Como a arte pode ajudar a destravar o fluxo criativo em cada um?
Qual filme mais te fez chorar na vida? Qual livro mais te marcou? Qual obra de arte mais lhe emocionou?
Essas e outras perguntas fazem parte de algo começou como um experimento bastante pessoal de Pedro Garcia sobre criatividade em seu sentido mais amplo. Primeiro, ele começou a postá-las no Facebook para ver o que as pessoas respondiam, numa espécie de Questionário Proust direcionado ao potencial criativo de cada um. Mas a investigação logo evoluiria para “sessões ao vivo” – a primeira delas durante uma das imersões da Mesa, empresa de Barbara Soalheiro, colunista da Fast Company Brasil. Foi ela, aliás, que acendeu a fagulha na ocasião: “Quem quiser conhecer um pouco mais sobre quem você é, cola no Pedro”. E vários curiosos colaram.
“Muitas pessoas têm uma espécie de ‘chefe’ interno que as oprime” — Pedro Garcia
E outras centenas mais, presencial e remotamente, ao longo dos dois anos subsequentes. Pedro, que já trabalhou em agências de publicidade, compara essas entrevistas, feitas com gente de várias nacionalidades, de advogados a músicos, à resolução de um briefing. A cada encontro, ele sentia que havia decodificado o desafio de comunicação de uma marca.
Nessas centenas de conversas, alguns padrões se repetiam e algumas conclusões eram reveladas, seja sobre o caminho que a pessoa deveria seguir profissionalmente, seja um norte mais claro para um projeto específico. “Muitas pessoas têm uma espécie de ‘chefe’ interno que as oprime”, afirma Pedro. Mesmo entre profissionais bem-sucedidos e de alta performance, diz ele, há um ponto cego e uma necessidade de despertar o lado emocional para acessar o fluxo criativo.
Diante da materialização de resultados com esse método, ele decidiu, em dezembro de 2020, transformar a experiência toda em um livro, intitulado Emoção Criativa (Ventania Editorial), atualmente em pré-venda. Nele, o autor basicamente dá o caminho das pedras para qualquer pessoa que queira embarcar em uma jornada de autoconhecimento para destravar sua essência criativa.
Segundo ele, mesmo que o trabalho não seja artístico, é possível sempre se expressar de maneira genuína, o que, muitas vezes, leva à inovação. Ao longo dos capítulos, além de contar como chegou ao método e trazer casos de pessoas que ele entrevistou (sem revelar nomes), Pedro traz exemplos da criatividade em suas diversas formas. Um dos exemplos que ele gosta de citar é o de Steve Jobs, que, em sua visão, foi um artista ao quebrar as regras e ao enxergar a tecnologia como algo destinado ao ser humano, em vez de um fim em si.
Aliás, uma das poucas histórias em que a identidade da pessoa submetida ao experimento é revelada está logo na apresentação do livro: Rosa Strausz, fundadora da Ventania Editorial, resolveu criar uma editora depois de ter passado pelo método.
Mas por que perguntas relacionadas a filmes, músicas e arte? Bem, porque, segundo ele, a arte tem a capacidade de acessar lugares mais sutis do indivíduo e, muitas vezes, atravessar carapaças que vão ficando mais rijas com o passar dos anos. “A gente vai moldando nosso comportamento para pertencer. Com exceção de algumas pessoas que são rebeldes por natureza, muitas escolhem se conformar. E a arte mostra vestígios importantes de um caminho para a evolução pessoal”, explica.
Emoção Criativa é, de certa forma, um desdobramento natural da trajetória pessoal – e profissional – de Pedro, que sempre teve proximidade com a arte. Apesar de nunca ter sido músico profissional, se envolveu intimamente com a música ao cofundar a Queremos!, plataforma que nasceu, originalmente, para viabilizar shows de artistas internacionais no Brasil. Ele também é conhecido através de seu alter-ego no Instagram, o fotógrafo Cartiê Bressão, que registra cenas cotidianas e inusitadas, todas capturadas com a câmera do celular. As legendas, expressões tipicamente brasileiras traduzidas para o francês, completam a marca registrada do trabalho fotográfico de Pedro, inspirado, claro, no fotógrafo Henri Cartier-Bresson.