Aplicativo cria desfiles de moda de 30 segundos

Em segundos, centenas de looks gerados por computador passam diante de seus olhos

Crédito: Paul Trillo

Jesus Diaz 4 minutos de leitura

Algumas das melhores produções audiovisuais que já vi são as criações do diretor Paul Trillo, de Los Angeles. Os universos que Trillo cria só são possíveis graças à sua criatividade bruta, ao seu profundo conhecimento da mídia e de técnicas de produção, como o primeiro equipamento de câmeras “bullet time” totalmente móvel. 

Agora que ele tem em mãos um DALL-E 2, o céu é seu novo limite.

Aplicativos de inteligência artificial de síntese de texto em imagem, como o DALL-E 2, permitem que qualquer pessoa com imaginação crie praticamente qualquer coisa que desejar. Basta digitar algumas palavras orientadoras, conhecidas como “prompts” (comandos). Por exemplo: você pode transformar as letras das canções de David Bowie em obras de arte surrealistas dignas de um álbum do próprio Ziggy Stardust.

Mas, nas mãos de alguém tão criativo quanto Trillo, essas ferramentas de IA são o equivalente a saltar de um teatro de sombras para efeitos especiais hollywoodianos, tudo isso usando apenas uma linha de comando, capaz de realizar todos os seus caprichos.

“Estamos atravessando um momento incrivelmente emocionante e intenso para os criadores. Em certo sentido, a IA democratiza a criação de imagens, para que as pessoas mais verbais consigam se expressar visualmente. Também proporciona às que já são visuais uma forma de evoluir em seu trabalho e trilhar caminhos que talvez nunca tenham explorado”, diz Trillo.

DESFILE DE MODA COM IA EM 30 SEGUNDOS

O DALL-E 2 se tornou uma ferramenta extremamente poderosa no arsenal criativo de Trillo, permitindo-lhe criar uma impressionante série de composições em stop motion, combinando imagens de vídeo do mundo real com as criações sintéticas do DALL-E.

Seu exemplo mais recente é um belo desfile de 30 segundos em que ele usou IA para gerar centenas de roupas. O vídeo foi feito em colaboração com sua esposa, a artista Shyama Golden, que o ajudou a dirigir a arte, escolhendo quais roupas deveriam aparecer no corte final, e que também estrelou o vídeo como modelo.

Para criar as roupas vistas no vídeo, ele usou variações de vários prompts de texto que guiaram a IA. Elas vão de “camiseta de malha cor fúcsia” a “macacão lavanda” a “macacão fashion futurista retrô roxo lavanda com gola alta simulada, ombreiras de penas, moda de vanguarda, minimalismo japonês de 2040, Barbarella.”

“[Isso] abriu a porta para alguns designs bem loucos, que eu nunca teria feito sozinho”, diz Trillo, que descreve o poder das ferramentas de IA como “ilimitado e sem precedentes”.

A diferença entre usar uma técnica tradicional e usar uma IA é impressionante. Como Trillo diz, você precisaria literalmente desenhar e costurar 100 roupas e, em seguida, mudar a modelo e o figurino a cada poucos quadros, enquanto controla a câmera por movimento.

Outra forma seria desenhar e construir as roupas em 3D, tendo que criar os tecidos e texturas, depois iluminar e fazer o trabalho de composição necessário sobre o vídeo. O DALL-E 2 faz tudo isso apenas com um prompt de texto.

Ele não apenas gera um objeto, como roupas, mas também consegue recriar uma fotografia e compor instantaneamente algo nessa imagem. Esse é um recurso exclusivo do DALL-E 2, que os outros programas de síntese de IA não fazem.

A REALIZAÇÃO DE UM DESFILE DE MODA COM IA

Fazer o vídeo real é um processo simples e até tedioso. Primeiro, você precisa capturar o vídeo base, que nesse caso é simplesmente uma foto de Shyama caminhando em um jardim. Depois, tem que extrair os quadros de vídeo e alimentá-los um por um para o DALL-E, introduzindo um texto no prompt para cada um deles.

Trillo acabou usando 115 roupas e deixando inúmeras outras para trás na sala de edição. Os looks tiveram que ser sequenciados de maneira que fluíssem organicamente, mas também houve espaço para o inesperado. Ele finalmente usou outro programa de IA, chamado RunwayML, para rotoscopiar a sequência de imagens no vídeo de origem.

Para finalizar a sequência, foram criados os objetos flutuantes que você vê usando o DALL-E, novamente com stop motion. Eles foram colocados em diferentes camadas, para aumentar a profundidade.

NÃO TENHA MEDO DA IA

Um dos perigos do DALL-E, acredita Trillo, é que pode fazer você perder a noção do tempo. A “imaginação” dessa máquina é tão fascinante que o usuário pode facilmente perder horas e horas no processo de exploração. Mas é possível conter essa compulsão, ele acredita. E é exatamente por isso que é apenas uma ferramenta poderosa no arsenal de quem trabalha com criatividade.  

Trillo sabe que o DALL-E pode ter impactos negativos na indústria criativa, mas acredita que não vai tirar empregos dos artistas de efeitos visuais. O que vai acontecer, ele antecipa, é que a IA “vai criar eficiência no trabalho que os artistas já estão fazendo”.

Faz sentido. Já consigo antever as pessoas verdadeiramente criativas se sentindo seguras e capacitadas por essas novas ferramentas, em vez de ameaçadas por elas. Existe gente ótima em usar o After Effects ou o Photoshop, por exemplo, mas com criatividade limitada. Muitas dessas pessoas perderam seus empregos por conta da tecnologia – a mesma que capacitou outras a fazerem coisas incríveis.

Trillo faz outro contraponto positivo: “Se todos fossem capazes de criar um espetáculo, o espetáculo se tornaria banal”.


SOBRE O AUTOR

Jesus Diaz fundou o novo Sploid para a Gawker Media depois de sete anos trabalhando no Gizmodo. É diretor criativo, roteirista e produ... saiba mais