Aeroportos em desativação começam a virar bairros e espaços públicos
O aeroporto Downsview está prestes a se tornar o maior projeto de renovação urbana da América do Norte
Em maio deste ano, a Câmara Municipal de Toronto aprovou por unanimidade um plano de renovação urbana de áreas comunitárias no Aeroporto de Downsview. Essa aprovação representa um sinal verde para a Northcrest Development (empresa pública federal e uma das maiores gestoras de investimentos em aposentadorias do Canadá), bem como um reconhecimento de seu esforço décadas no sentido de transformar a área ocupada pelo aeroporto em um espaço público de uso misto.
Os planos iniciais preveem o desenvolvimento de um bairro de uso misto com capacidade para 100 mil pessoas. Já provido de três estações da linha de metrô, o espaço é agora uma área bem conectada ao mapa da Grande Toronto, e que pode ser remodelada para o bem comum. "Essa é uma grande responsabilidade, não podemos fazer besteira", observou Derek Goring, CEO da Northcrest Developments.
Programado para ser um dos maiores espaços públicos em renovação da América do Norte, o projeto levanta a questão de se um empreendimento de tão grande escala pode realmente corresponder ao desafio, em termos daquilo de que Toronto, e as cidades em geral, precisam neste momento em que as redes de segurança social estão enfraquecendo.
Atualmente, o critério do projeto é entregar 10% de moradias a preços acessíveis (algo que alguém com 30% da renda média da região teria condições de pagar). Quarenta por cento das unidades são de dois quartos ou maiores, em um esforço para aumentar a quantidade de moradias disponíveis na cidade com aluguéis acessíveis para famílias.
A agência nacional de habitação canadense constatou que, em 2023, devido à crise habitacional do país, praticamente não existem unidades de aluguel disponíveis para famílias com renda mais baixa em grandes cidades como Toronto e Vancouver. Esse empreendimento reserva unidades econômicas para essas pessoas, mas tem a possibilidade de fazer muito mais.
ESPAÇO URBANO COM MENOS BAGAGEM
Outros aeroportos desativados ofereceram às grandes metrópoles novas oportunidades e novas superfícies para a criação de espaços urbanos, o que tende a incentivar conceitos ousados e visionários. O Aeroporto Tegel de Berlim, por exemplo, vai virar um bairro ecointeligente, graças a um plano de investimento público-privado que deve custar cerca de US$ 8 bilhões.
aeroportos menores que se tornaram obsoletos tendem a se voltar para projetos recreativos ou de preservação ambiental.
Em Santa Monica, na Califórnia, o aeroporto municipal, que será desativado em breve, será reprojetado. Os planos de transformá-lo em um espaço público, ou em um grande parque, foram recebidos com algumas críticas de que a cidade não está aproveitando essa oportunidade para desenvolver moradias populares – algo muito necessário em uma área de tanta demanda no condado de Los Angeles.
A solução da empresa de arquitetura Henning Larsen para o local inclui um compromisso com um projeto de natureza urbana e mais infraestrutura verde. Um quarto do aeroporto foi transformado em parque e o sistema de águas pluviais contará com paisagismo e parques mais porosos, para absorver a água da chuva.
A proposta também se baseia no conceito de "cidade de 15 minutos", incluindo ciclovias e calçadas para pedestres intercaladas no empreendimento maior.
INTEGRAÇÃO AO RESTO DA CIDADE
Em Toronto, A Northcrest planeja implantar o projeto em fases. Goring afirma que parte do problema é que, durante um desenvolvimento de várias décadas, algumas tecnologias e formas de construção podem se tornar obsoletas. Embora a cidade tenha aprovado o que é chamado de Plano Secundário, que permite que o projeto avance, cada bairro terá sua própria série de aprovações locais e reuniões necessárias para prosseguir.
O primeiro plano de renovação urbana, atualmente em fase de projeto e aprovação, levará até 15 anos para ser totalmente construído, incluindo a aprovação do governo local e a instalação da infraestrutura necessária.
Ao longo de seus quatro anos de trabalho no projeto, a Northcrest afirma ter se envolvido com mais de 300 empresas e mais de seis mil pessoas para desenvolver sua concepção de bairro para aquela área.
A Northcrest, apoiada por um fundo de pensão canadense, o PSP Investments, planeja continuar engajada na região, diz Goring, e se apresentou aos líderes locais como um "membro quase permanente da comunidade".
Mas esse caso envolveu a compra de um terreno privado, diferente de outros projetos de conversão de aeroportos, nos quais a propriedade e a supervisão municipal desempenham um papel mais importante.
O que resta saber em relação a Downview, Toronto e Northcrest é se o bairro, depois de finalizado, vai conseguir ou não se integrar ao tecido urbano, valorizando a vizinhança próxima e servindo ao bem público em geral.