As incríveis imagens do telescópio James Webb ao alcance de deficientes visuais
Uma pequena equipe de escritores, astrônomos e curadores está produzindo textos alternativos com descrições vívidas e detalhadas das imagens
Quando as primeiras imagens do telescópio espacial James Webb foram divulgadas, pessoas do mundo todo puderam ver as maravilhas do espaço profundo. Suas galáxias cintilantes, a poeira cósmica emanada da Nebulosa do Anel Sul e os chamados penhascos cósmicos.
As imagens são deslumbrantes. E através do esforço e dedicação de uma equipe de escritores e cientistas, elas também poderão ser apreciadas por deficientes visuais.
Todas estão recebendo descrições detalhadas em texto alternativo – versão textual de uma imagem reproduzida por um software de leitura de tela usado por pessoas com deficiência visual.
O texto alternativo é uma peça-chave do design inclusivo e da acessibilidade na internet, permitindo que as pessoas consumam conteúdo de várias maneiras. E o projeto para tornar as imagens do telescópio Webb acessíveis vêm recebendo elogios.
O texto alternativo está sendo escrito no Space Telescope Science Institute (STScI), em Baltimore, no estado norte-americano de Maryland, responsável pelas operações do telescópio Webb em parceria com a NASA.
Uma equipe de cerca de 15 escritores, editores, astrônomos e curadores estão engajados em um processo editorial de análise detalhada das imagens capturadas pelo telescópio. Essa iniciativa visa transformar as informações em texto para torná-las acessíveis a deficientes visuais.
O processo de transformar as imagens em texto é um esforço de design. “Vemos essa escrita como uma solução de engenharia”, diz Margaret Carruthers, vice-gerente de redação e design do Space Telescope Science Institute (STScI). Segundo ela, há vários gráficos extremamente importantes e com muitas informações, mas que ainda são inacessíveis para algumas pessoas.
Veja, por exemplo, esta imagem do Quinteto de Stephan, uma composição de imagens de infravermelho próximo e médio de um aglomerado de cinco galáxias – quatro das quais estão próximas e presas ao campo gravitacional umas das outras. O texto alternativo a descreve assim:
Mas o texto alternativo é apenas uma parte. Quem estiver usando um leitor de tela também terá acesso ao título da imagem, bem como à legenda explicativa que a acompanha e, em alguns casos, até a um comunicado de imprensa.
O objetivo é incluir essas outras formas de texto. Isso envolve criar o que Margaret Carruthers chama de mapa conceitual da imagem.
“Tentamos dar o panorama geral primeiro, depois entramos nos detalhes. Mas constantemente voltamos a esse mapa conceitual para que fique claro sobre o que está sendo falado”, explica.
Originalmente, o sistema permitia somente descrições curtas das imagens, limitadas a 60 caracteres, o equivalente às últimas dez palavras do texto alternativo acima. Uma atualização aumentou o número para 125 caracteres, mas Carruthers compara essa limitação a um tuíte. “Não é suficiente”, diz ela.
Hoje, o texto alternativo pode ter até 1.024 caracteres, ou cerca de 350 palavras. Escrever uma descrição tão curta já é um grande desafio. Mas criar uma descrição que reflita com precisão o que está na imagem e fazer com que os usuários consigam visualizá-la mentalmente é outro ainda maior.
À medida que mais imagens chegam do telescópio espacial durante sua tão aguardada missão, a equipe de escritores, editores e astrônomos continuará esse processo de tradução e interpretação de cada imagem publicada no site do STScI.
É um processo com várias etapas: as imagens capturadas pelo telescópio Webb estão, em grande parte, na seção infravermelha do espectro eletromagnético e, portanto, invisíveis ao olho humano. Elas precisam ser processadas para que possamos vê-las. Em seguida, são processadas novamente para torná-las acessíveis a quem tem deficiência visual.
Carruthers afirma que todo esse processo é para explicar o universo às pessoas. “No mínimo, devemos ser precisos”, diz ela. “Mas acredito que também podemos transmitir a beleza e o encanto do cosmos.”