Arquitetura pode deixar os espaços mais amigáveis para pessoas surdas

Crédito: Fast Company Brasil

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Richard Dougherty cresceu em uma casa com uma mesa de jantar retangular, janelas pequenas e quartos pequenos. Os ambientes eram escuros, úmidos e frios, o que “tornava a comunicação especialmente difícil para mim, alguém que depende de claridade, de contato visual e de enxergar os lábios e as expressões faciais das pessoas para entender o que elas estão dizendo”, ele relembra.

Dougherty é surdo, mas seus pais e quatro irmãos não são.

Dougherty também é o principal arquiteto envolvido no projeto do primeiro espaço público nos EUA que será construído usando o design e a arquitetura DeafSpace. Essa filosofia do design, desenvolvida em 2006 como DeafSpace Design Project, inclui mais de 150 elementos arquitetônicos que levam em consideração “a forma distinta como os surdos se relacionam com o seu ambiente físico”, explica Dougherty. Dentre os elementos observados estão distâncias e proximidades, alcance sensorial, mobilidade, luz, cor e acústica.

O novo espaço, que inclui uma área ao ar livre apelidada de Creativity Way, fica no campus da Gallaudet University, a única instituição de artes do país que oferece programas de graduação para surdos e deficientes auditivos. A Gallaudet, que foi celeiro da filosofia DeafSpace, já está planejando mais três novos edifícios que utilizarão os mesmos princípios desse tipo de design.

O DeafSpace é conhecido como design centrado no ser humano.

Dougherty tornou-se o principal arquiteto do espaço público voltado para pedestres da GU, bem como o conselheiro universidade para seus três novos edifícios. Eles terão quase 3 mil metros quadrados de área comum no térreo e 1,4 mil metros quadrados de espaço universitário acima dele, incluindo 245 unidades residenciais, que são descritas como “a porta de entrada da GU para a comunidade”.

O design DeafSpace, conhecido como “design centrado no ser humano”, pode beneficiar a todos, diz Dougherty. Ele “se destina a ser tão eficiente quanto o design tradicional”, de acordo com Sam Swiller, diretor de planejamento imobiliário estratégico, desenvolvimento de negócios e relações externas da GU. “Quando aplicado corretamente, [o design do DeafSpace] não afeta a disponibilidade de espaço.”

Crédito: Hall McKnight

Esta imagem do projeto Creativity Way ilustra uma passagem aberta entre duas culturas e sensibilidades muito diferentes, o campus e a cidade. Usando os princípios do Deafspace, essas coleções de peças são projetadas para apoiar o engajamento, a ocupação e a colaboração entre as comunidades surda e ouvinte.

O design DeafSpace se destina a ser tão eficiente quanto o design tradicional.

“[O design do DeafSpace] não é em nada restritivo”, esclarece Robbie Saclarides, vice-presidente de desenvolvimento da JBG Smith, desenvolvedora do projeto, acrescentando que os conceitos de design não são intrusivos ou necessariamente óbvios para o usuário. Os saguões dos três novos prédios, por exemplo, terão linhas de visão abertas, conceito que Saclarides diz ser apreciado pela maioria da população, e assentos circulares ou deslocáveis, que podem ser movidos em diferentes configurações.

O Creativity Way incentivará as pessoas a parar para conversar, com assentos em estilo de anfiteatro e pequenas praças redondas, abaixo do nível da rua. Esse espaço também funcionará como uma zona de transição entre a universidade e o bairro: estará aberto à população local do amanhecer ao anoitecer. O espaço comercial do térreo atenderá o público geral.

Dougherty diz que o projeto tem potencial para se tornar um modelo global de design que celebra a diversidade sensorial. “Acredito piamente em uma arquitetura que constrói conexões. Uma arquitetura que seja profunda, inclusiva e responda igualmente às exigências do corpo e da mente. Uma arquitetura ética, que integra, em vez de alienar.”


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