Aeroporto internacional na Índia redesenha a experiência de embarcar

Créditos: Ar. Ekansh Goel/ Studio Recall/ SOM

Elissaveta M. Brandon 3 minutos de leitura

Os aeroportos, em sua maioria, são espaços desorganizados, cheios e estressantes, com cafés caros demais, salgados murchos, corredores muito longos, tetos rebaixados horrorosos e sem lugar nenhum para as pessoas se deitarem quando os voos atrasam – o que acontece sempre.  

O novo aeroporto LaGuardia, em Nova York até tenta ser um espaço mais agradável (embora o café superfaturado ainda esteja por lá). Mas, de qualquer forma, não há muito o que fazer em um aeroporto. A finalidade principal desses locais é abrigar terminais para viagens de avião. Quem escolheria passar mais tempo lá do que o necessário?

Créditos: Ar. Ekansh Goel/ Studio Recall/ SOM

Mas um aeroporto em Bengaluru, na Índia, parece ter conseguido mudar essa realidade. Inaugurado em 1º de setembro, o novo terminal do Aeroporto Internacional de Kempegowda fica cercado por um amplo espaço público de 10 hectares ao ar livre, repleto de restaurantes e lojas que você normalmente só encontraria depois de passar pelo controle de segurança.

O terminal conta com jardins deslumbrantes, lagos para coleta de água da chuva, um centro de conferências e capacidade para abrigar eventos e shows ao ar livre.

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O fato de alguém se deslocar até o aeroporto para ver uma banda tocar ou só para comer alguma coisa pode parecer improvável por vários motivos, inclusive a total falta de infraestrutura de transporte público necessária para que isso funcione. Mas essa pode ter sido a aposta certa em Bengaluru. 

Viajar ou receber familiares na Índia é, muitas vezes, "um evento que envolve toda a família, com dezenas de membros indo até o aeroporto", diz Peter Lefkovits, designer sênior da Skidmore, Owings & Merrill (SOM). 

O problema é que todos os aeroportos do país têm acesso controlado, o que significa que a pessoa só pode entrar no prédio se tiver um cartão de embarque. Portanto, se você estiver mandando sua filha para a faculdade, terá que se despedir do lado de fora, o que torna ainda mais doloroso um momento que já é difícil. 

Créditos: Ar. Ekansh Goel/ Studio Recall/ SOM

Com o novo terminal, que está em obras desde 2013, as famílias podem dirigir até o aeroporto (ou pegar o metrô, quando ele for inaugurado em 2026) e passar um tempo do lado de fora até o momento do embarque para quem for viajar.

Depois, os passageiros entram no aeroporto – uma verdadeira caixinha de joias revestida de treliças de bambu e plantas suspensas –, passam por uma ampla área de jardins e chegam ao portão de embarque atravessando pontes ao ar livre. "Há jardins suspensos em forma de degraus, onde você pode fazer um piquenique enquanto espera seu voo", descreve Lefkovits.

Créditos: Ar. Ekansh Goel/ Studio Recall/ SOM

Essa não é a primeira vez que o aeroporto faz uma experiência de entretenimento. Há cerca de sete anos, o Kempegowda International começou a organizar concertos em uma praça do lado de fora do antigo terminal. O programa piloto foi um sucesso e, até hoje, as pessoas ainda vão até lá para assistir a eventos esportivos ou ver apresentações ao vivo.

Embora o aeroporto esteja localizado longe do centro da cidade, Lefkovits observa que há pessoas morando nas imediações e parques tecnológicos que surgiram nas proximidades com funcionários ávidos por cultura e entretenimento, mas que não estão interessados em ficar presos no trânsito para ir à cidade.

Créditos: Ar. Ekansh Goel/ Studio Recall/ SOM

"A oportunidade de oferecer um local sem carros, seguro e ao ar livre... eles perceberam que havia uma necessidade real disso", diz ele. "Nos fins de semana, o local se tornou uma atração em si".

Será que o mesmo modelo poderia funcionar em qualquer outro lugar do mundo? Alguns aeroportos já entenderam a importância da diversidade de opções. No Aeroporto de Schiphol, em Amsterdã, é possível escolher um livro na Biblioteca do Aeroporto, ver pinturas do século 17 em um anexo do famoso Rijksmuseum e até jogar em um cassino.

Créditos: Ar. Ekansh Goel/ Studio Recall/ SOM

No Aeroporto de Changi, em Cingapura, é possível visitar um jardim de borboletas, escalar uma rocha e admirar a maior cachoeira interna do mundo, cortesia da Safdie Architects. 

"As pessoas não se incomodam com a ideia de ir ao aeroporto sem ser para voar, porque há outras instalações lá", diz Laura Ettelman, sócia-gerente da SOM. "A questão é realmente como você planeja o espaço e programa as opções de entretenimento."


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais