Como os atletas olímpicos dominam suas mentes para atuar sob pressão
A capacidade de se recuperar de reveses, como desempenhos fracos ou lesões, é crucial
Participar de uma Olimpíada é uma conquista rara. As pressões e o estresse que acompanham essa experiência são únicos. Seja um atleta lutando para chegar em primeiro no nado peito ou buscando a medalha de ouro no pentatlo moderno, seu estado mental desempenha um papel fundamental.
Nos últimos Jogos Olímpicos, vimos o peso que competir contra atletas do mais alto nível pode ter. A ginasta norte-americana Simone Biles desistiu de participar das últimas cinco provas da Olimpíada de Tóquio para cuidar de sua saúde mental. Michael Phelps, que detém 23 medalhas de ouro, descreveu o processo de colapso psicológico que ocorre após competir nos Jogos.
Quando até mesmo pequenos erros podem custar uma medalha, como os atletas podem usar princípios da psicologia para manter suas mentes em um estado de não-estresse e conseguir competir sob pressão?
RESILIÊNCIA
A capacidade de se recuperar de reveses, como desempenhos fracos ou lesões, é crucial. Processos mentais e comportamentos, como a regulação emocional (reconhecer e controlar emoções como ansiedade), permite que os atletas olímpicos mantenham o foco e a determinação diante de toda a atenção global que vem com a competição no maior palco do mundo.
A resiliência não é uma característica fixa, mas um processo dinâmico que evolui através da interação entre características individuais (como personalidade e habilidades psicológicas) e o ambiente (como o suporte social do atleta).
Um estudo de 2012 sobre a resiliência de campeões olímpicos destacou que uma série de fatores psicológicos, como personalidade positiva, motivação, confiança e foco, além de sentir que têm apoio social, ajuda a protegê-los do estresse causado pela competição. Esses fatores ajudam a aumentar a resiliência do atleta e a probabilidade de ele atingir seu melhor desempenho.
muitos atletas têm rotinas pré-performance bem ensaiadas que criam uma sensação de normalidade e controle.
O suporte social significa que não precisam sentir que estão sozinhos. Quando podem contar com redes de apoio de familiares, amigos e treinadores, os atletas ganham mais força emocional e se sentem mais motivados.
A resiliência os incentiva a usar habilidades e características individuais e os protege dos efeitos negativos dos estressores que, inevitavelmente, surgem com a competição.
Um remador pode ter que enfrentar problemas como condições climáticas adversas. Mas a resiliência permite que ele mantenha o foco e se ajuste às condições, por exemplo, usando outra técnica de remada.
ESTAR PRESENTE
Viver o presente pode ajudar os atletas a evitar se sentir sobrecarregados, consumidos pela importância do evento ou distraídos pela decepção de falhas passadas e pela pressão das altas expectativas de medalhas.
Para ajudar a permanecer no momento presente, eles podem usar uma variedade de estratégias. Meditação baseada em mindfulness e exercícios de respiração podem ajudá-los a se sentir calmos e focados. Também podem usar a visualização de desempenho para ensaiar movimentos ou rotinas específicas. Pense em um jogador de basquete visualizando um arremesso de lance livre.
Da mesma forma, muitos atletas têm rotinas pré-performance bem ensaiadas que criam uma sensação de normalidade e controle. Por exemplo, um tenista pode quicar a bola um certo número de vezes antes do saque. Estar presente os ajuda a reduzir a ansiedade, manter o foco na tarefa e permite que vivenciem (e, com sorte, aproveitem) o momento.
PROTEGENDO O BEM-ESTAR MENTAL
O fracasso pode ser devastador e os atletas podem ter uma relação complicada com a vitória. Alguns experimentam a chamada “tristeza pós-olímpica”, uma sensação de vazio, perda de autoestima e até depressão após o torneio, mesmo que tenha ganhado uma medalha.
A ciclista britânica Victoria Pendleton descreveu para o “The Telegraph”, em 2016, esse fenômeno: “é quase mais fácil ficar em segundo lugar porque há algo a buscar quando termina. Quando você vence, de repente se sente perdido.”
Quando podem contar com redes de apoio, os atletas ganham mais força emocional e se sentem mais motivados.
Os atletas olímpicos, como o resto de nós, precisam priorizar o sono e o descanso para se recarregar mentalmente. Um estudo realizado em 2020 destacou a relação entre a manutenção do bem-estar mental e o aumento do desempenho atlético.
Para garantir isso, os atletas contam com profissionais da equipe de apoio, como nutricionistas esportivos, que garantem uma dieta equilibrada que atenda às necessidades físicas do evento, ajudando a proteger tanto a saúde física quanto a mental.
Também trabalham com psicólogos durante seu treinamento para administrar os desafios à medida que surgem. Se um atleta começar a se sentir ansioso antes da prova, ele pode praticar mindfulness ou reestruturação cognitiva, técnicas que ajudam a perceber e mudar padrões de pensamento negativos.
Os esportistas olímpicos e sua equipe de apoio precisam cuidar tanto da pessoa quanto do atleta para proteger seu bem-estar. Isso lhes dá mais chances de atingir seu melhor desempenho e evitar a tristeza pós-olímpica.
Este artigo foi publicado no “The Conversation” e reproduzido sob licença Creative Common. Leia o artigo original.