A Nike tem um arquivo secreto de designs. Que agora estão em um museu

Mais de 200 mil peças raras da Nike estão preservadas em um arquivo oculto. Agora, alguns deles estão sendo expostos no Museu Vitra Desgin

Crédito: Nike

Grace Snelling 5 minutos de leitura

Em um local secreto, conhecido apenas por um grupo seleto de pessoas, um prédio despretensioso esconde o paraíso dos colecionadores de tênis. Essa instalação ultrassecreta abriga o Arquivo Secreto de Designs (Department of Nike Archives).

Nesse espaço, mais de 200 mil peças raras da empresa são cuidadosamente documentadas e preservadas. Ali estão guardados desde protótipos de tênis jamais vistos até o esboço original do “swoosh” (o símbolo da Nike). 

No ano passado, o Arquivo Secreto abriu suas portas para visitantes externos pela primeira vez, permitindo que um grupo de curadores vasculhasse o acervo para uma nova exposição sobre a história do design da empresa.

A exposição, chamada Nike: Form Follows Motion ( Nike: a Forma segue o Movimento, em tradução livre), será inaugurada no  Vitra Design Museum em Rhein, na Alemanha, em 21 de setembro, e continuará até maio de 2025.

É a primeira exposição de museu dedicada à Nike e ela traça o percurso da marca desde sua fundação, em 1964, até seu status atual como a maior empresa de vestuário do mundo. O curador, Glenn Adamson, também co-editou um livro sobre a história do design da Nike, que será lançado em 3 de dezembro. 

 Nike: a Forma segue o Movimento conta a história geral da marca, mas sua tese é mais profunda ainda. A exposição – e o livro de mesmo nome – posiciona a Nike não apenas como uma empresa que visa ao lucro, mas também como um palco de inovação esportiva de ponta.

Arquivo Secreto de Designs (Crédito: Alastair Philip Wiper/ Nike)

Tanto a exposição quanto o livro são divididos em quatro seções cronológicas: “Track”, que acompanha os primeiros anos da Nike quando, segundo Adamson, o jogging era considerado um ‘nicho, uma subcultura estranha’; “Air”, que revela a explosão da marca na publicidade esportiva por meio de parcerias com atletas como Michael Jordan; “Sensation”, que oferece um mergulho profundo nos programas de pesquisa esportiva da Nike; e “Relation”, que reflete sobre o histórico de colaboração da Nike com designers convidados.

Protótipo submetido a teste de resistência, 1981 (Crédito: Nike)

Para condensar a história do design da Nike nessa estrutura de quatro partes, a equipe de Adamson começou identificando os principais marcos da história da empresa, como os primeiros anos da marca, muitas vezes esquecidos, quando o fundador Phil Knight importava calçados do Japão; o lançamento do primeiro tênis com sola de waffle no início dos anos 1970; a estreia do icônico Air Force One; a criação do Air Max de 1987; e o desenvolvimento mais recente do material leve Flyknit.

Pôster de divulgação do Nike Waffle Trainers, de 1978 (Crédito: Nike)

Adamson fez várias incursões ao Arquivo Secreto para obter detalhes que nunca foram vistos antes pelo público. O local guarda milhares de desenhos, protótipos, tênis e peças de vestuário, além de uma equipe de arquivistas especializados em verificar os fatos históricos da Nike. 

Também não se trata apenas de um repositório histórico: Adamson conta que os designers e colaboradores da Nike usam ativamente os amplos recursos do Arquivo Secreto para fazer brainstorming de novos designs. Lá, ele pôde pesquisar materiais como protótipos e cores do Air Force One que nunca foram lançados, bem como o estoque original do primeiro tênis Air Max. 

Protótipo do modelo Flywire, de 2006 (Crédito: Unruh Jones/ Vitra Design Museum)

PESQUISA ESPORTIVA PIONEIRA

A equipe de Adamson também analisou as operações dos laboratórios de design da Nike. Um de seus centros de inovação mais impressionantes é o Nike Sport Research Lab  (Laboratório de pesquisas da Nike, ou NSRL, como é conhecido), localizado em Beaverton, no estado do Oregon (EUA).

O laboratório inclui uma quadra de basquete em tamanho real, uma pista de corrida e um campo de futebol, onde centenas de câmeras e dezenas de placas de força acompanham os atletas em movimento. As informações obtidas podem ser transformadas em soluções de ponta para novos tênis e roupas. 

Quadra do Laboratório de Pesquisa Esportiva (Crédito: Nike)

“Agora, praticamente tudo o que você vê saindo da Nike que tiver inovação técnica passará por alguma etapa dessa pesquisa esportiva”, diz Adamson. “Acho que a maioria das pessoas nem sabe disso, e é bastante inspirador, especialmente se você for até lá. Dedicamos uma galeria inteira da exposição a esse tipo de pesquisa de materiais.”

O QUE VEM A SEGUIR

A exposição chega em um momento crucial para a Nike. Após a pandemia, a empresa tem enfrentado problemas com a cadeia de suprimentos e um interesse cada vez menor dos consumidores. Outras empresas populares de tênis de corrida, como Hoka e Brooks, também estão pressionando a Nike a se reconectar com suas raízes no jogging

Em fevereiro, a empresa começou a demitir 1,5 mil funcionários para reduzir os custos. Em meio a esses ventos contrários, a Nike tem se apoiado principalmente em relançamentos de sucessos anteriores – como Air Force 1s, Dunks e Jordans – para manter o interesse, em vez de lançar inovações.

Traje esportivo em desenvolvimento no laboratório de pesquisa da Nike (Crédito: Alastair Philip Wiper/ Nike)

Isso não quer dizer que ela não tenha lançado novos modelos. Para seu maior momento recente de marca na Olimpíada de Paris 2024, a Nike passou sete anos usando dados da NSRL para criar seu primeiro tênis para breakdance. A empresa também lançou uma plataforma de inteligência artificial para o desenvolvimento de ideias para novos designs de calçados.

Em uma entrevista recente à Fast Company, o CEO da Nike, John Donahoe, disse que a empresa pretende resgatar seu espírito essencial de inovação com novos lançamentos nos próximos meses.

“Justamente quando todo mundo está pensando que a Nike está fora de moda – boom! – fazemos o que temos feito repetidamente ao longo de 50 anos: criamos algo ousado, novo, disruptivo, e voltamos a dar as cartas do jogo."


SOBRE A AUTORA

Grace Snelling é colaboradora da Fast Company e escreve sobre design de produto, branding, publicidade e temas relacionados à geração Z. saiba mais