ABBA e Tupac no metaverso: avatares digitais podem ser o futuro da música ao vivo

Crédito: Fast Company Brasil

Theo Tzanidis e Stephen Langston 5 minutos de leitura

Um incrível feito tecnológico fez história, impressionou o público e trouxe um falecido rapper de volta à vida. Em abril de 2012, no festival Coachella, na Califórnia, Tupac Shakur subiu ao palco com Snoop Dogg e Dr. Dre. Porém, à época ele estava morto há 16 anos, vítima de um tiroteio em Las Vegas.

Tratava-se de um holograma do artista, incrivelmente realista e reproduzindo a mesma atitude desbocada, em uma apresentação para uma multidão de fãs “chocados e maravilhados”.

Desde que a humanidade se viu fascinada pelo som da música, avanços tecnológicos buscaram tornar a expressão musical imortal e, ao longo da história, artistas se esforçaram para criar performances originais, acessíveis e atemporais.

Ao passo que a engenharia se desenvolvia, o design dos instrumentos musicais ganhava novas formas. Muitos compositores clássicos apresentaram ao mundo inovações em suas partituras, adicionando profundidade e cor que ampliaram a experiência.

TECNOLOGIA = CRIATIVIDADE

Um grande avanço na qualidade do registro musical veio com o advento do Hi-Fi e do estéreo popularizado pela Yamaha. Artistas que abraçaram a tecnologia agora eram capazes de levar uma experiência de performance realista para as casas de fãs ao redor do mundo. Uma das maiores bandas das décadas de 1970 e 1980, o supergrupo sueco ABBA, adotou essa tecnologia, com técnicas de gravação inovadoras, que ainda hoje são usadas.

Por trás dela estava o gênio criativo que impulsionou as milhões de vendas de discos e performances que dominaram a década de 1970 em diante. Após o aparente fim do grupo, Benny e Björn expandiram sua arte para o gênero teatral, compondo musicais. O interesse deles em tecnologia culminou na reinvenção e repaginação do ABBA 40 anos depois.

Crédito: Matt Brown/ Flickr

Em maio deste ano, veremos o grupo retornar aos palcos ao vivo, com os mais recentes avanços tecnológicos para imortalizar a banda após seu longo hiato. Mas desta vez eles retornam como “humanoides” – uma espécie de irmão gêmeo do holograma. 

A empresa de efeitos especiais Industrial Light and Magic, fundada por George Lucas, criou sósias holográficos dos artistas, capazes de interagir com a banda ao vivo,  em um teatro projetado para receber a tecnologia, no leste de Londres. Benny, Björn, Frida e Agnetha gravaram os vocais e fizeram a captura dos movimentos que serão reproduzidos pelos avatares digitais.


As músicas do ABBA são, sem dúvida, atemporais. Suas melodias simples, com estruturas fascinantemente complicadas, atraem milhões de fãs ao redor do mundo. Os chamados “ABBA-tars” (junção do nome da banda com “avatar”) são uma reinvenção para um novo público. Mas é possível que vivam além de seus originais, com novos criadores por trás da banda?

Além do ABBA e do Tupac, existem outros casos em que a “cópia” digital foi utilizada como estratégia para ganhar dinheiro. A performance da banda animada Gorillaz no Grammy de 2006 combinou perfeitamente com a apresentação da rainha do pop Madonna; enquanto o holograma de Richard Burton se apresentou em uma turnê mundial de “Guerra dos Mundos” no mesmo ano.


A MÚSICA NO METAVERSO

A personalização de avatares 3D tornou-se uma maneira única de os artistas criarem marcas virtuais em várias plataformas digitais. O artista é capaz de se conectar com os fãs virtualmente e aumentar o engajamento e a lealdade, enquanto eles interagem, se expressam e experimentam coisas novas.

A Ziva Dynamics, pioneira em simulação e criação de personagens em tempo real, usa avatares sintéticos produzidos por inteligência artificial para criar simulações de movimento autônomas e complexas baseadas em músculos reais, gordura, tecidos e contato com a pele.


Em abril de 2021, a Magenta AI do Google foi usada em um projeto chamado Lost Tapes Of The 27 Club (Gravações Perdidas do Clube dos 27, em português) para compor canções no estilo de músicos que morreram aos 27 anos, como Jimi Hendrix, Jim Morrison e Amy Winehouse.

Essas tecnologias são capazes de criar representações holográficas realistas de artistas falecidos através de inteligência artificial (IA), permitindo que continuem a criar, influenciar e se apresentar para novos públicos.

A Epic Games, desenvolvedora responsável pelo fenomenal sucesso Fortnite, prevê que esses “sósias” digitais se conectarão ao metaverso, uma plataforma emergente de mundos digitais totalmente imersivos.

DISRUPÇÃO NO MERCADO DA MÚSICA

Embora as turnês ao vivo sejam longas e caras para novos artistas, uma “tour” de baixo custo pelo metaverso pode ser a forma ideal de realizar apresentações ao vivo. As performances virtuais de Justin Bieber, DeadMau5 e The Weeknd, por exemplo, se tornaram bastante populares recentemente.

Neste crescente ramo da indústria da música, gravadoras e empresas de marketing poderiam ser substituídas por organizações autônomas descentralizadas (DAOs), entidades online que operam como cooperativas e tomam todas as decisões em conjunto.

As DAOs já estão interferindo no mercado da música, junto com os NFTs (tokens não fungíveis), que são uma forma de transferir propriedade entre pessoas online. Em outubro de 2021, o PleasrDAO – um coletivo de executivos de finanças descentralizadas (DeFi), colecionadores de NFT e artistas digitais – pagou US$ 4 milhões pelo álbum de hip-hop do grupo novaiorquino Wu-Tang Clan, Once Upon a Time in Shaolin.

Embora o lançamento deste álbum seja anterior ao surgimento dos NFTs, o PleasrDAO agora detém os direitos e impôs restrições à sua reprodução, distribuição e exibição pública. Uma DAO voltada para música como o Pleasr pode comprar ingressos para shows, financiar e organizar eventos, além de gerenciar gravadoras e agências de marketing pertencentes a fãs para garantir bens de investimento, como LPs, obras de arte e instrumentos. Certamente, podendo beneficiar fãs, novos gêneros musicais e artistas.

Isso cria um novo segmento descentralizado para o mercado, livre de interesses corporativos ou de produtores individuais, e molda um cenário mais justo para o futuro. Com avatares digitais provavelmente no centro dessa nova vanguarda, será fascinante ver como ela evolui nos próximos meses e anos – e se será o suficiente para o público.


SOBRE O AUTOR

Theo Tzanidis é professor sênior de marketing digital e Stephen Langston é diretor do programa de desempenho, ambos da Universidade do... saiba mais