Como seriam os tais “alertas de perigo” recomendados para as redes sociais

Quatro empresas de design imaginam como selos advertindo sobre danos à saúde do usuário poderiam funcionar no TikTok, Instagram, Facebook e Twitter

Crédito: Metalab

Mark Wilson 5 minutos de leitura

Conforme começamos a entender melhor o quanto as redes sociais são prejudiciais para a saúde, políticos e figuras públicas vêm se posicionando contra as grandes plataformas movidas por algoritmos.

É o caso de Vivek Murthy, cirurgião geral dos EUA, a autoridade máxima em saúde pública do país. Recentemente, ele lançou uma campanha para que as redes sociais exibam “alertas de perigo” oficiais, como já acontece em outros produtos, como tabaco e álcool.

Ainda não temos como saber se a campanha de Murthy vai surtir efeito já que, como cirurgião geral, ele só tem autoridade para aprovar a obrigatoriedade da advertência com uma aprovação do Congresso. Mas ele argumenta que esse tipo de aviso poderia ser uma importante intervenção de design. 

"As evidências dos estudos sobre tabaco mostram que os selos de advertência aumentam a conscientização e mudam o comportamento", ele destacou em um  artigo de opinião para o New York Times.

As redes sociais e seus algoritmos são infinitamente mais complexos do que uma simples embalagem de produto.

"Em uma pesquisa recente feita com pais latinos, quando perguntados se uma advertência do cirurgião geral os levaria a limitar ou monitorar o uso das mídias sociais de seus filhos, 76% deles disseram que sim", acrescentou Murthy.

Mas os aplicativos não são como maços de cigarros. As redes sociais e seus algoritmos são infinitamente mais complexos do que uma simples embalagem de produto. Como seriam, então, esses selos de advertência se fossem pensados para as plataformas digitais das redes sociais? 

Para termos uma ideia mais clara, fizemos essa pergunta a profissionais de quatro empresas de design e design criativo. Em um prazo muito curto, eles esboçaram uma série de alertas de perigo, não apenas selos de advertências, mas também intervenções que tentam falar com os adolescentes, sem julgamentos.

QUE TAL FAZER UMA PAUSA NA ROLAGEM DE TELA?

Proposta do Metalab

"Em vez de incluir um rótulo ou selo de advertência apenas na abertura do aplicativo, identificamos momentos importantes na experiência do usuário a fim de estimular a reflexão sobre os potenciais efeitos colaterais de continuar arrastando a tela durante muito tempo, de fazer determinados comentários, de postar por impulso etc.

Essa forma de advertir o usuário não perturba nem incomoda excessivamente, mas, ainda assim, chama a atenção.

Crédito: Metalab

Ficar arrastando o dedo para cima infinitamente e sem refletir muito é a nossa tendência. Por isso, achamos importante garantir que o alerta de perigo não fosse simplesmente descartado, sendo arrastado para cima. Assim, criamos emblemas visuais que lembram a textura do vidro, indicando a fragilidade e o valor da plataforma.

Essas advertências chamam a atenção e trazem o foco para mensagens curtas e simpáticas, incentivando o controle de comportamentos não saudáveis e a mudança de mentalidade."

SEM LETRAS MIÚDAS

Proposta de Cody Mindling, diretor de arte sênior da PXP

"Existe maneira melhor de interromper a rolagem infinita de conteúdo viciante do que com interrupções surpreendentes no meio da tela? O espectador precisa confrontar, preto no branco, esses problemas provocados pelas redes sociais.

Crédito: PXP

Usando a tecnologia existente nessas plataformas, poderíamos enxergar esses problemas aparecendo da mesma forma que um anúncio pago seria exibido, em vez daqueles botões dizendo 'compre agora'. Assim, conseguiríamos orientar o usuário a buscar ajuda."

WI-FI NUCLEAR

Proposta de Richard Supriano, designer da BBH USA

"A inspiração por trás deste selo de advertência vem do símbolo clássico de aviso de risco nuclear. O design adota a forma do símbolo nuclear e, ao mesmo tempo, o mescla com faixas de Wi-Fi, para remeter às redes sociais. Observando outros sinais de cuidado/ aviso, percebe-se que o ponto de interrogação é muito utilizado nesses casos, simbolizando cautela. 

Crédito: BBH USA

Quando combinado com um gráfico simples de globo, ele enfatiza ainda mais que esse símbolo tem a ver com redes sociais e seus perigos globais, dada sua capacidade de se conectar instantaneamente com qualquer pessoa. 

A segunda metade do selo de advertência brinca com o meme popular em que um agente do FBI está observando você e o que você faz nas redes sociais. A abordagem é menos séria e mais divertida, porque acredito que uma postura bem-humorada pode fazer com que as pessoas se interessem, em vez de simplesmente rolar a tela."

ROLAGEM SEGURA

Proposta da Huge

"Nunca na história nenhum adolescente gostou que alguém dissesse a ele o que fazer. Mas eles escutam se a mensagem for na linguagem deles, se não for acusatória e se não fizer com que eles se sintam mal.

Aproveitando a tendência de nostalgia por momentos antigos da música, da moda e das marcas, esta proposta usa reviravoltas lúdicas em expressões antigas, estilos visuais e cores para criar momentos divertidos e que fazem o polegar parar, ajudando crianças e jovens a ficarem muito mais atentos aos seus feeds

Crédito: Safe Scroll

Para a maioria de nós, que temos idade suficiente para nos lembrar dos selos de advertência em discos e outros materiais de mídia e entretenimento, esse é um lembrete irônico de uma época inocente, que se encaixa no que essa geração ama sobre o passado (em termos culturais).

É um empurrãozinho divertido e amigável para os mais novos se identificarem. Usaremos o movimento de polegares em diferentes tons para direcionar o usuário a deslizar para baixo para sair da tela de advertência após um período definido.

Ele também faz uma referência aos antigos anúncios de utilidade pública, com ruído e desfoque, além de fontes compactadas em negrito para transmitir a mensagem em grande estilo."

Com a colaboração de Liz Stinson e Hunter Schwarz.


SOBRE O AUTOR

Mark Wilson é redator sênior da Fast Company. Escreve sobre design, tecnologia e cultura há quase 15 anos. saiba mais