Como o design salvou este símbolo do distrito têxtil de Nova York

O botão de 4 metros e meio agora é sustentado por uma agulha de quase dez metros e por uma 'linha' de metal

Crédito: Alexandre Ayer/ @DiversityPics/ Garment District Alliance

Nate Berg 3 minutos de leitura

De todos os pequenos reparos que podemos fazer em casa, substituir um botão é uma das tarefas mais fáceis. Os próprios orifícios de um botão são uma espécie de guia de costura para os iniciantes. O único desafio real é passar a linha vezes o suficiente por aqueles furinhos para manter o botão no lugar.

Agora, a coisa muda um pouco de figura quando o botão em questão tem 4,5 metros de largura e fica pendurado em uma esquina movimentada na cidade de Nova York

Crédito: Alexandre Ayer/ @DiversityPics/ Garment District Alliance

Foi justamente esse o desafio apresentado em 2017 à empresa de design experimental Local Projects pela Garment District Alliance. A entidade é uma associação sem fins lucrativos que representa um bairro tradicionalmente associado às indústrias de moda, têxteis e tecidos.

Uma enorme escultura kitsch conhecida como Button and Needle (botão e agulha) é um dos ícones daquela região, mas já tinha mais de 20 anos e estava à beira do colapso. Quando foi construída, em 1996, a obra era um complemento divertido para um quiosque da década de 1970, onde visitantes pediam informações sobre o bairro.

Crédito: Garment District Alliance

“Pessoas de todo o mundo vinham ao Garment District para comprar materiais de costura no atacado e se dirigiam àquele quiosque, onde haveria uma pessoa que lhes daria informações: se você está procurando por linho, deve ir aqui; se está procurando por lã penteada, é ali", relembra o diretor criativo da Local Projects, Nathan Adkisson.

“Era uma obra de arte híbrida, porque também sinalizava um serviço público, não era apenas um ou outro. Só que, com o tempo, passou a não haver mais a necessidade de um funcionário ficar ali sentado o tempo todo”, conta Adkisson. Assim, a estrutura, que contava com uma mesa em forma de carretel de linha, começou a se deteriorar.

Até que ficou evidente que o quiosque, cada vez menos útil, já não conseguia mais sustentar a tão amada escultura do botão com a agulha. “Cogitaram colocar tudo abaixo”, diz Adkisson. “Mas o nosso ponto de vista era o de que este ícone é incrível, seria uma pena perdê-lo. Então, encaramos nosso trabalho como o de revitalização e reimaginação de um ícone.”

Crédito: Alexandre Ayer/ @DiversityPics/ Garment District Alliance

Essa reimaginação tomou corpo. A escultura Button and Needle renasceu como uma peça independente de arte pública, em uma esquina por onde podem passar mais de um milhão de pessoas por dia.

O suporte estrutural, antes fornecido pelo quiosque, agora fica por conta de um fio de metal cromado que complementa tematicamente a obra. A escultura é iluminada e o novo fio cromado reflete as luzes da cidade ao redor à noite, enquanto sobe e desce pelas casas dos botões.

“Queríamos ter uma certa sensação dinâmica, de que ela realmente parecesse estar prestes a se amarrar ao tecido da cidade”, diz Peter Vikar, diretor de design físico da Local Projects.

Crédito: Alexandre Ayer/ @DiversityPics/ Garment District Alliance

A Local Projects trabalhou com os fabricantes UAP na reforma da escultura, que agora é chamada de Big Button. A agulha de aço inoxidável de 9,7 metros é do mesmo material da escultura original.

O botão foi reformulado e mudou de preto escuro para amarelo brilhante. Adkisson explica que isso é uma homenagem ao esquema de cores do sistema de trânsito do início dos anos 1900, que transportava muitos trabalhadores de suas casas, no Brooklyn e no Queens, até o Garment District.

Crédito: Alexandre Ayer/ @DiversityPics/ Garment District Alliance

O processo de remodelação da escultura está longe de ser simples como a troca de um botão de camisa. O longo cronograma de seis anos do projeto é um reflexo dos desafios da pandemia, mas também dos jurisdicionais.

Parte da escultura original ficava em terreno privado e parte em uma área que pertence à da cidade. Foi a forma encontrada para garantir que ela não seria demolida por algum futuro proprietário de terras que odiasse botões.

A nova escultura continua nessa "fronteira" entre terrenos, com a agulha e os fios tocando partes públicas e privadas da cidade. É uma parte invisível do projeto que, como seus novos suportes estruturais, garantirá que a escultura permaneça como um marco da história do bairro.


SOBRE O AUTOR

Nate Berg é jornalista e cobre cidades, planejamento urbano e arquitetura. saiba mais