Como o New York Times está conquistando uma nova geração de leitores
Celebrando seu quinto aniversário, o "New York Times for Kids", versão infantil do jornal distribuída aos domingos, é uma prova de que o impresso não morreu
Nada levava crer que o "New York Times for Kids" teria algum futuro.
Afinal, estamos falando de uma edição impressa voltada para crianças de uma geração digital. Um jornal em seu formato tradicional, com folhas grandes – criado com a curiosa intenção de sobreviver.
Talvez seja uma questão de sorte que ele tenha conquistado o seu público-alvo, considerando que sempre foram os adultos que andaram com jornais embaixo do braço.
A brilhante publicação voltada para o público infantil está comemorando seu quinto aniversário – e grande parte do seu sucesso se deve ao design.
Originalmente lançada de forma experimental como uma edição especial, em 2017, a publicação foi um sucesso instantâneo entre os leitores. O que era para ser um número só, virou dois. Em 2018, a empresa decidiu torná-lo oficialmente uma seção regular do jornal, saindo no último domingo de cada mês.
A seção Kids chegou em um momento de crescimento para o "The New York Times", que tem visto um aumento constante na receita de assinaturas. Dedicar uma seção aos leitores mais jovens é uma jogada inteligente para conquistar uma nova geração e, ao mesmo tempo, incentivar as pessoas que podem realmente pagar pelo jornal – os pais – a continuar assinando.
Dado o público leitor, os recursos visuais desempenham um papel vital no editorial. Nesse caso, o design – geralmente um componente auxiliar das publicações – é uma força essencial. Mesmo para adultos, o resultado parece inteligente e profissional. E isso tudo é muito bem pensado.
“Como dizem os editores, não subestimamos as crianças. Eu diria a mesma coisa sobre o design e a arte”, diz a diretora de design Deb Bishop. “Dou crédito aos editores, porque o conteúdo é inteligente e, portanto, a arte é inteligente.”
Para esse fim, em vez de contratar ilustradores ou designers especializados exclusivamente em mídia infantil, Bishop traz profissionais que nitidamente trabalham em projetos adultos. O produto final de cada mês é uma publicação sofisticada, que combina muito bem inteligência e irreverência.
Como o design da publicação é inerentemente uma obra em progresso, com o passar dos anos, Bishop e companhia o refinaram e aprimoraram, abraçando o que funciona e evitando o que não funciona.
Quando se trata das capas fascinantes da publicação, cada uma é personalizada de acordo com o destaque central da edição. Bishop pensa neles como cartazes.
“Gosto que eles tenham sempre algum frescor e que sejam algo que as pessoas vão querer guardar”, diz ela. “É muito importante para mim que não seja algo descartável.”
A edição de 26 de fevereiro foi sobre como cultivar um jardim. Como a peça em si tinha relação com a ciência, Bishop queria que a capa fosse mais lúdica. Sua solução: transformar a capa em um pacote de sementes gigantesco, com plantas antropomorfizada (uma estratégia-chave de design), ilustrada por Armando Veve.
Além disso, a equipe deu ao consagrado cabeçalho do jornal uma estética tipográfica saturada de maneira desigual. Brincar com o logotipo em geral é um movimento estratégico no arsenal de design de Bishop.
Isso ajuda os pequenos leitores a abraçar um produto herdado do “mundo adulto” que, de outra forma, poderia parecer hermético para eles. “É muito importante para a criar a marca do que estamos fazendo. Mexemos com o cabeçalho o tempo todo, afundamos, fazemos flutuar, cobrimos com nuvens...”
Bishop acha que o conteúdo das seções para crianças será eventualmente disponibilizado online, mas que também há um grande potencial para uma variedade de outros produtos relacionados surgirem a partir da publicação – jogos, produtos, até mesmo pôsteres das capas produzidos em alta qualidade.
Se esta última ideia se concretizar, os pôsteres manterão o aviso que aparece nas capas do jornalzinho desde o seu lançamento: “Nota do editor: esta seção não deve ser lida por adultos”.