Ben Cohen, da Ben & Jerry’s, resolve trocar o sorvete pela cannabis

A nova marca de maconha sem fins lucrativos de Ben Cohen fará você repensar o lugar e o percurso dessa substância

Crédito: Ben's Best Blnz

Abigail Glasgow 3 minutos de leitura

Ben Cohen, da famosa marca de sorvetes Ben & Jerry's, começou a entrevista me contando uma típica história de maconheiro. “A ideia surgiu quando estava acampando com um amigo meu, sentados ao redor de uma fogueira, fumando um baseado. Nós começamos a viajar: 'imagina como seria bom se a gente conseguisse achar maconha como nos velhos tempos?'”

A ideia a que Cohen se refere é seu mais recente empreendimento, o Ben’s Best Blnz, ou simplesmente B3. A empresa recém-lançada é uma marca de cannabis moderna e ousada, que oferece cigarros pré-enrolados com baixo teor de THC e vapes de largo espectro.

Assim como fez com seus empreendimentos com sorvetes, Cohen decidiu usar a plataforma da B3 como um canal para o que ele chama de “benefício social”.

Crédito: B3

A B3 foi registrada como uma entidade sem fins lucrativos, com 100% de seus lucros divididos entre três entidades: 10% irão para o the Last Prisoner Project, organização dedicada a libertar pessoas impactadas pela criminalização da maconha; outros 10% serão doados para a Vermont Racial Justice Alliance, cuja missão é “garantir poder sustentável, garantir agência e fornecer segurança para descendentes americanos da escravidão”; e os 80% restantes serão administrados em parceria com o  NuProject como subsídios para empreendedores negros de cannabis.

Para Cohen, a última iniciativa busca retificar a enorme lacuna na riqueza geracional provocada pela opressão sistêmica dos negros nos Estados Unidos. “Uma família negra média tem 1/10 da riqueza de uma família branca”, diz ele. “Sinto que ser dono de uma empresa própria é um dos melhores caminhos para a riqueza geracional.”

Crédito: B3

Para projetar a identidade visual da marca, Cohen trabalhou com Eddie Opara e Jack Collins, da Pentagram, criando as embalagens o site e o design das mercadorias. A marca tem um design vibrante e transparente, em homenagem aos designers e fornecedores negros, que também estão listados no site da B3.

Opara criou um design de colagem que inspirou a identidade visual do site. Sua obra de arte retrata o perfil de um homem negro, vestindo o macacão laranja usado como uniforme nas prisões, com jacintos roxos formando seu cabelo e com o rosto composto por uma montagem de outras flores. 

Crédito: B3

“O jacinto roxo é uma flor que tradicionalmente simboliza o senso de perdão, de inocência, alegria e beleza – e eu queria que isso fosse aplicado a um homem negro”, diz Opara. O objetivo é, eventualmente, trazer outros artistas negros para fazer as embalagens e produtos.

A marca resultante é rica simbólica e visualmente, mas o gesto mais marcante da B3 são os cartazes que cobrem tanto o site quanto as embalagens. Citações da renomada abolicionista Angela Davis e do falecido ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, foram impressas nas latas dos pré-lançamentos com baixo teor de THC da B3.

Crédito: B3

O poder das aspas, combinado com o que Opara descreve como “pegada autêntica”, cria “algo marcante, algo de que você se lembra”.

Essas latas, eventualmente espalhadas pelas casas dos traficantes, são lembranças vívidas da história dessa substância – e das histórias de quem ela beneficia e de quem ela encarcerou.

Em uma referência à classificação da maconha como uma substância sob a Lei de Substâncias Controladas, o texto nos frascos HiTest Bud da B3 diz: “tire a maconha da lista de proibições ou ponha a cerveja nela”.

Crédito: B3

“A classificação legal da maconha como substância controlada é toda a raiz da guerra contra as drogas”, diz Cohen sobre a campanha de Nixon que prejudicava desproporcionalmente os negros e baseou a questão atual do encarceramento em massa no país.

“Essa lei deveria ser para drogas sem valor médico e com alto risco de dependência, o que não se aplica à maconha, mas se aplica à cerveja”.

Com a missão de “vender erva da boa e usar o poder dos negócios para corrigir os erros da guerra contra as drogas”, os produtos da B3 se tornaram campanhas itinerantes de desencarceramento, de reparação histórica e de questionamento das verdades estabelecidas. 

Quando perguntado se a marca planeja trabalhar com artistas ou fornecedores ex-presidiários, a resposta de Cohen é sincera e direta: “não há nenhum tipo de impedimento nos nossos processos seletivos!”


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