Brasileiras se unem a artesãs para criar e ampliar marca de biojoias
She is From the Jungle tem como carro-chefe o capim dourado, vindo de Tocantins e transformado em peças por mulheres do Recife
Liderada pela ativista e empresária Domitila Barros, a marca de moda sustentável She is From the Jungle quer trazer desenvolvimento socioeconômico a toda a cadeia produtiva de joias feitas a partir do capim dourado.
A marca foi fundada em 2016, por Domitila, produzindo acessórios feitos a partir do capim dourado. As peça são feitas por artesãs da Linha do Tiro (bairro de Recife onde Domitila foi criada), com matéria-prima extraída por um grupo de mulheres de Palmas, em Tocantins. Já no ano de estreia, a grife teve a oportunidade de participar das semanas de moda de Berlim e Londres.
No fim do ano passado, a marca recebeu recursos da investidora Isis de Almeida, que entrou para ajudar na expansão da empresa e do seu portfólio.
“Acho importante valorizar a cultura brasileira e produzir essas peças é uma forma de fazer isso. Nossos planos continuam sendo ajudar mais e mais pessoas a se tornarem independentes. Também queremos espalhar beleza e sustentabilidade por aí”, diz Domitila.
Atualmente, a marca trabalha com 100 artesãs, todas capacitadas e certificadas para o cultivo e uso do capim dourado de maneira legalizada. O trabalho é feito em casa, um modelo que possibilita a geração de renda sem impacto no cotidiano das famílias e na educação dos filhos.
O capim dourado é uma planta protegida por lei, que só pode ser colhida uma vez por ano e não pode ser vendida in natura fora do Tocantins. Por isso, a She is From the Jungle capacitou as artesãs do próprio estado. As peças produzidas são enviadas para a sede da empresa, em São Paulo, e comercializadas no mundo todo.
“Os beneficiários da licença seguem orientações para executar de forma correta a coleta, o manejo e o transporte dessas espécies, para que todo o processo seja feito de forma sustentável”, explica Isis.
"Todas as nossas joias são orgânicas. Para fazer um anel de ouro, por exemplo, é preciso produzir 20 toneladas de lixo tóxico para explodir as minas. Na Ásia, a maior parte da poluição do mar vem por conta da produção do ouro. Nós fazemos joias que usam matérias-primas que não poluem o meio ambiente”, diz Domitila.
DESAFIOS DE UMA MARCA SUSTENTÁVEL
Segundo a dupla, um dos grandes desafios é adequar a velocidade de desenvolvimento técnico e rapidez da produção das artesãs ao comportamento de consumo e às exigências do consumidor brasileiro, acostumado com a fast fashion.
"Nossas artesãs utilizam técnicas de produção extremamente modernas, trabalham com todas as certificações ambientais e dentro de um projeto social, o que encarece o produto final", explica Isis.
"Na Europa, nossas revendedoras não têm tanta dificuldade em explicar o modelo de negócio de comércio justo, no qual os produtos negociados e criados diretamente com artesãos, sem atravessadores", complementa
Segundo ela, esse modelo já é muito conhecido e valorizado lá fora, mas ainda perde para marcas que trabalham com produção em série, em um modelo industrial. "O conceito de 'consumo consciente' ainda é pouco conhecido no Brasil e também é um comportamento de luxo", diz Isis.
O conceito de consumo consciente ainda é pouco conhecido no Brasil e também é um comportamento de luxo.
Ainda assim, a marca espera conquistar mais espaço no Brasil e no mundo. A empresa tem um portfólio com 150 joias e espera quadruplicar os resultados até o final de 2023, com abertura da primeira loja física na Ilha de Fernando de Noronha, em Pernambuco, em 2024.
Nos planos da grife estão também a criação de um marketplace reunindo até mil marcas, para fortalecer a cadeia produtiva de negócios sustentáveis e ampliar o público que usa esses produtos.
Além disso, a marca está lançando uma coleção em parceria com artesãs africanas e tem em vista outra com fornecedores da Índia, para introduzir modelos de acessórios indianos moldados a partir de produtos sustentáveis.