triatlo e maratona aquática. 

PARIS, RJ

Na França, o COI utiliza tecnologia da Alibaba para mandar sistemas de replay multi-câmeras, que usam IA. Todos os canais que transmitem os jogos tiveram acesso a isso desde o início.

Com um estúdio virtual localizado no meio da Torre Eiffel, a Globo largou na frente na maratona da transmissão olímpica com IA. A emissora levou dois anos para desenvolver uma tecnologia própria de estúdio virtual, com a qual modelou Paris de maneira hiper real – e em tempo real. 

O estúdio tem 150 metros quadrados de telas em resolução 8K. Em formato circular, lembra a Esfera de Las Vegas. E, de fato, é mais do que mera semelhança – foi inspiração. A tecnologia de machine learning que dá à imagem resolução e capacidade de ser "animada" em tempo real é igual à que opera na casa de shows de Vegas. 

Segundo o diretor de pós-produção e design da TV Globo, Fernando Alonso, a ideia não era replicar Paris, mas criar uma "Paris nossa, em que podemos ter o controle". Por meio de comandos em um tablet, a produção do estúdio consegue mudar o céu da cidade-luz-virtual, assim como acrescentar luzes ou cartazes em prédios. Dá para mudar o ângulo da câmera e, também em tempo real, acrescentar nuvens, chuva ou pôr-do-sol.

Crédito: Divulgação/ TV Globo

Essa capacidade de customização do local e de rápida adaptação possibilita que cada programa tenha uma identidade visual própria. É quase como uma pós-produção, só que ao vivo. E sendo vista também por quem está dentro do estúdio.

Alonso diz que a equipe fez um processo de pesquisa em estúdios de Hollywood. Por lá, esse tipo de tecnologia também está sendo desenvolvida para apoiar o trabalho de atores e de diretores em filmes que usam a famosa "tela azul".

Tudo começou nas Olimpíadas de Tóquio, conta o diretor de conteúdo de esportes da Globo, Renato Ribeiro. "Fomos obrigados a ser criativos e eficientes em Tóquio. Por conta da pandemia, não podíamos mandar muitas pessoas. Então, passamos a criar formas diferentes de se fazer o estúdio virtual."

Crédito: Reprodução/ Redes Sociais

Outro detalhe da Paris da Globo é que ela teve um "empurrão" do Fortnite. Sim, a empresa criadora do famoso jogo online também é detentora da Unreal Engine, plataforma de criação de realidade virtual 3D. 

Coincidentemente, a Unreal Engine foi utilizada por especialistas franceses para restaurar o interior da catedral de Notre-Dame depois do incêndio que afetou o ícone parisiense em 2019.

Alonso diz que a emissora usou a ferramenta do Fortnite como base para o desenvolvimento da plataforma de IA. A ela, a equipe da Globo acrescentou dados de clima, tempo e fuso-horário, criando uma forma de prever como Paris vai se comportar durante os Jogos Olímpicos. 

AGENDA OLÍMPICA DE IA

Em abril, o COI  assinou um compromisso chamado "Agenda Olímpica de IA", que trata não só da inteligência artificial para as transmissões de 2024, mas para fortalecer o futuro do esporte olímpico. Durante a apresentação do documento, o presidente do COI, Thomas Bach, explicou que a tecnologia poderá ser usada para encontrar os futuros medalhistas de ouro.

"A IA pode ajudar a identificar atletas e talentos em todos os cantos do mundo. Ela pode fornecer métodos de treinamento personalizados, equipamentos esportivos superiores e programas individualizados para manter os atletas de forma saudável", afirmou Bach.

    As câmeras 3D que são usadas para transmitir o movimento dos atletas, por exemplo, vão dar insights biomecânicos para técnicos, melhorando a atuação dos atletas. Há quem acredite que tais tecnologias vão levar a competições ainda mais acirradas e novos recordes. 

    Agora, a IA sempre terá Paris.


    SOBRE A AUTORA

    Camila de Lira é jornalista formada pela ECA-USP, early adopter de tecnologias (e curiosa nata) e especializada em storytelling para n... saiba mais