5 tendências em design para 2024
Em meio a amplitude de temas que vão dar o tom das criações este ano, há um desafio em comum: como tornar o futuro ainda mais humano?
Conforto, "desestresse", inteligência artificial generativa e regeneração do meio ambiente. Esses assuntos vão movimentar o mundo do design em 2024.
Especialistas apontaram para a Fast Company Brasil as cinco principais tendências do setor para o ano que vem.
1. Conforto em primeiro lugar
A regra fundamental para o design de produtos físicos chega na dimensão digital. Mais do que fazer as pessoas entenderem ou se entreterem com as criações, a onda de 2024 será deixar o espectador "desestressado", em paz.
A cor do ano da Pantone, o Peach Fuzz, evoca aconchego, paz e delicadeza. A diretora da Pantone, Leatrice Eiseman, buscou um tom para refletir o “desejo inato por proximidade e conexão”.
O escritor e especialista em design sustentável André Carvalhal lembra que a Suvinil também lançou a cor de 2024 com o nome "conforto”. “Devemos ver cada vez mais narrativas relacionadas a cura, cuidado, escapismo… Em contrapartida a tudo o que está acontecendo no mundo”, diz Carvalhal.
De acordo com o relatório “Big Ideas”, da consultoria WGSN, a tendência reflete o fim da hustle culture (algo como "cultura de se trabalhar duro") para o começo da cultura do cuidado, na qual as pessoas priorizam o bem-estar.
2. IA generativa? Que tal um assistente?
Se em 2023 os sistemas de IA generativa fizeram barulho no mundo do design, em 2024 a tendência é outra: assistentes pessoais usando a tecnologia. Segundo o designer, professor e líder de estratégia da TDS Company, André Neves, a inteligência artificial generativa vai sair de ferramentas como as da Adobe ou Midjourney e vai entrar, de fato, no dia a dia do designer.
Mais do que fazer as pessoas entenderem ou se entreterem, a onda de 2024 será deixar o espectador "desestressado", em paz.
“Em 2024, os designers devem começar a entender que muito mais interessante do que usar a IA generativa de alguma ferramenta será criar um assistente baseado nessa tecnologia que seja capaz de ajudá-lo a trabalhar melhor e mais rápido”, afirma. Os assistentes são preparados para replicar estilos, princípios visuais e escrita que os próprios designers já usam.
Na visão de Neves, os assistentes poderão ser serviços que os designers vão ofertar aos clientes. “Eles serão uma forma de fazer com que times compostos por pessoas que não são da área de design consigam realizar melhor as atividades profissionais”, explica.
3. Seria o fim do design thinking?
Máquinas e meio ambiente entrarão na equação do designer, o que deve provocar mudanças nos processos de design thinking. Um dos sinais para esta transformação que ocorrerá em 2024 já aconteceu: a queda da Ideo, uma das principais agências globais de design e responsável pela popularização do termo design thinking.
Para a professora da ESPM e designer ecossistêmica Coral Michelin, a ideia de que o ser humano é o único centro da criação do design passará por uma mudança radical. “O tempo de projetar levando em consideração apenas as necessidades humanas acabou. Agora estamos enxergando novas abordagens que incluem preocupações com atores não-humanos”, aponta.
A professora pondera que não é só a IA que está alterando o planeta, como também a crise climática. Ambos forçam uma “ruptura” com modelos centrados na resposta humana. Um produto precisa ser projetado também pensando-se no impacto que terá no ecossistema, seja ele o planeta ou o sistema de máquinas que podem alterar a percepção humana.
4. Desperdício zero, consumo mínimo
Conectado ao planeta, a tendência de zero desperdício chegará ao design. A ideia aqui é usar tudo do material. No Pinterest, pesquisas sobre receitas com sobras aumentaram em 165% em 2023. As buscas por cortes de tecido sem desperdício tiveram alta de 80%.
“A sustentabilidade e o meio ambiente nunca foram tão discutidos. Para marcas e profissionais, esses insights podem aparecer em produtos multifuncionais e reciclados, campanhas que incentivam e dão ênfase à reutilização e até mesmo cursos e workshops com tutoriais e DIYs [do-it-yourself, ou faça você mesmo] sobre o tema”, afirma Rogério Nicolai, diretor de negócios do Pinterest no Brasil.
Do lado de quem está no design de produtos, a mentalidade do uso máximo dos recursos será necessária. “Diante das questões climáticas se agravando, vamos viver cada vez mais com restrições de recursos. Alguns materiais ficarão cada vez mais caros e raros”, alerta Carvalhal.
5. Redesenhando o fim do mundo
Longe de serem resolvidas, questões como o caos climático e humanitário vão tangenciar o cotidiano do profissional de design. Seja no pensar sobre materiais, sobre a rapidez com que se produz ou o bem-estar que se cria. Para o CEO da Tátil Design, Fred Gelli, tudo isso faz parte de uma tendência que deve se acelerar: o comprometimento em criar futuros possíveis.
Um produto precisa ser projetado também pensando-se no impacto que terá no ecossistema.
A WGSN tem um outro nome para o que Gelli descreveu: protopia. Segundo a consultoria, o consumidor de 2024 espera que das empresas não só ideias, mas ações efetivas para provocar mudanças contra o caos climático. Não está mais no discurso, mas no que é feito. O design terá, em 2024, a chance de assumir o papel de ferramenta de transformação.
Será a hora de repensar as estruturas do que trouxe o mundo até aqui e recriar caminhos para os próximos anos que afastem o planeta do cenário distópico das previsões. “O futuro é um grande desafio criativo, por isso o designer é tão importante. Há potencial criativo para desenhar futuros positivos, com espaço para a gente se inspirar e se movimentar como espécie”, diz Gelli.