Aeroporto internacional na Índia redesenha a experiência de embarcar
Os aeroportos, em sua maioria, são espaços desorganizados, cheios e estressantes, com cafés caros demais, salgados murchos, corredores muito longos, tetos rebaixados horrorosos e sem lugar nenhum para as pessoas se deitarem quando os voos atrasam – o que acontece sempre.
O novo aeroporto LaGuardia, em Nova York até tenta ser um espaço mais agradável (embora o café superfaturado ainda esteja por lá). Mas, de qualquer forma, não há muito o que fazer em um aeroporto. A finalidade principal desses locais é abrigar terminais para viagens de avião. Quem escolheria passar mais tempo lá do que o necessário?
Mas um aeroporto em Bengaluru, na Índia, parece ter conseguido mudar essa realidade. Inaugurado em 1º de setembro, o novo terminal do Aeroporto Internacional de Kempegowda fica cercado por um amplo espaço público de 10 hectares ao ar livre, repleto de restaurantes e lojas que você normalmente só encontraria depois de passar pelo controle de segurança.
O terminal conta com jardins deslumbrantes, lagos para coleta de água da chuva, um centro de conferências e capacidade para abrigar eventos e shows ao ar livre.
O fato de alguém se deslocar até o aeroporto para ver uma banda tocar ou só para comer alguma coisa pode parecer improvável por vários motivos, inclusive a total falta de infraestrutura de transporte público necessária para que isso funcione. Mas essa pode ter sido a aposta certa em Bengaluru.
Viajar ou receber familiares na Índia é, muitas vezes, "um evento que envolve toda a família, com dezenas de membros indo até o aeroporto", diz Peter Lefkovits, designer sênior da Skidmore, Owings & Merrill (SOM).
O problema é que todos os aeroportos do país têm acesso controlado, o que significa que a pessoa só pode entrar no prédio se tiver um cartão de embarque. Portanto, se você estiver mandando sua filha para a faculdade, terá que se despedir do lado de fora, o que torna ainda mais doloroso um momento que já é difícil.
Com o novo terminal, que está em obras desde 2013, as famílias podem dirigir até o aeroporto (ou pegar o metrô, quando ele for inaugurado em 2026) e passar um tempo do lado de fora até o momento do embarque para quem for viajar.
Depois, os passageiros entram no aeroporto – uma verdadeira caixinha de joias revestida de treliças de bambu e plantas suspensas –, passam por uma ampla área de jardins e chegam ao portão de embarque atravessando pontes ao ar livre. "Há jardins suspensos em forma de degraus, onde você pode fazer um piquenique enquanto espera seu voo", descreve Lefkovits.
Essa não é a primeira vez que o aeroporto faz uma experiência de entretenimento. Há cerca de sete anos, o Kempegowda International começou a organizar concertos em uma praça do lado de fora do antigo terminal. O programa piloto foi um sucesso e, até hoje, as pessoas ainda vão até lá para assistir a eventos esportivos ou ver apresentações ao vivo.
Embora o aeroporto esteja localizado longe do centro da cidade, Lefkovits observa que há pessoas morando nas imediações e parques tecnológicos que surgiram nas proximidades com funcionários ávidos por cultura e entretenimento, mas que não estão interessados em ficar presos no trânsito para ir à cidade.
"A oportunidade de oferecer um local sem carros, seguro e ao ar livre... eles perceberam que havia uma necessidade real disso", diz ele. "Nos fins de semana, o local se tornou uma atração em si".
Será que o mesmo modelo poderia funcionar em qualquer outro lugar do mundo? Alguns aeroportos já entenderam a importância da diversidade de opções. No Aeroporto de Schiphol, em Amsterdã, é possível escolher um livro na Biblioteca do Aeroporto, ver pinturas do século 17 em um anexo do famoso Rijksmuseum e até jogar em um cassino.
No Aeroporto de Changi, em Cingapura, é possível visitar um jardim de borboletas, escalar uma rocha e admirar a maior cachoeira interna do mundo, cortesia da Safdie Architects.
"As pessoas não se incomodam com a ideia de ir ao aeroporto sem ser para voar, porque há outras instalações lá", diz Laura Ettelman, sócia-gerente da SOM. "A questão é realmente como você planeja o espaço e programa as opções de entretenimento."