Arábia Saudita planeja construir 11 estádios futuristas para a Copa de 2034

Mas este projeto ambicioso ainda terá que enfrentar sérios desafios

Estádio Rei Salman (Crédito: Saudi 2034)

Jesus Diaz 3 minutos de leitura

A Arábia Saudita está prestes a embarcar em um projeto de proporções inacreditáveis. Além da cidade planejada Neom, que se estende por 26,4 mil quilômetros quadrados, agora o país precisa finalizar 11 novos estádios, ampliar outros quatro e construir 132 centros de treinamento para abrigar 48 seleções antes do início da Copa do Mundo de 2034.

Chamar isso de um grande desafio seria um eufemismo. O ponto alto é o Estádio Neom, que será construído no topo do The Line – uma cidade linear futurista e sustentável que os sauditas estão construindo no deserto saudita – e cujo projeto enfrenta cortes financeiros, atrasos e controvérsias.

As imagens do projeto mostram um estádio com arquibancadas triangulares e hexagonais em múltiplos níveis, uma geometria externa irregular realçada por luzes de neon azuis e o que parece ser um enorme lustre feito de telas de LED pendurado no teto.

O estádio será construído a 350 metros de altura, sobre um túnel que permitirá que navios de cruzeiro atraquem diretamente dentro do The Line. De acordo com os planos, terá capacidade para 46 mil pessoas. Ele será cercado por diversas instalações, como uma área de festival para os torcedores, campos de treinamento e cinco hotéis distribuídos pela “cidade arranha-céu”.

A construção do Estádio Neom está programada para começar em 2027, com conclusão prevista para 2032. Porém, muitos questionam se isso será possível, considerando os inúmeros problemas que ameaçam o The Line.

Inicialmente planejado para se estender por 170 quilômetros e abrigar 1,5 milhão de residentes, o projeto foi drasticamente reduzido devido à falta de financiamento. A extensão do The Line foi reduzida para apenas 2,4 quilômetros, com a meta de abrigar menos de 300 mil pessoas até 2030. Esses cortes levantam dúvidas sobre a viabilidade e a praticidade do projeto.

Estádio Neom (Crédito: Saudi 2034)

Além do Estádio Neom, será construído o Estádio Rei Salman, em uma montanha de 200 metros de altura na capital, Riad. Com capacidade para 92 mil pessoas, será o palco da partida de abertura e da final.

Também em Riad, o Estádio Roshn comportará 46 mil espectadores, enquanto o New Murabba abrigará 45 mil. Isso significa três grandes estádios de futebol na mesma cidade.

O Estádio Príncipe Mohammed Bin Salman, com capacidade para 45 mil espectadores – o príncipe-herdeiro estaria por trás da candidatura para a Copa do Mundo de 2034, assim como do projeto Neom –, será construído na cidade de Qiddiya e contará com campo e teto retráteis.

Crédito: Saudi 2034

Em Jidá, no sudoeste do país, quatro novos estádios serão erguidos. Outras cidades como Cobar e Abha também devem receber novas arenas.

Reformas também estão planejadas para instalações já existentes, como o Estádio Príncipe Faisal Bin Fahd e o Estádio Internacional Rei Fahd, ambos em Riad. Segundo o jornal britânico “The Times”, este será o projeto de construção esportiva mais caro já realizado.

AMBICIOSO, MAS COM ÉTICA QUESTIONÁVEL

Cumprir os prazos estabelecidos, especialmente considerando os designs únicos e complexos dos novos estádios, será um grande desafio. Todos eles são, supostamente, projetos de grandes empresas de arquitetura, cujos nomes ainda não foram revelados.

Como exatamente a Arábia Saudita planeja lidar com este gigantesco projeto é outra preocupação. A Copa do Mundo já tem um histórico de violações dos direitos humanos. A edição de 2022, no Qatar, foi criticada pelas condições precárias enfrentadas pelos trabalhadores que construíram os estádios.

Estádio Príncipe Mohammed Bin Salman (Crédito: Saudi 2034)

Uma matéria investigativa do “The Guardian” revelou que 6,5 mil dos cerca de 30 mil trabalhadores imigrantes da Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka morreram durante a construção dos estádios.

A Anistia Internacional já denunciou o plano de direitos humanos da Arábia Saudita para a Copa do Mundo de 2034, alegando que o país não abordou a exploração dos trabalhadores imigrantes sob o sistema kafala.

    Este sistema vincula trabalhadores imigrantes a empregadores durante sua permanência nos países do Oriente Médio, resultando em situações de trabalho análogo à escravidão. A Arábia Saudita já foi criticada por sua abordagem agressiva para desocupar terras para dar lugar ao Neom.

    Isso, somado à série de questões éticas em que a FIFA tem se envolvido nos últimos anos, pode explicar por que nenhuma empresa de arquitetura reconheceu publicamente seu envolvimento em um dos projetos de construção mais surreais já vistos no mundo dos esportes.


    SOBRE O AUTOR

    Jesus Diaz fundou o novo Sploid para a Gawker Media depois de sete anos trabalhando no Gizmodo. É diretor criativo, roteirista e produ... saiba mais