Brinquedos educativos estão em alta. Mas quais são realmente educativos?
Em um mercado saturado, um novo selo visa indicar quais brinquedos são realmente educativos
Da noite para o dia, um pouco por necessidade e um pouco por conveniência, os brinquedos parecem ter virado verdadeiros professores para as crianças. Nos últimos anos, houve uma explosão no mercado de brinquedos educativos, que devem somar mais de US$ 100 bilhões em vendas globais até 2028, segundo a estimativa de alguns pesquisadores.
Esse aumento se deve em parte a um acrônimo que vem da língua inglesa: STEM. Ele se refere a quatro áreas de conhecimento, ciência, tecnologia, engenharia e matemática, e vem sendo usado para sinalizar os brinquedos que têm algum teor educacional, distinguindo-os daqueles que são apenas divertidos.
Mas essa classificação tem gerado controvérsias. Com cada vez mais brinquedos sendo rotulados como “STEM”, fabricantes e compradores de brinquedos estão começando a questionar como é traçada a linha divisória entre diversão e aprendizagem.
Um conjunto de carros de corrida ou de blocos de construção é realmente um brinquedo educacional, ou pais e filhos estão sendo enganados por uma propaganda que força a barra, uma espécie de “STEMwashing”?
Durante a pandemia, os brinquedos STEM (e seus similares que dizem promover o lado artístico das crianças) tornaram-se itens obrigatórios para muitas famílias. “Com a Covid-19 e durante os períodos de isolamento social, houve um grande aumento no interesse e na demanda por esse tipo de brinquedo”, analisa Kristin Morency, consultora sênior da Toy Association, um grupo comercial que representa os fabricantes e varejistas de brinquedos que compõem um mercado de US$ 40 bilhões nos EUA “A indústria de brinquedos realmente respondeu a essa demanda.”
A presença dos brinquedos STEM em lojas de brinquedos e online é crescente, e seu mercado deve crescer quase US$ 1 bilhão nos próximos anos. Os brinquedos científicos, um subconjunto da categoria STEM, cresceram 28% nos últimos três anos, alcançando cerca de US$ 281 milhões em vendas anuais, de acordo com Frédérique Tutt, analista da indústria de brinquedos da Circana.
O termo STEM (em inglês) se refere às áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, e vem sendo usado para sinalizar os brinquedos que têm algum teor educacional.
O crescimento é ainda maior entre os brinquedos de montar e de construir que se aproximam do conceito de STEM, como os conjuntos de Lego. As vendas dessa categoria cresceram 51% nesse período, alcançando mais de US$ 2 bilhões em vendas anuais, diz ela.
A era da pandemia ajudou a estabelecer o nicho STEM na indústria de brinquedos, mas também criou uma zona cinzenta de brinquedos que divulgam de forma muito imprecisa seus méritos educacionais.
“Estão lançando muitos brinquedos que afirmam ser STEM ou STEAM [que inclui a dimensão artística], só que nem todos conseguem explicar claramente o que permite incluílos em uma dessa categorias”, critica Anna Yudina, diretora de iniciativas de marketing da Toy Association. “Mesmo os que conseguem oferecem explicações muito diferentes entre si”.
De blocos de construção a rampas de carrinhos ou brinquedos de ar que disparam foguetes, uma ampla gama de produtos ligeiramente educativos estava sendo subitamente vendida como produtos STEM.
Não dá para saber se a culpa é da propaganda enganosa ou do marketing inconsistente. O fato é que a confusão levou a indústria de brinquedos a tentar definir mais detalhadamente o que é um brinquedo STEM.
Em resposta, a Toy Association criou um programa de acreditação para os brinquedos STEAM, em parceria com o Good Play Guide,, um avaliador de produtos infantis com sede no Reino Unido e fundado por um especialista em desenvolvimento infantil. Juntos, eles desenvolveram um esquema de avaliação para determinar se um brinquedo de fato oferece os benefícios educacionais sugeridos por um rótulo STEAM.
Para se qualificar a receber o selo, um brinquedo precisa apoiar os objetivos de aprendizagem em pelo menos duas das categorias STEAM, além de ter atributos como relevância no mundo real, envolvimento ativo e exploração livre. Lançado em agosto de 2021, o programa credenciou mais de 200 brinquedos de 60 fabricantes em todo o mundo.
Alguns, como o Hot Wheels Flight Path Challenge – uma rampa em loop para lançar carros de brinquedo através de anéis – podem parecer um pouco questionáveis em termos de atributos educacionais. Mas Yudina reforça que o primeiro critério do programa de credenciamento é que o brinquedo seja algo que uma criança realmente deseja explorar. Brincar com o objeto.
“Se um brinquedo não é divertido ou envolvente, não importa quanta ciência, tecnologia ou matemática você agregue a ele”, pondera. “Não é para ser um dever de casa. Brinquedo bom é brinquedo divertido.”
