Trabalhadores remotos estão solitários, mas voltar ao presencial não é solução

Especialista em recrutamento de talentos criativos dá três dicas para ajudar trabalhadores remotos e híbridos a se sentirem menos sozinhos

Crédito: Kateryna Kovarzh/ iStock

Rohshann Pilla 4 minutos de leitura

Pesquisa recente feita pela Gallup aponta que um em cada cinco trabalhadores no mundo se sente solitário. O número é ainda maior (um em cada quatro) entre aqueles que trabalham exclusivamente de forma remota.

No ano passado, um levantamento da Bright Horizons revelou que mais de 40% dos trabalhadores exclusivamente remotos que têm filhos podem ficar sem sair de casa por muitos dias consecutivos.

Essas pesquisas refletem o crescimento do número de queixas sobre solidão entre trabalhadores remotos. E, ainda que alguns usem essas queixas como argumento de que os funcionários devem voltar ao presencial em tempo integral, a modalidade híbrida e remota chegou para ficar.

Assim sendo, cabe aos empregadores combater essa crise em ascensão e tomar providências para fortalecer os laços sociais e a conexão entre os trabalhadores, independentemente de onde eles estiverem.

Aqui estão três medidas que gestores podem adotar para lidar com a crise da solidão dos trabalhadores remotos, e que não envolvem forçá-los a voltar ao escritório.

1. Crie grupos de recursos de funcionários (ERGs)

Uma boa forma de promover a interação entre os funcionários é por meio da criação de Grupos de Recursos de Funcionários (ou ERGs, na sigla em inglês). Os ERGs estão normalmente associados a iniciativas de estímulo à diversidade, equidade e inclusão no ambiente corporativo, mas podem também contribuir para o combate à epidemia de solidão que assola os trabalhadores.

Mais de 65% de membros de Grupos de Recursos de Funcionários entrevistados pela McKinsey disseram que os ERGs incentivam a socialização, o que coloca esse item no topo da lista das categorias mais eficazes de grupos desse tipo.

Quando bem executados, os ERGs podem oferecer espaços seguros de diálogo franco que permitem que os funcionários estabeleçam conexões verdadeiras uns com os outros.

Na minha empresa, os ERGs – que incluem grupos de apoio, de luto, grupos LGBTQIAP+, grupos religiosos, etc. – criam espaços nos quais as pessoas podem debater questões sobre identidade e experiências pessoais, assim como tópicos marginalizados e temas atuais.

Quando os funcionários têm a oportunidade de falar abertamente sobre eventos recentes, política, saúde mental e outros temas que afetam seu dia a dia, eles passam a se sentir mais seguros no ambiente de trabalho e mais próximos de seus pares e da empresa.

2. Estimule o bate-papo

Também cabe às empresas estimular interações mais informais, para combater a solidão antes que ela atinja graus alarmantes. Com grupos de conversa online, as pessoas podem compartilhar experiências, hobbies e interesses em comum de forma mais descontraída, e tratar de assuntos que vão além de prazos e relatórios.

Para temas mais delicados, como saúde mental, as empresas podem criar canais de apoio por meio dos quais os funcionários consigam manter o anonimato e falar abertamente sobre suas experiências pessoais.

Para garantir que esses esforços vão atrair todos da empresa, uma opção é oferecer um amplo leque de atividades com diferentes graus de comprometimento e pré-requisitos. Por exemplo, minha equipe tem a opção de fazer encontros informais em salas virtuais para bater papo com os colegas, sem compromisso e no ritmo deles.

Os gestores podem também sugerir dinâmicas de grupo para ajudar os funcionários a sair da zona de conforto e conhecer melhor as pessoas com quem trabalham. Em geral, uma vez incentivados, eles passam a reconhecer o valor dessas interações e se sentem mais dispostos a participar de atividades sociais.

3. Proporcione diferentes oportunidades de interação

Ainda que as pesquisas provem que o trabalho remoto traz uma série de vantagens, ao permitir que os trabalhadores morem onde quiserem, evitem perder tempo com transporte e passem mais tempo com a família, a modalidade de fato pode contribuir para o agravamento do sentimento de solidão que já acomete a sociedade como um todo.

O cirurgião-geral dos Estados Unidos, Vivek Murthy, publicou no ano passado um aviso alertando, entre outras coisas, que a solidão aumenta as chances de morte prematura em até 60%.

Para os trabalhadores em tempo integral, o trabalho é parte significativa de sua vida social. Os empregadores têm nas mãos a oportunidade de garantir que as relações no ambiente de trabalho sejam proveitosas, significativas e envolventes.

À medida que as empresas se adaptam à nova lógica do trabalho remoto e híbrido, os gestores devem tomar medidas para dar apoio aos seus funcionários, onde quer que eles estejam.

    Para tanto, é preciso que eles se esforcem para criar espaços nos quais as pessoas possam interagir, independentemente de sua localização, e para oferecer recursos que combatam a solidão e abordem questões ligadas à saúde mental assim que elas se manifestem.

    Trabalhar em casa não precisa ser equivalente a trabalhar sozinho. É papel dos gestores reduzir o sentimento de solidão no ambiente de trabalho e garantir a saúde e o bem-estar de cada um de seus funcionários.


    SOBRE A AUTORA

    Rohshann Pilla é presidente da Aquent Talent, especializada na contratação de profissionais de marketing, criação e design. saiba mais