A inovação a serviço do resultado

Crédito: Fast Company Brasil

Luis Felipe Fernandes 4 minutos de leitura

Há um jeito melhor de inovar. Com mais velocidade, menos risco, aprendendo mais no processo. Não é nenhum segredo, e o fato de mais organizações não o adotarem é, até certo ponto, intrigante. Miopia? Não exatamente. O problema não é a visão, é o visionário. Esse jeito melhor não é heroico. Não depende de “aha moments”. Tem pouco glamour. É inovação de resultados.O mercado acha que inovar é assumir riscos. O que faz a diferença é o contrário. É ser ousado com o menor risco possível. Cultuamos visionários solitários apesar das evidências em contrário. A inovação não vem só do “quem”. Ela vem também do “como”.Às vezes, é preciso trocar romantismo por pragmatismo. Inovação é resolver um problema de uma forma não prevista ou mapeada, que gere valor para todas as partes interessadas: o time, o cliente, o cliente do cliente. É resultado.Como? Qual o melhor jeito de reduzir riscos na inovação? Com base no método do design.Design é o meio para chegar à inovação. Transforma suposições em certezas. Tira o “achismo” da equação. É um grande redutor de riscos. É, portanto, uma forma mais eficiente de inovar.A inovação de resultados acontece mais nos bastidores, e talvez por isso, pareça um segredo.Em vez do designer celebridade, design a várias mãos.Em vez de inspiração pura, uma cultura de trabalho.Processos de inovação focados em resultados, não só em ideias geniais.PÉ NA ÁGUAPor que tantos produtos falham? Em 42% dos casos, porque não há necessidade deles, segundo pesquisa da CBInsights, do Vale do Silício. Sim, 42% dos negócios morrem por buscar resolver problemas que nem mesmo existem. É a primeira causa mortis de jovens empresas, à frente inclusive da falta de dinheiro e de talentos.O design serve para desarmar essa armadilha, basicamente por conta da experimentação. Do que chamo de “botar o pé na água”, isto é, fazer um teste rápido para sentir se vale a pena mergulhar.  Antes de investir tempo e dinheiro no desenvolvimento de alguma coisa, primeiro ponho o pé na água, vejo se aquilo faz sentido e, se fizer, aí sim, pulo de cabeça.Podemos pensar, também, em ondas sucessivas. Na onda um, tenho só a ideia. Por mais incrível que ela seja, o risco é muito grande. Se o nível de incerteza é muito grande, não faz sentido botar um caminhão de dinheiro nela. O melhor é aplicar um recurso limitado, para botar o pé na água e checar se a ideia faz sentido.Faz? Então, vamos para a onda dois, na qual aportamos um pouco mais de dinheiro e corremos um pouco mais de risco para validar a ideia. À medida que as ondas vão se sucedendo, justifica-se o aumento (gradual) dos investimentos.As pessoas querem o produto? Sim. Mas como querem? A que preço? Em que canal? Com que diferencial? Assim, vão-se mapeando certezas e mitigando os riscos, um por um, à medida que se está construindo o produto, garantindo que ele tenha cada vez mais adesão e engajamento.Em nosso processo de inovação, o que fazemos é trazer essa lógica de venture capital para novos produtos dentro das empresas. Não estamos inventando a roda, mas adaptando um método.O importante é nunca, nunca mesmo, gastar dinheiro, energia e tempo nos problemas errados.DE DENTRO PARA FORAUm exemplo concreto? Quando fomos procurados pela Via (antes chamada Via Varejo), um dos maiores grupos varejistas do país, dono das Casas Bahia e do Ponto (antes chamado Ponto Frio), o briefing era a criação de um aplicativo, com o objetivo de melhorar as vendas e superar a persistente dificuldade no fluxo de aprovação de compras com financiamento, carro-chefe da empresa em termos de rentabilidade.Passadas algumas semanas de trabalho, entendemos que o problema era outro. No fim das contas, a dor não estava na interface, mas sim no back office, menos visível. A grande dificuldade dos vendedores não era fechar negócios. O que faltava não era um app, mas processos mais claros para as transações que envolvem concessão de crédito.Qual a inovação? Entender que havia uma dor de processo; não uma dor de interface. Não uma dor de canal. Não se tratava de ter ou não um app, mas de aprimorar os processos, para que eles, refletidos em canais, trouxessem autonomia para o vendedor na ponta. Foi um trabalho de dentro para fora. O app foi construído, mas a inovação, de fato, aconteceu nos bastidores.É um método de trabalho que não funcionaria sem a participação do cliente. Um processo amplo demais, que só conjuntamente se materializa. Esse aprender fazendo junto é um dos melhores subprodutos da inovação de resultados. Do design(er) como agente facilitador de transações.Isso gera dois produtos: a inovação em si e um laboratório para criar outras inovações. Em vez de basear processos em suposições, é preferível praticar a experimentação: colocar as ideias à prova o quanto antes, para checar se estão certas ou erradas.Em vez de confiar na intuição glamurosa dos visionários, preferimos praticar a colaboração: aprender fazendo junto. Em vez de logo pular de cabeça, preferimos pôr o pé na piscina, checar a temperatura de modo controlado, experimentar, e antecipar os recuos.No limite, isso redefine o que significa inovar. Como metodologia, serve para mitigar os riscos do negócio. Como princípio, gera investimento mais certeiro na inovação.


SOBRE O(A) AUTOR(A)

Luis Felipe Fernandes (Jimmy) é cofundador e CEO da Handmade Design. saiba mais